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quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Fez, a capital imperial do Marrocos

 1. - Introdução - A Fundação de Fez e Seus Primeiros Habitantes


Antes mesmo da chegada do Islã, a região onde Fez floresceria já era habitada por diversas tribos berberes, como os Sanhaja, Zenata e Masmouda. Essas comunidades viviam em assentamentos dispersos, aproveitando as terras férteis do vale do rio Fez. Não havia, contudo, uma cidade unificada ou um grande centro urbano como o que viria a ser construído.

 Visão geral de Fez, foto de em dreamstore.com

A história de Fez como a conhecemos começa com a chegada da Dinastia Idrisid.


2. - Resumo Histórico


2.1 - Dinastia Idrisid (789 - 974 d.C.): O Nascimento da Capital Espiritual

Após a Revolução Abássida (750 d.C.), que derrubou os Omíadas e estabeleceu o Califado Abássida em Bagdá, os descendentes de Ali ibn Abi Talib (genro e primo do Profeta Maomé, e quarto califa do Islão), conhecidos como Alids, foram vistos como uma ameaça ao novo poder. Os Abássidas temiam que os Alids, por sua linhagem sagrada, pudessem reunir apoio e contestar sua legitimidade.

Um evento crucial foi a revolta Alid em Meca, que resultou na brutal Batalha de Fakhkh. Muitos Alids foram massacrados, e os que sobreviveram tiveram que fugir para escapar à perseguição.

Entre os poucos sobreviventes estava Idris ibn Abd Allah al-Kamil, um descendente direto de Hasan, neto do Profeta Maomé. Para salvar sua vida e a linhagem de sua família, Idris I fugiu do Oriente Médio, atravessando o Egito e o Magrebe (norte da África).

A Escolha do Marrocos e a Ascensão de Idris I

Idris I encontrou refúgio na região do Magrebe, que na época era um mosaico de tribos berberes diversas e independentes, muitas das quais haviam abraçado o Islam, mas mantinham uma forte autonomia local. O poder abássida no Magrebe era fraco e descontínuo, e havia diversas rebeliões e movimentos sectários.

Abertura Política: Essa fragmentação e a distância de Bagdá tornavam o Magrebe um local ideal para Idris I estabelecer um novo centro de poder independente.

Apoio Berber: Ele foi acolhido pela poderosa tribo berbere Awraba, que residia perto da antiga cidade romana de Volubilis (Walili, em árabe). Reconhecendo sua linhagem sagrada e seu carisma, os Awraba, liderados por Abu al-Hassan Musa ibn Abi al-Afia, o proclamaram Imã em 789 d.C.

Berber no deserto, foto HistoriacomGosto


Legitimidade Religiosa: A descendência de Idris I do Profeta Maomé conferia-lhe uma imensa autoridade religiosa (baraka), o que foi fundamental para sua aceitação e para a unificação das tribos berberes sob sua liderança. Ele se apresentou como um líder justo e piedoso, capaz de trazer ordem e uma forma "pura" do Islão.

A Razão Principal para a Escolha do Local de Fez (e o papel de Idris II)

Idris I iniciou a construção de um assentamento na margem direita do rio Fez, conhecido como Madinat Fas (Cidade de Fez). No entanto, o verdadeiro arquiteto da cidade como uma grande capital foi seu filho e sucessor, Idris II.

Idris I foi assassinado em 791 d.C., supostamente por envenenamento a mando do califa abássida Harun al-Rashid. Seu filho, Idris II, nasceu pouco depois e assumiu o trono ainda criança. Ao atingir a maioridade, Idris II, com sua visão e energia, percebeu que precisava de uma capital que refletisse a ambição de sua nova dinastia e servisse como um centro estratégico e econômico.

A escolha do local para Fez, mais especificamente, foi motivada por várias razões cruciais:

Abundância de Água: O Oued Fez (Rio Fez), com seus afluentes e fontes, garantia um suprimento constante e abundante de água potável para a população e para a irrigação das terras agrícolas circundantes. A água era vital para o crescimento de uma grande cidade, especialmente em uma região semiárida.

Oued Fez (Rio Fez), foto https://ouedaggai.com/


Solo Fértil: O vale do rio Fez possuía terras férteis, ideais para a agricultura, o que garantiria o sustento da população e o desenvolvimento econômico baseado na produção de alimentos. 

Posição Estratégica e Defensável: O local oferecia uma posição naturalmente defensável, rodeada por colinas. Essa topografia facilitava a construção de muralhas e a proteção contra ataques. 

Muralhas em Fez, foto em dreamstime.com


Além disso, Fez estava localizada em um ponto de intersecção de rotas comerciais importantes:

Recursos Naturais para Construção: A região oferecia argila, madeira e pedras, materiais essenciais para a construção das habitações, mesquitas, mercados e infraestruturas necessárias para uma cidade em crescimento.

Visão de Idris II: Idris II não se contentou com um simples assentamento. Ele tinha a visão de construir uma verdadeira metrópole, um centro político, econômico, religioso e cultural que rivalizasse com as grandes cidades do Oriente. Em 808 d.C., ele fundou uma segunda cidade na margem esquerda do rio, Al-Aliya, incentivando ativamente a migração de artesãos, comerciantes, estudiosos e famílias muçulmanas de Kairouan (atual Tunísia) e, crucialmente, de Al-Andalus (Península Ibérica).

- Os imigrantes de Al-Andalus se estabeleceram predominantemente na margem esquerda (Al-Aliya), que ficou conhecida como "Adwat al-Andalus" (bairro dos Andaluzes).

- Os imigrantes de Kairouan e outras partes do Magrebe se estabeleceram na margem direita (Madinat Fas), conhecida como "Adwat al-Qarawiyyin" (bairro dos Kairuaneses).

- Essa imigração trouxe consigo um vasto conhecimento em arquitetura, urbanismo, artesanato, teologia e comércio, impulsionando o desenvolvimento e a sofisticação da cidade.
 
  • Desenvolvimentos Significantes:

- A criação de Fez marcou o nascimento da primeira capital islâmica do Marrocos, um centro de poder e fé.

- Em 859 d.C., duas irmãs, Fatima al-Fihri e Mariam al-Fihri, filhas de um rico comerciante tunisiano, fundaram instituições que mudariam Fez: Fatima fundou a Universidade de Al-Qarawiyyin (inicialmente uma mesquita e centro de ensino) e Mariam a Mesquita de Al-Andalus.

Al-Qarawiyyin é reconhecida hoje como a universidade mais antiga do mundo ainda em funcionamento, solidificando a importância de Fez como um farol do saber islâmico.

Universidade de Al-Qarawiyyin, foto de   em dreamstime.com


A fundação dos Idrisid representou uma secessão do poder abássida, estabelecendo um califado independente no oeste islâmico.

2.2 - O Período Zenata (Séculos X e XI): Fragmentação e Disputa


Após a queda dos Idrisid, Fez entrou em um período de instabilidade. A cidade tornou-se um ponto de disputa entre as grandes potências regionais da época: o Califado Fatímida (do Egito) e o Califado Omíada de Córdoba (na Península Ibérica).

Fez trocou de mãos várias vezes, e o poder foi frequentemente exercido por chefes tribais locais  Zenata, resultando em um período de relativa estagnação em termos de grandes construções, com foco maior em fortificações.

2.3 Dinastia Almorávida (1061 - 1146 d.C.): Unificação e Expansão


Os Almorávidas unificaram as duas partes de Fez (Fas al-Bali e Al-Aliya), derrubando as muralhas internas que as dividiam. 

Eles fortaleceram as muralhas externas da cidade, construíram novas pontes e renovaram a infraestrutura urbana, preparando Fez para se tornar uma metrópole de um vasto império. 

A cidade prosperou como um centro comercial e intelectual dentro do império Almorávida, que se estendia desde o Senegal até a Península Ibérica.

A conquista de Fez pelos Almorávidas foi parte de um movimento maior de unificação e expansão do seu império.                  

Lanceiro Almoravida, 
gravura de ru.pinterest.com

2.4 - Dinastia Almóada (1146 - 1248 d.C.): 


Os Almóadas, com sua doutrina religiosa mais rigorosa, destruíram muitas das construções almorávidas que consideravam contrárias aos seus princípios. 

Eles reconstruíram e reforçaram significativamente as muralhas de Fez, dando-lhes a monumentalidade que ainda é visível hoje. 

Embora a capital do império Almóada tenha sido transferida para Marrakech, Fez manteve sua importância como um centro religioso e intelectual, um bastião da ortodoxia e do saber.

Califa Almoada, autor não identificado

 
A conquista Almóada de Fez foi marcada por um cerco violento, que resultou em grande destruição antes da sua subjugação.

2.5 - Dinastia Merínida (1248 - 1465 d.C.): A Idade de Ouro Imperial de Fez


Os Merínidas fizeram de Fez a sua capital imperial, inaugurando o que muitos consideram a "Idade de Ouro" da cidade.

Em 1276, Abu Yusuf Yaqub fundou Fes el-Jdid (Nova Fez), adjacente à antiga medina (Fez al-Bali). Esta nova cidade incluía o majestoso Palácio Real, o Mellah (bairro judeu, inicialmente estabelecido pelos Almóadas, mas expandido pelos Merínidas) e uma grande mesquita, tudo protegido por novas muralhas.

Os Merínidas foram grandes patronos da educação e da arquitetura, construindo inúmeras e belíssimas madrassas (escolas corânicas) que ainda hoje são maravilhas arquitetónicas de Fez: Madrassa Bou Inania, Madrassa Attarine, Medersa Sahrij e Madrassa Saffarine, entre outras. Fez tornou-se o epicentro do saber islâmico no Magrebe.

Houve um grande desenvolvimento urbano, comercial e cultural, com a cidade atraindo estudiosos, comerciantes e artesãos de todo o mundo islâmico. 

A ascensão dos Merínidas consolidou seu poder sobre o Marrocos e Fez, mas também foi marcada por confrontos com os reinos cristãos na Península Ibérica, que contribuíram para o aumento da população de judeus e muçulmanos andaluzes em Fez.


2.6 - Dinastia Wattásida (1465 - 1549 d.C.): Declínio e a Presença Portuguesa


Houve um enfraquecimento do poder central e disputas internas. 

O tempo com os Portugueses: Embora Fez não tenha sido conquistada ou ocupada diretamente pelos portugueses, este período foi marcado pela intensa expansão portuguesa no litoral marroquino. Cidades costeiras como Ceuta, Tânger, Arzila, Safim, Azemmour e Mazagão foram ocupadas ou fortificadas por Portugal. Essa presença gerou grande pressão econômica e militar sobre o reino de Fez. Os Wattásidas tentaram, com pouco sucesso, resistir a esse avanço, o que enfraqueceu ainda mais sua autoridade e abriu caminho para uma nova dinastia.


2.7 - Dinastia Saadiana (1549 - 1659 d.C.): Renascimento e Vitórias Decisivas


Os Saaditas unificaram o Marrocos, expulsando os Wattásidas. Embora Fez tenha perdido seu status de capital principal para Marrakech durante parte do seu reinado, a cidade continuou a ser um importante centro cultural e religioso.

Eles investiram na construção de fortificações para proteger o reino, inclusive Fez, contra a crescente ameaça otomana e cristã.

O comércio transaariano, especialmente de ouro, prosperou sob os Saaditas.

A Batalha de Alcácer-Quibir (ou Batalha dos Três Reis) em 1578 foi um evento definidor. Nela, as forças Saadianas, com algum apoio otomano, derrotaram decisivamente o exército português e seu rei D. Sebastião, que morreu em combate. Esta vitória não apenas cimentou a independência marroquina, mas também encerrou as ambições portuguesas de dominar o Marrocos e marcou um período de grande prestígio para a dinastia Saadiana.

2.8 - Dinastia Alaouite (1666 d.C. - Presente): A Dinastia Reinante

Após um período de anarquia que se seguiu à queda dos Saaditas, os Alaouites emergiram para restaurar a unidade do Marrocos. Fez alternou como capital com Meknès e, mais tarde, Rabat. 

A dinastia Alaouite tem sido a guardiã do patrimônio religioso e cultural de Fez, mantendo e renovando suas mesquitas e medersas. 

A cidade continuou a ser um polo de educação islâmica e de artesanato tradicional. 

A ascensão dos Alaouites marcou o fim da anarquia e o início de uma nova era de estabilidade relativa. A dinastia resistiu a várias tentativas de invasão europeia ao longo dos séculos.

2.9 - Protetorado Francês e Independência (1912 - 1956): Modernização e Luta Nacionalista


Em 1912, o Tratado de Fez foi assinado na cidade, estabelecendo oficialmente o Protetorado Francês sobre o Marrocos, o que trouxe profundas mudanças políticas e sociais.  

Foi durante este período que se construiu a "Ville Nouvelle" (Cidade Nova) fora das muralhas da medina, com infraestruturas modernas, estradas e edifícios de estilo europeu, separada da antiga Fez (Fes al-Bali), que foi preservada como um monumento histórico.  

Fez perdeu seu status de capital política para Rabat, que se tornou a sede administrativa do protetorado.  

A ocupação colonial impulsionou o crescimento do movimento nacionalista marroquino, que culminou na independência do país em 1956.

2.10 - Marrocos Independente (1956 - Presente): Preservação e Continuidade


Após a independência, Fez manteve sua importância como um centro cultural, religioso e espiritual.

Em 1981, a medina de Fes al-Bali foi classificada como Patrimônio Mundial da UNESCO, reconhecendo seu valor histórico e arquitetônico inestimável. Desde então, tem havido um esforço contínuo para a preservação e restauração de seus monumentos.

A cidade continua a ser um centro vibrante de artesanato, educação e turismo, atraindo visitantes de todo o mundo que buscam mergulhar em sua história milenar.

O atual rei do Marrocos, Mohamed VI, é da dinastia Alauita


3. - A Fez de Hoje, o que ver e visitar

3.1. Universidade e Mesquita de Al-Qarawiyyin

Construção: Fundada em 859 d.C. por Fatima al-Fihri, inicialmente como uma mesquita. Evoluiu ao longo dos séculos para se tornar uma universidade.

Governantes na Época: Dinastia Idrisid.

Mesquita e Universidade de Al-Qarawiyyin, foto @Saiko3p em Dreamstime.com


Importância: É considerada a universidade mais antiga do mundo ainda em operação, segundo a UNESCO e o Guinness World Records. Foi um dos maiores centros intelectuais e religiosos do mundo islâmico, atraindo estudantes e estudiosos de todas as partes. Sua biblioteca abrigava manuscritos preciosos. É o coração espiritual e educacional de Fez.

Estado Atual: A mesquita continua ativa e é um local de oração importante. A universidade moderna, embora separada, mantém a tradição de ensino islâmico. Não muçulmanos não podem entrar na sala de orações principal da mesquita, mas podem admirar o pátio e o exterior através das portas abertas.

3.2. Madrassa Bou Inania


Construção: Construída entre 1350 e 1357 d.C.

Governantes na Época: Sultão Abu Inan Faris, da Dinastia Merínida.

Importância: É uma das madrassas (escolas corânicas) mais magníficas de Fez, e a única com um minarete. Sua arquitetura é um ápice da arte merínida, com trabalhos em estuque esculpido, madeira de cedro entalhada, azulejos zellige intrincados e caligrafia árabe. Serviu tanto como escola quanto como mesquita.

Madrassa Bou Inania, foto   em dreamstime.com


Estado Atual: Foi restaurada e está muito bem preservada. É aberta a visitantes (não muçulmanos podem entrar), que podem admirar os detalhes impressionantes e a tranquilidade de seu pátio.

3.3 Madrassa Al-Attarine

Construção: Construída entre 1323 e 1325 d.C.

Governantes na Época: Sultão Abu Said Uthman II, da Dinastia Merínida.

Importância: Nomeada em homenagem aos vendedores de especiarias (attarine) na souk adjacente, esta madrasa é um exemplo sublime da arquitetura merínida. Menor que a Bou Inania, é igualmente impressionante por seus detalhes minuciosos em mármore, cedro e azulejos. Reflete a riqueza cultural e o apreço pela educação dos Merínidas.

Madrassa Al-Atarine, foto  em dreamstime


Estado Atual: Restaurada e aberta ao público. É uma das madrassas mais visitadas e admiradas por sua beleza e atmosfera íntima.

Madrassa Al-Atarine, foto HistoriacomGosto

Madrassa Al-Atarine, foto  HistoriacomGosto

3.4. Curtumes Chouara


Construção: Datam do século XI (período Almorávida), mas com técnicas e estruturas que foram desenvolvidas ao longo dos séculos.

Curtumes_Fez, foto HistoriacomGosto


Governantes na Época: Continuamente em uso através das diversas dinastias, representando uma tradição ancestral.

ImportânciaSão os maiores e mais antigos curtumes do mundo, onde o couro é processado da forma mais tradicional, usando corantes  naturais e métodos seculares. É uma experiência sensorial única (e olfativa!) que demonstra a resiliência das tradições artesanais de Fez.

Estado Atual: Operacional diariamente, com os trabalhadores processando o couro da mesma maneira há séculos. Os visitantes podem observar o processo dos terraços das lojas de couro circundantes.

3.5. Bab Bou Jeloud (A Porta Azul)

Construção: A porta atual foi construída em 1913, mas substitui uma porta mais antiga que já existia no mesmo local desde o período Merínida.

Governantes na Época: Período do Protetorado Francês, mas em um local de importância histórica para as dinastias anteriores.

Importância: É o principal portão de entrada para a Medina de Fez al-Bali. Sua fachada azul (voltada para o exterior) e verde (voltada para o interior) é icônica e representa a transição do mundo moderno para o labirinto histórico da medina. É um ponto de encontro e um marco visual da cidade.



Estado Atual: Em excelente estado, funciona como o principal acesso à medina e é um dos locais mais fotografados de Fez.

3.6 Museu Nejjarine de Artes e Ofícios em Madeira (Fondouk Nejjarine)

Construção: O fondouk (estalagem para comerciantes e seus animais) original data do século XVIII.

Governantes na Época: Dinastia Alaouite.

Importância: Este edifício é um magnífico exemplo da arquitetura tradicional marroquina, com um pátio central e galerias de madeira intrincadamente esculpida. Antigamente, servia de pousada para comerciantes e artesãos. Hoje, abriga um museu dedicado à arte da madeira, desde ferramentas antigas a instrumentos musicais e objetos domésticos.

Estado Atual: Foi cuidadosamente restaurado e transformado em um museu. Está muito bem conservado e é um dos museus mais bonitos de Fez, com um café no terraço que oferece vistas da medina.

3.7. Zaouia de Moulay Idriss II


Construção: O santuário foi construído no século IX, mas a estrutura atual do mausoléu e mesquita data de várias reformas, sendo a principal no século XVIII.

Governantes na Época: Diversas dinastias, com renovações significativas sob os Alaouites.

Importância: Abriga o túmulo de Moulay Idriss II, o filho de Idris I e o verdadeiro fundador da cidade de Fez. É um dos locais mais sagrados do Marrocos, um ponto de peregrinação para muçulmanos que buscam bênçãos.

Estado Atual: É uma mesquita e santuário ativo, um local de grande devoção. Não muçulmanos não podem entrar no santuário principal, mas podem observar o movimento e a fachada elaborada.

3.8. Tombs of the Merinids (Túmulos Merínidas)


Construção: Séculos XIII e XIV d.C.

Governantes na Época: Dinastia Merínida.

Importância: Embora os túmulos estejam em ruínas, o local oferece uma das vistas panorâmicas mais espetaculares da medina de Fez, especialmente ao pôr do sol. É onde os sultões Merínidas foram enterrados, e as ruínas que restam dão uma ideia da grandiosidade arquitetônica da época.

Estado Atual: Em ruínas, com apenas algumas paredes e pilares de pedra restantes. O principal atrativo é a vista magnífica da cidade antiga.


3.9. Borj Nord (Fortaleza do Norte)


Construção: Construída em 1582 d.C.

Governantes na Época: Dinastia Saadiana.

Importância: Esta fortaleza imponente foi construída para proteger a cidade e para controlar a população após a conquista Saadiana.

Atualmente, abriga um museu de armas, com uma vasta coleção de armamentos que ilustram a história militar do Marrocos. A vista de suas muralhas é excelente.

Estado Atual: Bem preservada e transformada em museu, acessível ao público.

3.10. Mellah (Bairro Judeu)

  • Construção: Estabelecido no século XIV, mas a maior parte das construções atuais data do século XVII em diante.
  • Governantes na Época: Dinastia Merínida (estabelecimento), e posterior desenvolvimento sob os Alaouites.
  • Importância: Fez abrigava uma das maiores e mais antigas comunidades judaicas do Marrocos. O Mellah é um testemunho da coexistência religiosa e da vibrante cultura judaica que floresceu na cidade por séculos. A arquitetura é distinta, com casas de varandas e janelas viradas para a rua, diferentemente das casas dentro da medina.
  • Estado Atual: A maioria dos judeus deixou Fez, mas o bairro ainda existe, com sua arquitetura peculiar e algumas sinagogas e o cemitério judeu que podem ser visitados.

3.11. Sinagoga Aben Danan

  • Construção: Datada do século XVII.
  • Governantes na Época: Dinastia Alaouite.
  • Importância: É a sinagoga mais proeminente e bem preservada do Mellah de Fez. Serve como um importante lembrete da rica herança judaica da cidade e da diversidade religiosa que caracterizou Fez por muitos séculos.
  • Estado Atual: Restaurada e aberta para visitas, muitas vezes com um guardião que pode contar a história do local.

3.12. Place Seffarine (Praça dos Caldeireiros/Cobreiros)

  • Construção: As oficinas e a praça existem há séculos, com a atividade se concentrando ali desde o período Merínida.
  • Governantes na Época: Atividade contínua através das dinastias.
  • Importância: É um dos poucos locais na medina onde se pode ver artesãos trabalhando o metal ao ar livre, criando peças de cobre e latão marteladas. O som dos martelos batendo no metal é característico. É um centro de artesanato vivo e autêntico.
  • Estado Atual: Totalmente funcional, com oficinas ativas e lojas vendendo os produtos acabados. É um local vibrante e barulhento, cheio de energia.

3.13. Dar Batha Museum

  • Construção: Final do século XIX.
  • Governantes na Época: Dinastia Alaouite, sob o reinado do Sultão Moulay Hassan I.
  • Importância: Originalmente um palácio, foi convertido em museu em 1915 durante o Protetorado Francês. Abriga uma excelente coleção de artefatos marroquinos tradicionais, incluindo cerâmica de Fez (especialmente a cerâmica azul), madeira entalhada, tapetes antigos e instrumentos musicais. O jardim andaluz do palácio é um oásis de tranquilidade.
  • Estado Atual: Muito bem preservado e aberto ao público como museu.

3.14. Mesquita Al-Andalus

  • Construção: Fundada em 859 d.C. por Mariam al-Fihri, irmã de Fatima al-Fihri (fundadora de Al-Qarawiyyin).
  • Governantes na Época: Dinastia Idrisid.
  • Importância: Uma das duas mesquitas originais fundadas no século IX em Fez, servindo o bairro dos imigrantes de Al-Andalus (Península Ibérica). Embora muitas vezes ofuscada pela Al-Qarawiyyin, é historicamente significativa como parte do projeto de Idris II de criar uma cidade próspera e diversificada.
  • Estado Atual: É uma mesquita ativa. Não muçulmanos não podem entrar na sala de orações principal, mas podem ver o exterior.


3.15. Palácio Real de Fez (Dar al-Makhzen)

Palacio Real de Fez, foto  em dreamstime.com

Construção: A construção original data do século XIII (período Merínida), mas o complexo foi extensivamente ampliado e embelezado ao longo dos séculos pelas dinastias seguintes, especialmente pelos Alaouites.

Governantes na Época: Dinastia Merínida (original), Dinastia Alaouite (expansões e atual).


Portas douradas no Palácio Real de Fez, foto  em dreamstime.com


Importância: É uma das residências oficiais do Rei de Marrocos em Fez. Embora não esteja aberto ao público, suas sete portas monumentais, ricamente ornamentadas com bronze, zellige e madeira de cedro, são um espetáculo à parte e refletem a grandeza da monarquia marroquina.

Estado Atual: O interior é restrito ao público, mas os visitantes podem admirar os magníficos portões do lado de fora. É um marco impressionante da arquitetura real marroquina.


4. - Considerações adicionais





5. Referência






6. - Outras Publicações Relacionadas

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Chefchaouen - A Cidade Azul Encantada do Marrocos

 I. - Introdução: Chefchaouen: A Cidade Azul do Marrocos e Sua Riquíssima História


Encravada entre as montanhas do Rif, no norte do Marrocos, Chefchaouen, ou Chaouen, como é carinhosamente chamada pelos locais, é uma das cidades mais encantadoras do mundo. Conhecida como a Cidade Azul, suas estreitas ruas pintadas em diferentes tons de azul atraem milhares de turistas todos os anos, fascinados pela beleza singular e pela história desse lugar. Chefchaouen não é apenas um destino estético: é uma cidade carregada de tradição, cultura e curiosidades históricas. 

Visão geral de Chefchaouen, foto HistoriacomGosto



II. - Resumo Histórico: Fundadores e Fundação


Chefchaouen foi fundada em 1471 por Moulay Ali Ben Moussa Ben Rached El Alami, um descendente do profeta Maomé, com o propósito original de ser uma fortaleza militar. A criação da cidade tinha um objetivo estratégico: proteger a região de invasões portuguesas que ocorriam durante aquele período. Sua localização nas montanhas do Rif conferia vantagens defensivas naturais, o que permitiu à cidade manter sua autonomia por muito tempo.

Originalmente, Chefchaouen começou como uma vila fortificada (uma espécie de casbá) e foi habitada por tribos locais de árabes e berberes, além de muçulmanos e judeus que fugiam da Reconquista Cristã na Península Ibérica, principalmente da região da Andaluzia, no sul da Espanha.

Forte de Chefchaouen, foto HsitoriacomGosto


Forte de ChefchaouenO forte que domina a praça principal de Chefchaouen, chamada Plaza Uta el-Hammam, é conhecido como a Kasbah de Chefchaouen. Este edifício histórico é um forte murado construído no final do século XV por Moulay Ali Ben Rached, o fundador da cidade. Ele foi erguido como parte de uma estratégia defensiva para proteger Chefchaouen contra invasões de forças estrangeiras, especialmente os portugueses, que, na época, estavam expandindo sua presença nas regiões costeiras do Marrocos.

III. - Povos que Habitaram a Região


Ao longo dos séculos, Chefchaouen foi o lar de várias etnias e comunidades, incluindo os:

Berberes: A população nativa da região, que habitava as montanhas do Rif há séculos. Eles continuam sendo uma das etnias predominantes e falam línguas berberes, além do árabe.

Árabes: Chegaram com a expansão islâmica nas décadas seguintes à fundação da cidade.

Andaluzes: Muçulmanos e judeus fugidos de Granada após 1492, que tiveram grande importância no crescimento cultural e urbano da cidade.

Judeus sefarditas: Tiveram um papel importante no comércio e nas práticas artesanais da cidade.

Mulheres berberes que habitam a região,
foto HistoriacomGosto


O convívio entre essas comunidades moldou uma cultura única em Chefchaouen, uma fusão de tradições árabes, berberes e andaluzas que podem ser vistas na gastronomia, nos artesanatos e, claro, na arquitetura.

IV. Quando Chefchaouen Adotou a Cor Azul?

A característica mais marcante de Chefchaouen é, sem dúvida, o fato de toda a cidade brilhar em tons variados de azul. No entanto, esse não foi um traço presente desde sua fundação.

Medina, foto HistoriacomGosto


Acredita-se que a tradição de pintar as ruas e as paredes de azul começou com imigrantes judeus, durante a década de 1930. Eles pintavam suas casas de azul para simbolizar o céu e, assim, aproximar-se espiritualmente de Deus. Na tradição judaica, o azul também é símbolo de proteção e remete ao manto divino.

Medina, foto HistoriacomGosto


Com o passar do tempo, o costume foi absorvido pela cidade como um todo, tornando-se uma marca registrada de Chefchaouen. Os locais ainda mantêm esse hábito, renovando a pintura regularmente para preservar o visual vibrante.

Medina, foto HistoriacomGosto



V. - Desenvolvimento do Turismo


Até bem pouco tempo atrás, Chefchaouen era um recanto tranquilo e relativamente desconhecido, frequentado mais por marroquinos do que por turistas internacionais. Foi a partir da década de 1980 que a cidade começou a ganhar notoriedade.

Com o avanço da globalização, Chefchaouen foi sendo descoberta lentamente, primeiro por mochileiros e viajantes alternativos e, mais tarde, por agências de turismo e revistas de viagem. Hoje, a cidade atrai visitantes do mundo inteiro que desejam experimentar sua atmosfera mágica e fotografar suas ruas azuis.

Medina Chefchaouen, foto de © Elenatur em dreamstime.com


Medina, foto HistoriacomGosto

Hoje Chefchaouen faz parte do circuito turístico do Marrocos de todos que entram / saem do país pelo porto de Tanger / Celta. A distância de Chefchaouen para Tanger é de 115 Km, levando em torno de 2h15min.


VI. -Fontes de Sustento


Historicamente, as comunidades da região viviam da agricultura, da produção de lã e da criação de gado. A cidade também ficou conhecida no passado pela produção de tinturas naturais e outros produtos que eram comercializados em mercados locais.

Nos tempos modernos, Chefchaouen desenvolveu seu sustento em três pilares principais:

Turismo: É a principal fonte de renda para grande parte da população. Restaurantes, hospedarias e vendas de artesanatos integram as principais atividades econômicas ligadas ao turismo.

Artesanato: A produção de tecidos, tapetes, cerâmicas e outros itens tradicionais é outro grande suporte econômico.

Agricultura e comércio local: A produção agrícola ainda é relevante, especialmente de itens como azeite de oliva, nozes e mel das montanhas do Rif.

Medina, foto HistoriacomGosto



Observação Importante

Chefchaouen está localizada em uma região relativamente fértil, especialmente quando se considera sua posição nas montanhas do Rif. Apesar de o norte do Marrocos incluir áreas mais áridas, como o litoral e algumas encostas, a região de Chefchaouen é marcada por vales e encostas que possuem vegetação abundante, principalmente devido à sua posição em altitudes mais elevadas e à proximidade com cursos d'água.

Terreno florido entre Fez e Chefchaouen, foto HistoriacomGosto



Chefchaouen e suas áreas ao redor são abastecidas por fontes naturais de água, o que contribui para a fertilidade da região. A principal fonte hídrica de Chefchaouen é o rio Ras El Maa, que é alimentado por nascentes localizadas nas montanhas do Rif.


VII - O que ver em Chefchaouen ?


O coração de Chefchaouen é sua medina, uma das regiões mais charmosas e fotogênicas do Marrocos. Caminhando por suas ruas estreitas e sinuosas, você será hipnotizado pelas diferentes tonalidades de azul que cobrem as paredes, portas e escadarias. As cores não são apenas encantadoras, mas também simbolizam o céu e o paraíso, refletindo a espiritualidade e a identidade cultural da cidade.

Medina de Chefchaouen, foto de © Dorinmarius em dreamstime.com


Medina, foto HistoriacomGosto


CuriosidadeExistem diversas cidades ao redor do mundo famosas por suas características arquitetônicas predominantemente azuis ou azuis  e  brancas, que atraem viajantes de todos os cantos. Essas cidades, muitas vezes, têm um importante valor histórico, cultural ou estético, além de estarem fortemente ligadas à identidade das regiões onde estão localizadas. Abaixo, algumas das cidades azuis e brancas mais famosas:

1. Santorini (Oia e Fira, Grécia) / 2. Sidi Bou Said (Tunísia) / 3. Júzcar (Espanha) – "A Vila dos Smurfs" / 4. Chefchaouen (Marrocos) / 5. Jodhpur (Índia) – "A Cidade Azul"

Pra terminar um dos gatos do Marrocos na cidade azul.

Gato em Chefchaouen, foto HistoriacomGosto

VIII - Referências


Notas e fotos de Viagem - HistoriacomGosto

Pesquisa - ChatGpt / Wikipedia

Fotos quando mencionado: Dreasmtime.com


IX - Outras Publicações 



Chefchaouen -https://www.historiacomgosto.com.br/2025/08/chefchaouen-cidade-azul-encantada-do.html