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| Travessia dos Alpes pelo exercito de Anibal. |
Terceira Guerra Púnica (149–146 a.C.): Delenda Carthago
Apesar do enfraquecimento cartaginês, Roma não se deu por satisfeita. No Senado, a frase “Delenda Carthago” (“Cartago deve ser destruída”) ecoava como um mantra. Temendo qualquer possibilidade de recuperação do antigo rival, Roma encontrou um pretexto para iniciar o ataque final.
O cerco durou três anos. Quando as muralhas de Cartago finalmente caíram, os romanos promoveram uma destruição minuciosa e sistemática da cidade: rua por rua, casa por casa. Os sobreviventes foram escravizados ou vendidos, e Cartago deixou de existir como potência. Em seu lugar, Roma estabeleceu uma nova província, selando de vez sua supremacia sobre o Mediterrâneo.
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| Cerco e destruição de Cartago |
b) Período Romano
Reconstrução: Cartago foi reconstruída como uma próspera cidade romana, tornando-se um dos principais centros do império. Os agricultores cartagineses produziam cereais, azeite e vinho, essenciais para Roma. Cartago se tornou uma importante fonte de abastecimento para o imperio.
Os romanos promoveram a colonização do território, trazendo camponeses e trabalhadores romanos e italianos que se integraram com o povo bérbere para desenvolver a região. Eles introduziram práticas agrícolas romanas e desenvolveram a produção de azeite e grãos, atividades já existentes, mas que ganharam escala com a organização romana.
c) Transição após a queda de Roma
Com a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C., a antiga região de Cartago mergulhou em um período de instabilidade e transformação. No século V, Cartago foi conquistada pelos Vândalos, um povo germânico que, liderado por Genserico, fundou ali o Reino Vândalo e fez da cidade sua capital. Durante aproximadamente cem anos, os vândalos dominaram a região, controlando rotas comerciais estratégicas do Mediterrâneo e tornando-se uma força relevante no cenário pós-romano do norte da África.
No entanto, essa hegemonia chegaria ao fim em 533 d.C., quando o general Belisário, servindo ao imperador bizantino Justiniano I, lançou uma poderosa ofensiva para retomar antigas províncias do extinto Império Romano do Ocidente. Cartago então foi incorporada ao Império Bizantino e permaneceu sob seu domínio por mais de um século, até ser conquistada pelos árabes no final do século VII. Assim, o território passou por diferentes mãos antes de entrar em uma nova era sob influência islâmica.
d) Conquista Islâmica (século VII): A conquista de Cartago pelos árabes aconteceu em 698 d.C., marcando um episódio decisivo na expansão muçulmana pelo norte da África. Na época, Cartago ainda figurava como um dos principais centros do Império Bizantino na região, sendo alvo estratégico do Califado Omíada.
Sob o comando de Hasan ibn al-Nu'man, os exércitos árabes organizaram uma ofensiva sistemática contra a presença bizantina. Após diversas batalhas e uma intensa campanha de cerco, as forças islâmicas conseguiram suplantar a feroz resistência dos bizantinos e entrar na cidade. Cartago foi então saqueada e, temendo novos contra-ataques, os árabes decidiram destruir suas fortificações e instalações portuárias, impedindo que o local voltasse a ser um bastião do cristianismo ou da resistência imperial.
A queda de Cartago teve grande impacto histórico: consolidou o domínio muçulmano sobre o norte da África, acelerando o processo de islamização e arabização da região. A antiga metrópole do Mediterrâneo foi ofuscada, e o centro do poder e da cultura local deslocou-se para novas cidades fundadas sob administração árabe, como Kairouan, que logo se tornou um dos mais importantes polos religiosos e culturais do Magrebe.
Assim, a tomada de Cartago marcou o fim definitivo de uma era e o início de uma nova fase para o norte africano, agora sob a influência do mundo islâmico.
e) Tunis após a Conquista Islâmica
Após a conquista islâmica, Túnis floresceu como um importante centro de ensino religioso, cultura e comércio no norte da África. Durante o governo da dinastia Aghlábida (séculos IX e X), a cidade destacou-se especialmente como polo intelectual e espiritual, com a criação de madraças, mesquitas e centros de estudos islâmicos que atraíam sábios e estudantes de várias regiões.
Esse período foi marcado também por grande prosperidade comercial: Túnis tornou-se uma peça vital nas rotas do Mediterrâneo, conectando o Magrebe às principais cidades portuárias do mundo islâmico e da Europa. A estabilidade proporcionada pelos califados permitiu o florescimento de mercados, artes e arquitetura, transformando a cidade em referência não só religiosa, mas também econômica e cultural para todo o Magrebe.
Com o tempo, Túnis consolidou-se como capital regional e exemplo de convivência entre tradição islâmica e vitalidade urbana, influenciando por séculos a história do norte africano.
f) Protetorado Francês
O período do protetorado francês na Tunísia (1881–1956) marcou profundas transformações no país. Em 1881, após a assinatura do Tratado do Bardo, a França estabeleceu um protetorado, assumindo o controle militar, econômico e administrativo sobre a região, embora mantendo formalmente o bey local como chefe de Estado.
Durante esses 75 anos de domínio, a influência francesa deixou marcas duradouras na política, na educação, na arquitetura e nos costumes tunisianos. Investimentos em infraestrutura, o crescimento de cidades como Túnis e Sfax, além do surgimento de uma elite escolarizada à moda ocidental, conviveram com a expropriação de terras, tensões sociais e o enfraquecimento das estruturas tradicionais locais.
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| Habib Bourguiba, líder tunisiano, fonte Wikipedia |
O sentimento de insatisfação e resistência cresceu ao longo das décadas, levando à formação de importantes movimentos nacionalistas, como o partido Neo-Destour sob a liderança de Habib Bourguiba. Após anos de mobilização popular, greves, protestos e negociações diplomáticas, a Tunísia finalmente conquistou sua independência da França em 1956, abrindo caminho para uma nova fase da história nacional.
g) Situação Econômica Atual
Atualmente, Túnis, assim como a Tunísia em geral, enfrenta uma série de desafios econômicos estruturais, incluindo altas taxas de desemprego, especialmente entre os jovens e graduados, e a necessidade de avançar com reformas profundas para dinamizar a economia. O país lida ainda com questões como inflação, déficits fiscais e dependência de setores tradicionais.
Apesar dessas dificuldades, o turismo segue sendo um dos pilares da economia tunisiana, impulsionado pelo patrimônio histórico e cultural de Túnis, suas antigas medinas, monumentos islâmicos, e sítios arqueológicos que atraem visitantes do mundo todo. O desenvolvimento do setor de serviços, o comércio regional e o potencial para investimentos em tecnologia e energias renováveis também têm chamado a atenção como caminhos para diversificação e crescimento econômico futuro.
No entanto, para garantir maior estabilidade e prosperidade, o país segue empenhado na busca por reformas institucionais, no estímulo ao empreendedorismo e na criação de oportunidades para suas novas gerações.
h) Situação Religiosa Atual
A Tunísia é um país majoritariamente muçulmano, com a vasta maioria de sua população seguindo a tradição sunita do Islã. Apesar disso, o país preserva pequenas, mas historicamente significativas, comunidades cristãs e judaicas, que continuam atuantes, sobretudo em Túnis e nas ilhas de Djerba.
A Constituição tunisiana reconhece o Islã como religião oficial do Estado, ao mesmo tempo em que assegura a liberdade de crença e de prática religiosa para seus cidadãos. Na prática, lugares de culto cristão e judeu funcionam de forma regular, e importantes celebrações dessas comunidades são respeitadas. No entanto, existem algumas restrições: a divulgação pública de outras religiões e a conversão de muçulmanos para outras fés são sensíveis e podem enfrentar limitações diante de normas sociais e legais.
Mesmo assim, a Tunísia é conhecida, dentro do contexto árabe e norte-africano, por sua relativa tolerância religiosa e proteção das minorias, preservando seu patrimônio multicultural e a convivência pacífica entre diferentes tradições ao longo dos séculos.
2. - O que ver em Túnis atualmente
2.1 - Ruínas de Cartago
- Termas de Antonio
As termas de Antonino representam uma das estruturas mais impressionantes das ruínas de Cartago e eram as maiores termas romanas fora de Roma. Construídas entre 145 e 165 d.C., as termas cobriam uma vasta área e incluíam várias salas, como piscinas frias e quentes, além de áreas para exercícios e relaxamento.
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| Termas de Antonio, foto HistoriacomGosto |
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| Termas de Antonio, foto HistoriacomGosto |
- Cemitério de crianças
Conhecido como Tophet, o cemitério de Cartago tem sido objeto de muitas discussões sobre evidência de sacrifícios de crianças ou um cemitérios de crianças que morriam de morte natural.
Este local sagrado era utilizado para rituais e sepultamentos, com evidências arqueológicas de urnas funerárias contendo restos cremados. O fato é que no local estão enterradas muitas crianças do período cartaginês.
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| Cemitério de Crianças, foto HistoriacomGosto |
- Colina de Byrsa
A colina de Byrsa é tradicionalmente considerada o coração da antiga Cartago, onde a cidade foi fundada. Hoje, a colina abriga várias ruínas, incluindo partes do antigo bairro residencial e elementos do fórum romano construído após a destruição de Cartago pelos romanos.
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| Colina de Byrsa, foto HistoriacomGosto |
No topo da colina, está o Museu Arqueológico de Cartago que exibe artefatos e proporciona vistas panorâmicas espetaculares das redondezas, complementando a experiência histórica. Algumas ruínas mais bem conservadas ainda são possíveis de serem encontradas;
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| Ruínas em Cartago, foto HistoriacomGosto |
Catedral de São Luís
A catedral de São Luís foi construída entre 1884 e 1890. O projeto da catedral foi parte dos esforços do protetorado francês em deixar uma marca cultural e religiosa na Tunísia. Foi dedicada a São Luís IX, o rei da França, que morreu durante a Oitava Cruzada perto de Cartago, no século XIII.
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| Catedral de São Luís, foto HistoriacomGosto |
Destaca-se por suas cúpulas ornamentadas e a riqueza dos detalhes presentes nas fachadas e no interior. A catedral foi desativada para culto religioso em 1964, após a independência da Tunísia, quando muitos europeus deixaram o país.
Hoje, o espaço é conhecido como "Acropolium de Cartago" e é usado principalmente para eventos culturais e musicais. A preservação histórica foi mantida, transformando-a em um local de encontro para eventos artísticos e culturais.
2.2 - O Museu do Bardo
O Museu Nacional do Bardo, localizado em Tunis, capital da Tunísia, é um dos museus mais importantes do continente africano e conhecido mundialmente por sua coleção impressionante de mosaicos romanos.
Origem e Localização:
O museu foi fundado em 1888, durante o período do protetorado francês na Tunísia, e está instalado em um antigo palácio beyer, que pertenceu aos governantes otomanos do país. Ele fica situado na cidade de Tunis, cerca de 4 km do centro da cidade, em um belo edifício que combina elementos da arquitetura tradicional árabe-muçulmana com influências europeias.
Especialidade
- O Bardo é especialmente famoso por sua vasta coleção de mosaicos romanos. Estes mosaicos foram encontrados em sítios arqueológicos por toda a Tunísia, que era uma parte importante do Império Romano.
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| Mosaicos no Museu Bardo, foto HistoriacomGosto |
Salões bem decorados
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| Salão principal do antigo palácio, foto HistoriacomGosto |
Coleção e Obras
- Os mosaicos são, sem dúvida, a atração principal do museu, incluindo peças como o “Mosaico de Virgílio”, que retrata o poeta com as Musas.
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| Mosaico de Vigílio, Museu Bardo, foto HistoriacomGosto |
A viagem de Ulisses
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| Viagem de Ulisses, Museu Bardo, foto HistoriacomGosto |
- Além dos mosaicos, o museu possui importantes coleções de esculturas antigas, incluindo estátuas de deuses romanos e figuras mitológicas.
- O museu também abriga coleções de arte islâmica, com objetos que datam desde o início da presença muçulmana na região.
O Museu do Bardo é um ponto de parada essencial para qualquer visita a Tunis, oferecendo uma visão rica da história e cultura tunisiana através dos séculos. É aconselhável verificar os horários de funcionamento e eventos especiais antes de planejar a visita.
O Bardo é não apenas uma vitrine do passado glorioso da Tunísia, mas também uma celebração da duradoura herança cultural da região.
2.3 - Medina de Túnis
A Medina de Túnis é o coração histórico da capital tunisiana e uma das medinas mais bem preservadas do mundo árabe. Fundada no século VII, logo após a conquista islâmica do norte da África, a medina desenvolveu-se rapidamente como centro de comércio, religião e cultura, tornando-se o núcleo primitivo em torno do qual a cidade moderna cresceu.
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| Antiga porta de entrada da Medina, foto HistoriacomGosto |
Ao caminhar por suas ruas estreitas, sinuosas e vibrantes, o visitante encontra uma infinidade de monumentos históricos, que incluem mais de 700 edifícios catalogados, como mesquitas, palácios, madraças (escolas corânicas), mercados (souks) e hammams (banhos públicos). Entre seus maiores destaques estão a imponente Mesquita Zitouna (ou Mesquita da Oliveira), fundada no século VIII, e o Palácio Dar Hussein, exemplo notável da arquitetura tradicional tunisiana.
A medina não é apenas um museu a céu aberto: ela permanece viva, habitada e repleta de atividades. Os souks oferecem de tudo, desde especiarias e tecidos até joias e tapetes. Artesãos mantêm técnicas ancestrais em oficinas que passaram de geração em geração. O ambiente multicultural mistura influências islâmicas, andaluzas, otomanas e até europeias.
Fotos da Medina - HistoriacomGosto
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