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sábado, 26 de julho de 2025

Granada: A Jóia da Al-Andalus e a Reconquista da História

I. Introdução: As Belezas de Granada

Postada como uma joia nos pés da Serra Nevada e banhada pelos rios Genil e Darro, Granada é uma cidade que encanta todos os que a visitam. Sua singular combinação de riqueza cultural, história vibrante e beleza natural faz dela um dos principais destinos históricos da Península Ibérica. Ao caminhar por suas ruas, é impossível não se maravilhar com a Alhambra, um dos mais impressionantes palácios do mundo islâmico, e com o charme exótico do bairro Albaicín, onde o passado medieval parece ter sido esculpido em cada pedra.

Alhambra, foto de @Trofoto em Dreamstime.com

Granada não é apenas um lugar de contemplação visual, mas também um lugar onde o passado vive intensamente. É um convite ao fascínio pela fusão de culturas — romana, visigoda, árabe e cristã — que moldaram durante séculos uma cidade onde nasceram impérios e onde reis e sultões tomaram decisões de mudar o curso da história.


II. - Resumo Histórico


II.1 - A Fundação de Granada e os Primeiros Povoadores

As origens de Granada remontam a tempos antigos. Embora o local tenha sido povoado desde o Neolítico, foi sob os íberos e romanos que surgiram os primeiros traços urbanizados de uma cidade. 


A Dama de Elche, foto wikipedia

Período Romano (aproximadamente 200 a.C. - 500 d.C.)

Em tempos romanos, a área era conhecida como Illiberis, uma cidade florescente dentro da província da Bética. Estes primeiros colonizadores deixaram traços como estradas, sistemas de irrigação e a introdução de vinhedos e olivais.

Período Visigodo (aproximadamente 500 d.C. - 711 d.C.)

Com o colapso do Império Romano, Granada foi conquistada pelos vândalos e, mais tarde, pelos visigodos, por volta do século V. Durante a era visigoda, o cristianismo começou a consolidar-se como religião dominante em toda a Península, marcando uma transição importante nos valores culturais e religiosos da região. Reis visigodos como  Leovigildo e Recaredo foram importantes na consolidação do poder visigodo na Espanha.

Os Visigodos

II.2  - A Conquista Árabe e a Ascensão de Al-Andalus (711 d.C.)


Em 711 d.C., os exércitos muçulmanos liderados por Tariq ibn Ziyad cruzaram o estreito de Gibraltar e rapidamente dominaram grande parte da Península Ibérica. Granada, então integrada à província de Al-Andalus, tornou-se um símbolo do esplendor cultural islâmico. Durante essa fase inicial, Granada foi conhecida como Ilbira, mas seu centro político e econômico foi gradualmente transferido para o atual local da cidade, graças a uma posição estratégica mais defensável.

Tariq Ibn Zyad, site ensinarhistoria.com.br


No século XI, com a fragmentação do Califado de Córdoba, Granada tornou-se a capital do Reino Taifa de Granada, sob a dinastia zírida. Este foi o início do auge da cidade. O bairro de Albaicín nasceu nesse período como centro habitacional e militar. Além disso, foram introduzidos sistemas de irrigação revolucionários, que permitiram transformar Granada em um local fértil e produtivo.


II.3 - A Era de Ouro Islâmica: Cultura, Ciência e Arte (1238 a)


A cidade de Granada brilharia de forma ainda mais intensa com a chegada dos nassáridas em 1238, fundadores do Reino de Granada, que se manteve como o último estado muçulmano na Península até a Reconquista. Sob a liderança de emires como Muhammad I, iniciou-se a construção da monumental Alhambra, um complexo de palácios e fortificações que simboliza o auge da arquitetura islâmica.

Alhambra, foto @Kasto80 em dreamstime.com


O Reino de Granada tornou-se um farol de ciência, arte e tolerância religiosa. Judeus, cristãos e muçulmanos coexistiam em relativa harmonia, compartilhando conhecimentos nas áreas de matemática, astronomia, medicina e filosofia. A universidade nazarita promoveu o estudo de textos clássicos de autores como Aristóteles, traduzidos para o árabe.

No entanto, essa era dourada também enfrentava tensões. Granada sobrevivia politicamente à custa de acordos financeiros (os chamados parias) com os reinos cristãos do norte, adiando o inevitável avanço da Reconquista.


II.4 - A Reconquista de Granada


O destino de Granada mudou radicalmente no final do século XV. Em 1482, o então emir da cidade, Boabdil (Muhammad XII), enfrentava não apenas ameaças externas, com o avanço dos Reis Católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão, mas também conflitos internos com outros membros de sua dinastia.


A Rendição de Granada, Francisco Pradilla, 1882, Senado da Espanha, foto wikipedia


Após uma campanha de 10 anos que envolveu cercos como o de Málaga e vitórias fundamentais como a captura de Ronda, os Reis Católicos cercaram Granada em 1491. Em 2 de janeiro de 1492, Boabdil, sem possibilidades de resistência, entregou as chaves da cidade, encerrando assim o domínio islâmico na Península.


II.5 - O Legado da História

A conquista de Granada marcou o fim de uma era de coexistência religiosa que, embora turbulenta, havia gerado avanços culturais impressionantes. Infelizmente, a Reconquista trouxe consigo a Inquisição, que forçaria judeus e muçulmanos a se converterem ao cristianismo ou abandonarem a Espanha.

As marcas desse passado ainda vivem em Granada hoje. A Alhambra, os banhos árabes e as ruínas medievais não são apenas monumentos, mas testemunhas de eras de brilho, destruição e renascimento.


III. - O que ver em Granada - Essencial


III. 1. Alhambra
  • Considerada uma das maiores obras da arquitetura islâmica no mundo, é o símbolo máximo de Granada e de sua Era de Ouro islâmica.
Alhambra, foto HistoriacomGosto


  • Construída no século XIII e ampliada por diversos sultões da dinastia nasrida, como Muhammad I.
Palácio em Alhambra, foto HistoriacomGosto


  • Palácios, torres, jardins (como o Generalife) e fortificações que mostram o poder da engenharia, arte e cultura árabe.
foto HistoriacomGosto
  • Bem preservada, é um Patrimônio Mundial da UNESCO e recebe milhões de visitantes anualmente.
Alhambra, foto HistoriacomGosto

Alhambra, foto HistoriacomGosto



III. 2. Generalife

  • Era o palácio de verão dos sultões nasridas, projetado como um paraíso na Terra.
Generalife visto de Alhambra, foto HistoriacomGosto

  • Construído no século XIII.
Generalife, foto de @Tomasz Czajkowski em dreamstime.com
  • Jardins deslumbrantes, fontes e terraços com vistas incríveis da cidade.
Generalife, foto de @Neirfy em dreamstime.com


  • Um dos jardins históricos mais bem cuidados da Europa.
Generalife, foto de Peter Arpers em dreamstime.com

III. 3-  Bairro Albaicín

  • Antigo bairro mourisco, é o coração do passado islâmico de Granada.
Albacin, foto de https://alhambragranada.it/albaicin.html


  • Desenvolvido durante a dinastia zírida (século XI).
  • Ruas estreitas, casas brancas com pátios andaluzes e vistas espetaculares da Alhambra.
  • Uma área histórica vibrante e charmosa.


III. 4 - Catedral de Granada

A Catedral de Granada, oficialmente chamada de Catedral da Encarnação de Granada (Catedral de Santa María de la Encarnación, é uma das joias mais importantes do Renascimento espanhol. Localizada no coração de Granada, na Andaluzia, Espanha, ela exibe uma fusão de estilos arquitetônicos que refletem sua longa história de construção e sua importância cultural.

É um marco da Reconquista e da transição para o cristianismo. Foi construída por ordem dos Reis Católicos a partir de 1523.
  • Fachada
Executada pelo arquiteto Alonso Cano, a fachada principal apresenta traços barrocos, com um toque dinâmico que contrasta com a pureza e as formas geométricas mais simples do interior.


Fachada da Catedral de Granada, foto HistoriacomGosto

  • Capela Mor
Um impressionante exemplo de arquitetura renascentista, com uma capela-mor majestosa.


Capela Mor da Catedral de Granada, foto HistoriacomGosto


  • Interior com colunatas brancas de pé direito altíssimo
O interior da catedral é marcado pelas imponentes colunas brancas, que sustentam o teto de pé direito muito alto, criando uma sensação de monumentalidade e grandeza. As colunas coríntias, recobertas de mármore branco, são um exemplo claro da influência renascentista e geram um jogo de luz e sombra que valoriza ainda mais o espaço interno.

Interior Catedral de Granada com colunas brancas, foto HistoriacomGosto
  • Atualmente é um centro religioso ativo e um ponto turístico.

III. 5 - Capela Real

  • Túmulos dos Reis Católicos, Isabel de Castela e Fernando de Aragão.

A Capela Real foi ordenada pelos próprios Reis Católicos em 1504, com o intuito de ser seu lugar de descanso eterno. Eles determinaram que queriam ser sepultados em Granada por causa do simbolismo da conquista da cidade em 1492. A tomada de Granada foi o marco final da Reconquista, encerrando quase oito séculos de domínio muçulmano na Península Ibérica.

Além disso, os Reis Católicos queriam que sua sepultura simbolizasse a união das coroas de Castela e Aragão, o fortalecimento do cristianismo na Espanha e o grande feito da conquista de Granada, que representava o pleno poder monárquico. A localização em Granada, como a última conquista de seu reinado, reforçava o peso histórico e espiritual desse momento.

  • Arquitetura da Capela Real
Construída entre 1505 e 1517 A estrutura da Capela Real segue um esquema arquitetônico típico do estilo gótico tardio, mas com características únicas que revelam a importância política e espiritual do monumento.
         Fachada da Capela Real, foto Jozef Sedmak em dreamstime.com


Obs: Não é permitido tirar fotos no seu interior

III.6 - Corral del Carbón


O Corral del Carbón, localizado em Granada, Espanha, é um dos edifícios civis mais importantes que restam do período muçulmano na cidade. Trata-se de uma construção histórica que originalmente servia como um alhóndiga, ou seja, um mercado de cereais onde comerciantes e agricultores podiam armazenar, comprar e vender grãos. Além disso, o local também funcionava como hospedaria para mercadores que visitavam a cidade, sendo um ponto de parada essencial para as caravanas comerciais da época.

Data de Construção

O Corral del Carbón foi construído no início do século XIV, durante o reinado da dinastia Nazarí, por volta do ano de 1336. Nesse período, o Reino de Granada era o último grande baluarte muçulmano na Península Ibérica, sob o domínio dos reis nazarís que governavam a região.


Entrada do Corral del Carbon, foto HistoriacomGosto

Origem do Nome 

O nome Corral del Carbón foi adotado com o passar do tempo, já que o edifício chegou a ser utilizado como depósito de carvão durante a época cristã, provavelmente depois de perder sua função original. Atualmente ele é um dos edifícios mais bem preservados da época islâmica na Espanha e é usado para eventos culturais e exposições.


Interior do Corral del Carbon, foto HistoriacomGosto


III.7 -  Mosteiro de La Cartuja

O Mosteiro da Cartuja de Granada, ou Convento dos Cartuxos, é uma das joias artísticas e arquitetônicas mais impressionantes de Granada. Este mosteiro, pertencente à Ordem Cartuxa, combina elementos do Renascimento e do Barroco, oferecendo uma riqueza decorativa sem igual.


Convento dos Cartuxos, Granada, foto HistoriacomGosto

A construção do Convento dos Cartuxos teve início em 1506, pouco depois da conquista de Granada pelos Reis Católicos em 1492 (que marcou o fim do domínio muçulmano na Península Ibérica).

A Ordem Cartuxa instalou-se na cidade a convite dos reis católicos, como parte do processo de consolidação do cristianismo na região e da promoção de uma vida religiosa contemplativa. A localização do convento, um lugar tranquilo fora das muralhas da cidade, favorecia a reclusão e a meditação espiritual, características essenciais para os monges cartuxos.


Igreja do Convento dos Cartuxos, Granada, foto HistoriacomGosto


Entretanto, a construção do mosteiro demorou mais de 300 anos para ser concluída, avançando lentamente devido às guerras, falta de recursos e mudanças políticas, só sendo finalizada no início do século XVIII.

Arquitetura

A arquitetura reflete uma fascinante transição de estilos artísticos, com elementos do Renascimento, Manuelino (português) e do Barroco Espanhol, o último predominando em seu design final.


Igreja do Convento dos Cartuxos, Granada, foto HistoriacomGosto


A igreja é o ponto alto do mosteiro e representa o auge do Barroco Espanhol em sua expressão mais elaborada. Alguns detalhes que chamam a atenção:

  • Altar-mor: Uma verdadeira obra-prima do Barroco, repleta de talha dourada extremamente detalhada e pinturas religiosas. O altar impressiona por sua riqueza ornamental.
  • Cúpula: A cúpula da igreja é decorada com afrescos e alto-relevos que descrevem cenas bíblicas e angélicas, com uma profundidade visual incrível.
Igreja do Convento dos Cartuxos, Granada, foto HistoriacomGosto


III.8 -  Sacromonte


O Sacromonte, por vezes também chamado Sacramonte, é um bairro tradicional da zona oriental da cidade de Granada. É um dos seis bairros que constituem o distrito urbano do Albaicín e limita com os bairros do Albaicín, São Pedro, Realejo-San Matías, El Fargue e Haza Grande. Em 2009 tinha 578 habitantes.

Sacromonte, foto Superchilum em wikipedia

É o bairro tradicional dos ciganos granadinos, que se instalaram em Granada após a conquista cristã da cidade em 1492. É um dos bairros mais pitorescos da cidade, pela paisagem e pelas suas casas trogloditas, instaladas em grutas caiadas que servem de habitação, onde se ouvem toques rasgados de guitarrascantes e quejíos (cantos tradicionais andaluzes), que acompanham as zambras (danças tradicionais ciganas de flamenco), e que se tornaram um dos reclamos turísticos mais célebres de Granada

Abadia do SacroMonte

Além das numerosas grutas, o principal monumento do bairro é a Abadia do Sacromonte, construída pelo arcebispo Pedro de Castro y Quiñones no século XVII no cimo da colina, onde apareceram as supostas relíquias e outros vestígios dos que teriam sido os primeiros cristãos de Granada e evangelizadores da Bética, entre eles São Cecílio, mártir e primeiro bispo da cidade, ainda no século I, e outras figuras apostólicas, companheiros de Santiago. Anexo à abadia encontra-se também o Colégio do Sacromonte, fundado igualmente por Pedro de Castro

Complexo da Abadia de Sacromonte, foto Pepepitos em wikipedia

III.9 -  Plaza Nueva

A Plaza Nueva foi construída no século XVI, após a conquista de Granada pelos Reis Católicos em 1492, marcando o fim do domínio islâmico na Península Ibérica. A praça foi feita para criar um espaço público amplo em uma área que antes continha o leito do rio Darro. Para isso, o rio foi parcialmente coberto, permitindo a criação de um espaço central para a vida cotidiana e atividades administrativas, artísticas e sociais.



Durante os séculos seguintes, a praça serviu como um importante ponto de convivência e um cenário para eventos públicos e celebrações. Foi também espaço de tribunais de justiça, já que o edifício da Chancelaria de Granada (a Real Chancillería) foi construído ali, consolidando sua importância política.

O que há ao redor

A Plaza Nueva está cercada de edifícios históricos e atrações icônicas, o que reforça seu papel como ponto de convergência em Granada. Alguns dos marcos mais importantes incluem:

  • Real Chancillería: Um majestoso edifício renascentista construído no século XVI, que serviu como sede do tribunal máximo de justiça durante o período dos Reis Católicos. Hoje, é um dos emblemas arquitetônicos da praça.
Suprema Corte da Andaluzia, foto HistoriacomGosto

  • Igreja de Santa Ana: Localizada ao lado da praça, no início da Carrera del Darro, é uma construção mudejar do século XVI que representa a fusão das influências cristãs e islâmicas após a Reconquista.
Igreja de Santa Ana, foto HistoriacomGosto

  • Carrera del Darro: Um dos passeios mais charmosos de Granada, às margens do rio Darro, começa na Plaza Nueva. Este caminho leva ao Albaicín, um dos bairros mais antigos e pitorescos da cidade, declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO.
Carrera del Darro, foto dreamstime.com

  • Acesso à Alhambra: A Plaza Nueva é também um ponto de partida para chegar à Alhambra, o famoso complexo palaciano islâmico e um dos maiores ícones culturais da Espanha.

10. Puerta de Elvira

  • Por que é importante? Era uma das principais portas defensivas da Granada islâmica.
  • Fundação: Construída durante o governo zírida no século XI.
  • O que ver? A estrutura parcialmente preservada que dá uma visão da engenharia urbana islâmica.
  • Como está hoje? Uma entrada simbólica para o bairro Albaicín.

11. Madraça de Granada

  • Por que é importante? Foi a primeira universidade islâmica da cidade.
  • Fundação: Construída no século XIV pelo sultão Yusuf I.
  • O que há lá? Restos da antiga sala de orações e belas decorações islâmicas.
  • Como está hoje? Uma joia cultural preservada no centro da cidade.

12. Palácio de Dar al-Horra

  • Por que é importante? Foi a residência da mãe de Boabdil, o último emir de Granada.
  • Fundação: Construído no século XV.
  • O que ver? Um palácio com belas varandas e jardins internos.
  • Como está hoje? Um edifício histórico bem restaurado.

13. Campo del Príncipe

  • Por que é importante? Importante pelo seu contexto histórico e espaço urbano pós-Reconquista.
  • Fundação: Criada no século XV pelos Reis Católicos para festividades.
  • O que há lá? Uma praça histórica cheia de bares típicos e visitantes no coração da cidade.
  • Como está hoje? Um local popular entre moradores e turistas.

14. Banhos Árabes El Bañuelo

  • Por que é importante? Um dos banhos públicos islâmicos mais antigos e bem conservados da Espanha.
  • Fundação: Data do século XI, período zírida.
  • O que ver? Sua estrutura abobadada e o sistema de aquecimento, que ainda impressionam.
  • Como está hoje? Um testemunho notável da vida cotidiana em Al-Andalus.

III. - 15 Parque da Ciência de Granada






  • Por que é importante? Um reflexo da modernidade e do desenvolvimento científico da cidade.
  • Fundação: Inaugurado em 1995.
  • O que há lá? Exposições de ciência, tecnologia e um planetário.
  • Como está hoje? Um centro educacional interativo e uma atração favorita das famílias.