sábado, 15 de novembro de 2025

A fascinante história de Málaga através dos tempos!

 I. Introdução

Málaga é uma vibrante cidade no sul da Espanha, dona de um imenso tesouro de história e cultura, com raízes que se aprofundam por milênios. Sua localização estratégica no Mediterrâneo a tornou um caldeirão de civilizações, cada uma deixando sua marca indelével.

Nessa postagem queremos fazer uma pequena descrição da história de Málaga, despertando os interesses de cada um em seus variados aspectos. 


Visão geral de Málaga, foto de  @Jorisv em dreamstime.com


II. Das Origens Fenícias à Chegada dos Mouros (c. 1000 a.C. - 711 d.C.)


Os fenícios, no século I a.C., foram os primeiros a estabelecerem um porto comercial chamado "Malaka" (que significa "fábrica" ou "sal") devido às suas indústrias de sal e salazón de peixe.

Localização de Málaga, fonte: Google Maps


Posteriormente, a partir do século VI a.C., tivemos a troca para o controle cartaginês após o declínio fenício. Os cartagineses eram originários do norte da África e os fenícios da área do Levante, Ásia Ocidental. 

Guerreiro Cartagines, fonte wikipedia


Com a vitória romana nas Guerras Púnicas, a partir do século III a.C., Malaka se torna parte da província romana da Bética, prosperando como um centro comercial e cultural. Recebeu o status de municipium federatum. Isso durou até o século V d.C. quando houve a queda do imperio romano.

Entre o século  V d.C. e o século VIII d.C., após a queda do Império Romano, a cidade passa para o domínio dos visigodos, marcando um período de relativa decadência e cristianização. 


Coroa do rei visigodo Rescevinto, foto wikipedia


Personagens Mais Importantes: 

Nesse período o destaque vai para os Navegadores Fenícios que foram os  Fundadores e impulsionadores do comércio inicial e os imperadores romanos que garantiram a paz e a prosperidade da Malaca Romana. 

Construções Realizadas:

Vestígios Fenícios: Poucos visíveis, mas a estrutura urbana inicial se baseou em seu assentamento.

Teatro Romano: Construído no século I d.C. e redescoberto em 1951, é um testemunho impressionante da presença romana.

Teatro romano, vizinho ao Alcazar, Málaga, foto HistoriacomGosto


Vilas Romanas e Termas: Vários vestígios arqueológicos indicam a vida romana na região.

III. O Esplendor de Málaga sob o Domínio Mouro (711 d.C. - 1487 d.C.)

A chegada dos muçulmanos transformou Málaga em uma das cidades mais prósperas de Al-Andalus.

Málaga foi tomada pelas tropas muçulmanas, tornando-se parte de Al-Andalus  em 711 d.C

Entre os séculos X-XI, Málaga passou a fazer parte do Califado de Córdoba desfrutando de uma grande prosperidade e se tornando um importante centro comercial e portuário. 

No século XI com a fragmentação do Califado, Málaga se tornou um reino taifa independente. 

Nos seculos XIII a XV, com o domínio Nazarí, Málaga se integrou ao reino de Granada, destacando-se pela produção de seda, cerâmica e vinhos, além de continuar sendo um porto estratégico.  

Personagens Mais Importantes: 

Abderramão III: Califa de Córdoba, sob cujo governo Málaga floresceu. 

Ibn Gabirol (Avicebron): Filósofo e poeta judeu nascido em Málaga no século XI, figura proeminente da cultura andalusina. 

Salomão Ibn Gabirol, quadro no Museu Sefardita de Toled


Sultões Nazarís: Que governaram Málaga nos seus últimos séculos islâmicos. 

Construções Realizadas: 

Alcazaba: Uma impressionante fortaleza palaciana muçulmana, construída principalmente nos séculos XI-XI, sobre ruínas romanas.

Alcazar de Málaga, foto de © Gillesr7 em dreamstime.com 


Castelo de Gibralfaro: Fortificado e ampliado pelos Nazarís no século XIV para proteger a Alcazaba e o porto. 

Muralhas da Cidade: Extensas fortificações que cercavam a cidade. 

Mesquitas e Banhos Árabes: Embora a maioria não exista mais, eram parte integrante da vida urbana.

O período teve a duração de 776 anos, iniciando em 711 d.C. e terminando em 1487 d.C. com a Reconquista Cristã.

IV. A Reconquista Cristã e Suas Consequências (1487 d.C.)


A tomada de Málaga pelos Reis Católicos foi um evento brutal e crucial na história da cidade.

Eventos Mais Importantes:

O Cerco de Málaga (1487) foi um dos mais longos e sangrentos da Reconquista, durando vários meses. A cidade, bem fortificada, resistiu ferozmente. 

Com a queda da cidade após a rendição, os Reis Católicos impuseram duras condições: 

a) Repovoamento: A população muçulmana foi escravizada ou expulsa, e a cidade foi repovoada por cristãos de outras partes da Península Ibérica. 

b) Transformação Religiosa: Mesquitas foram convertidas em igrejas. 

Liberação dos Cativos Cristãos, Jose Moreno Carbonero, Museu de Málaga,
 Wikipedia Espanhola

Personagens Mais Importantes: 


Reis Católicos (Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela): Lideraram o cerco e a reconquista de Málaga. 

Reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela, fonte Wikipedia


El Zegrí: Líder mouro que defendeu Málaga com bravura. 


Construções Realizadas: 

Início da Catedral: A Grande Mesquita foi consagrada como igreja, dando início ao processo que levaria à construção da atual Catedral. 

Reurbanização: Início de um novo traçado urbano e construção de edifícios religiosos cristãos.


V. De Málaga Cristã ao Século XX (1487 d.C. - c. 2000)

Após a Reconquista, Málaga passou por períodos de crescimento, declínio e modernização. 

Eventos Mais Importantes: 

Época Moderna (séculos XVI-XVIII),  Málaga torna-se um importante porto comercial para o Novo Mundo. A cidade sofre com epidemias, inundações e crises econômicas, mas também vê um florescimento artístico e arquitetônico. 

Século XVIII Malaga teve Impulso ao desenvolvimento econômico e infraestrutural. 

Século XIX (Industrialização e Liberalismo): Málaga se destaca como um dos primeiros polos industriais da Espanha (têxtil, siderurgia) e experimenta um crescimento significativo, mas também conflitos sociais. 

Com a Guerra Civil Espanhola (1936-1939)  A cidade sofreu severamente com a guerra e a posterior ditadura. 

A partir da década de 1960, Málaga e a Costa do Sol se transformam em um dos destinos turísticos mais populares da Europa. 

Personagens Mais Importantes: 

Pablo Picasso (1881-1973): Um dos maiores artistas do século XX, nascido em Málaga. Sua obra marcou profundamente a arte moderna. 

Pablo Picasso,  foto da revista Vea y Lea

Famílias Burguesas: Como os Larios, que impulsionaram a industrialização e o urbanismo da cidade. 

Construções Realizadas: 

Catedral da Encarnação de Málaga ("La Manquita"): Iniciada no século XVI e construída ao longo de vários séculos, é um magnífico exemplo da arquitetura renascentista e barroca. Seu nome vem do fato de ter apenas uma torre completa. 

Palácio da Aduana: Edifício neoclássico do século XVIII, hoje sede do Museu de Málaga. 

Rua Larios: Principal artéria comercial, construída no século XIX. 

Rua de Larios, Málaga, foto de @Adrianna Calvo, wikipedia, creative commons,
dedicação ao domínio público

Mercado de Atarazanas: Antigo estaleiro naval árabe transformado em mercado no século XIX.

Mercado de Atarazanas, foto wikipedia,


VI. Málaga na Atualidade: Cultura, Sol e Mar 

Hoje, Málaga é uma metrópole moderna e dinâmica, que soube preservar sua história enquanto se projeta para o futuro como um centro de cultura e turismo.

.Abriu diversos museus de renome internacional, revitalizando o centro histórico.  
.Promoveu a Revitalização do porto (Muelle Uno), criação de novos espaços públicos e melhoria das infraestruturas. 

.Teve uma grande ascensão da cena gastronômica, com chefs inovadores e a valorização dos produtos locais. 

Construções Realizadas: 

As principais construções recentes foram: 

Muelle Uno: Área de lazer e compras no porto, com restaurantes e lojas. 

Centro Pompidou Málaga: Um cubo colorido que abriga uma coleção de arte moderna e contemporânea.


VII. - Os Pontos Imperdíveis para Visitar em Málaga: 


VII.1 -  Alcazaba de Málaga: A Alcazaba de Málaga é uma fortaleza-palácio mourisca, construída sobre uma colina que domina a cidade e o porto. É considerada uma das alcazabas árabes mais bem preservadas da Espanha e um exemplo magnífico da arquitetura militar e residencial do período taifa.

Embora existam vestígios de uma fortificação anterior, a Alcazaba como a conhecemos começou a ser construída no século VIII pelos muçulmanos após a conquista da Península Ibérica.

Alcazar de Málaga, foto em dreamstime.com

A maior parte da estrutura atual da Alcazaba foi erguida durante o século XI, sob o domínio do Reino Taifa de Málaga. Particularmente, o rei zirida Badis ben Habus é creditado com grande parte da sua construção e fortificação, transformando-a em uma impressionante residência real e baluarte defensivo.

Uma das características mais notáveis é seu engenhoso sistema defensivo, com duas cinturas de muralhas concêntricas e inúmeras torres. O acesso era feito através de uma série de portas em zigue-zague, projetadas para retardar e desorientar qualquer invasor.

Existem cerca de cem torres dentro da Alcazaba, cada uma com sua função defensiva e algumas abrigando câmaras ou passagens secretas.

Salão da Alcazaba, foto HistoriacomGosto


A Alcazaba não era apenas uma fortaleza, mas também um palácio, e isso é evidente nos seus encantadores pátios internos, repletos de vegetação exuberante, fontes e canais de água, evocando a arquitetura andaluza de Granada.


VII.2 - Castelo de Gibralfaro: Conectado à Alcazaba, este castelo oferece as melhores vistas da cidade, do porto e da costa. 

O nome "Gibralfaro" deriva da palavra árabe "Jabal-Faruh" (ou "Jabal-Faro"), que significa "rocha do farol". Acredita-se que, na Antiguidade, os fenícios (ou até mesmo os romanos) construíram um farol no topo deste monte para guiar seus navios até o porto de Malaka.

Os muçulmanos construíram uma fortaleza primitiva no local após a conquista da Península Ibérica no século VIII.

A maior parte da estrutura do castelo que vemos hoje foi construída no século XIV pelo sultão nazarí Yusuf I de Granada. Ele transformou a antiga fortaleza numa poderosa cidadela para proteger a Alcazaba e o porto, servindo também como residência para as tropas e como ponto de vigilância..

Castelo de Gibralfarom foto de 

O castelo desempenhou um papel crucial durante o Cerco de Málaga pelos Reis Católicos em 1487. A população muçulmana e a guarnição resistiram bravamente dentro de suas muralhas por três meses após a queda da cidade, até se renderem por fome. 

Após a conquista, os Reis Católicos hastearam a bandeira cristã nas torres do castelo. Fernando II de Aragão, impressionado com sua robustez, chegou a usá-lo como sua residência temporária.



VII.3 - Catedral de Málaga: 

Conhecida como "La Manquita", esta majestosa catedral renascentista e barroca é um ícone da cidade. Ela é  oficialmente conhecida como Catedral Basílica de Nossa Senhora da Encarnação.

Após a tomada de Málaga pelos Reis Católicos em 1487, a Grande Mesquita Aljama da cidade foi imediatamente consagrada como igreja cristã. Em 1528, a decisão de construir uma nova catedral no local da antiga mesquita foi formalizada, e a demolição da mesquita para dar lugar ao novo templo começou. O projeto inicial era ambicioso, buscando um estilo gótico tardio, mas rapidamente evoluiu para as formas renascentistas que marcariam a maior parte de sua construção.

A construção da Catedral de Málaga durou mais de 250 anos, começando em 1528 e estendendo-se até 1782.

La Manquita: A catedral permanece inacabada até hoje. A torre sul, originalmente planejada para ser gêmea da torre norte, nunca foi concluída devido à falta de fundos, que foram desviados para financiar as guerras coloniais na América e obras públicas na cidade. Essa particularidade lhe rendeu o carinhoso apelido de "La Manquita" (A Aleijadinha).

Fachada 

A fachada é composta por três corpos verticais, correspondendo às três naves internas da catedral. Ela é flanqueada por duas torres, das quais apenas a do lado norte (à direita de quem olha para a fachada) foi concluída. A ausência da torre sul é a razão do apelido "La Manquita".



Lateral


Entrada lateral, foto HistoriacomGosto


Nave principal

Com um estilo predominantemente renascentista, tem um ar de grandiosidade clássica. A sua estrutura é composta por três naves de igual altura, um tipo arquitetônico conhecido como hallenkirche (igreja-salão), com a nave central mais larga que as laterais. Essa característica confere uma sensação de unidade espacial e amplitude.

Nave principal catedral Málaga, foto diocese de Málaga

As Imponentes colunas coríntias sustentam as abóbadas, elevando-se majestosamente e criando uma atmosfera de solenidade e verticalidade.
As abóbadas são de cruzeiro com nervuras, mas com uma complexidade ornamental que transcende o gótico, integrando elementos renascentistas. A luz natural que entra pelas janelas superiores realça a altura e a decoração.


Nave principal, foto HistoriacomGosto


Coro 

Composto por 42 cadeiras de nogueira ricamente esculpidas, o cadeiral é uma obra-prima do entalhador Pedro de Mena. Ele trabalhou nele entre 1658 e 1662, esculpindo com incrível detalhe as figuras de santos e alegorias, expressando emoção e movimento característicos do barroco. As figuras parecem emergir da madeira, com uma riqueza de gestos e expressões.

Dois grandes órgãos barrocos flanqueiam o coro, com caixas de madeira ricamente decoradas, adicionando à imponência sonora e visual do espaço.

Coro, foto HistoriacomGosto


Capela Maior / Altar Principal

O retábulo-mor é uma imponente estrutura que abriga a imagem da Virgem da Encarnação, padroeira da catedral. É de estilo neoclássico, encomendado no final do século XVIII a Juan de Villanueva, embora tenha sido executado por outros artistas. Ele se destaca pela sua grandiosidade e pela simplicidade elegante de suas linhas, contrastando com o barroco exuberante de outras partes da catedral.

Capela Maior / Altar Principal, foto Diocese de Málaga


Deambulatório:

A passagem por trás do coro, ou girola, permite o acesso a várias capelas e proporciona uma perspectiva diferente do altar-mor. É uma continuação das naves laterais que circunda o presbitério, permitindo o fluxo de fiéis sem interromper as cerimônias no altar principal.


Deambulatório, foto HistoriacomGosto

Pintura célebre na Catedral - Virgem do Rosário por Alonso Cano


A parte inferior é dominada por São Domingos , vestido com o hábito de sua ordem, barbudo e tonsurado. Seu braço esquerdo repousa sobre São Francisco , um dos pilares da Igreja Católica , vestido com um hábito cinza com um cordão na cintura, que por sua vez repousa o braço sobre o ombro de São Domingos. A cena é completada pelas representações de Santo Ildefonso e Santa Teresa à direita, e São Tomás de Aquino e Santa Catarina de Siena à esquerda. Todos contemplam maravilhados a visão celestial da Virgem Maria com o Menino.


Virgem do Rosário, Alonso Cano, 1665 a 1666


A seção superior, portanto, é presidida pela Virgem Maria com o Menino, em um trono de nuvens apoiado em duas colunas caneladas, e rodeada por cinco querubins ostentando os atributos dos quatro santos que compõem a cena terrena. Os anjos no centro apresentam o Rosário e a Cruz a São Domingos e São Francisco. Santo Ildefonso e Santa Teresa recebem o báculo e a pena, e São Tomás e Santa Catarina, a pena e a coroa.


VII.4 - Teatro Romano: 

Ao lado da Alcazaba, este antigo teatro oferece uma janela para a Málaga romana. 

O Teatro Romano de Málaga foi construído no século I a.C., durante o reinado do Imperador Augusto, tornando-o um dos primeiros teatros romanos a serem edificados na Península Ibérica.

Málaga, conhecida então como Malaca, fazia parte da província romana da Bética, uma região próspera e romanizada. O teatro era um símbolo do poder e da cultura romana, e sua construção demonstra a importância e o desenvolvimento da cidade naquela época.

Teatro romano, foto dreamstime.com


Era o centro da vida social e cultural da cidade, palco para representações teatrais, comédias, tragédias e, ocasionalmente, assembleias e eventos cívicos. Tinha uma capacidade estimada para duas mil pessoas. 

No século VI d.C., os visigodos transformaram o teatro em um cemitério. Mais tarde, com a chegada dos muçulmanos, o teatro foi completamente abandonado e seus materiais (pedras, colunas, capitéis) foram reutilizados na construção da vizinha Alcazaba, que começou a ser erguida a partir do século VIII.

VII.5 Museu Picasso Málaga: 

Localizado no Palácio de Buenavista, abriga uma extensa coleção de obras do filho mais famoso de Málaga. 

O Museu Picasso Málaga (MPM) é um dos museus mais importantes da Andaluzia e da Espanha, dedicado à vida e obra de Pablo Picasso, um dos artistas mais influentes do século XX, que nasceu em Málaga em 1881.

A ideia de criar um museu Picasso em Málaga não é nova. Já em 1953, o próprio Pablo Picasso, por intermédio de seu amigo e advogado Paul Cabañas, expressou o desejo de que parte de sua obra estivesse presente em sua cidade natal. No entanto, devido à situação política da Espanha sob a ditadura de Franco, o projeto não pôde ser concretizado na época.

O projeto ganhou força novamente nas últimas décadas do século XX, graças ao impulso e à dedicação de Christine Ruiz-Picasso, nora do artista, e seu filho Bernard Ruiz-Picasso. Eles foram os principais doadores das obras que compõem a coleção permanente do museu.

O Museu Picasso Málaga foi oficialmente inaugurado em 27 de outubro de 2003, um marco significativo para a cidade e para o mundo da arte. O projeto foi promovido pelo Governo da Andaluzia em colaboração com a Família Picasso.

Local da Instalação

As obras do Museu Picasso estão expostas no majestoso Palácio de Buenavista, um edifício do século XVI que é um dos exemplos mais destacados da arquitetura renascentista de Málaga. A escolha do local não foi aleatória; o palácio está situado no coração do centro histórico da cidade, a poucos metros da Plaza de la Merced, onde Picasso nasceu.

Tipo e Estilo das Obras exibidas

A coleção do Museu Picasso Málaga, composta por mais de 200 obras (entre pinturas, esculturas, desenhos, cerâmicas e gravuras), é particularmente interessante porque oferece um percurso pela totalidade da carreira artística de Picasso, abrangendo suas diversas fases e estilos. Não se foca apenas em um período específico (como o cubismo, por exemplo), mas busca mostrar a evolução do artista.

Sala de Exposição Museu Picasso, Málaga,
foto https://www.museopicassomalaga.org/en/



VII.6 Muelle Uno e Farol: 

Uma área moderna e vibrante à beira-mar, perfeita para passear, fazer compras e desfrutar de restaurantes, com o Farol como um marco. 

Porto remodelado, foto   em dreamstime.com





VII.7 Malagueta Beach


Praia de Malagueta Beach, foto em dreasmtime.com




VII.8 Museu Carmen Thyssen Málaga: 

Uma excelente coleção de arte espanhola do século XIX, com foco na pintura andaluza. 


VII.9 Rua Larios: 

A principal rua comercial de Málaga, famosa por sua arquitetura elegante e atmosfera animada. 

VII.10 Mercado de Atarazanas: 

Um mercado vibrante onde você pode experimentar a gastronomia local, com produtos frescos e bares de tapas. 

VII.11 Centro Pompidou Málaga: 

A primeira filial do famoso centro de arte parisiense fora da França, exibindo uma coleção de arte moderna e contemporânea.


Centro Pompidou, Málaga, foto HistoriacomGosto


VIII - Referências

Malaga - Costa del Sol - Edições Otermin
- Malaga Cathedral - Edições Otermin
- Malaga - Wikipedia
- Pesquisa Gemini e Chat Gpt
- Notas de Viagem
- Fotos HistoriacomGosto e Dreamstime.com

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

São Jerônimo: Do Erudito ao Penitente, um Legado Gravado na Arte e na História

 1. - Introdução 


Aos amantes da arte, da história e do simbolismo, preparamos essa nova publicação dedicada a desvendar as camadas de significado por trás de uma das figuras mais fascinantes da iconografia cristã: São Jerônimo.

São Jerônimo, Caravaggio, 1606, Abadia de Montserrat



Nessa publicação descreveremos brevemente a extraordinária vida desse santo que inspirou tantos artistas e depois mostraremos algumas  obras-primas de grandes mestres, de Caravaggio a Dürer, para explorar como este santo foi retratado ao longo dos séculos.


São Jerônimo, Lorenzo Lotto,  
Brukenthal Museum em Sibiu, Romênia


Desenvolvemos essa ideia depois de tantas visitas a museus em que observamos dezenas de quadros que nos foram cativando ao longo do tempo para essa figura extraordinária. Aproveite, leia, divulgue e curta conosco essas maravilhas. 


2. - A Vida de um Erudito Inquieto: Do Nascimento à Vocação


Nascido como Eusébio Sofrônio Jerônimo por volta de 347 d.C., na cidade de Estridão, na Dalmácia (atual Croácia), ele veio de uma família cristã abastada. Desde cedo, demonstrou uma inteligência aguçada e uma paixão pelos estudos. Sua juventude foi marcada por uma educação clássica em Roma, onde estudou gramática, retórica e filosofia sob a tutela de renomados professores. Dominou o latim e o grego, e mais tarde, aprendeu o hebraico – habilidades que se tornariam cruciais para sua missão de vida.


São Jerônimo, Francisco de Zubaran, 1640 a 1645,
Museu de Arte de San Diego


Contudo, a vida em Roma, com suas tentações e prazeres mundanos, causou-lhe grande inquietação espiritual. Após um período de dúvidas e reflexões, Jerônimo foi batizado por volta dos 19 anos, iniciando um caminho de dedicação mais profunda à fé.


3. -  O Chamado do Deserto: Jerônimo Penitente e Eremita


Após o batismo, Jerônimo empreendeu viagens por diversas regiões, incluindo a Gália e o Oriente. Foi durante sua estadia na Síria, por volta de 375 d.C., que ele ouviu o chamado para uma vida de eremita no deserto de Cálcis. Longe do barulho das cidades e das distrações, Jerônimo dedicou-se à ascese, à oração e ao estudo fervoroso das escrituras.

São Jerônimo e o anjo do juízo final, José Ribera,
1626, Museu Capodimonte, Nápoles



Essa fase de eremita penitente é uma das mais emblemáticas em sua representação artística. É nesse período que ele é frequentemente retratado com um olhar introspectivo, o corpo emaciado pela penitência, por vezes golpeando o peito com uma pedra – um símbolo de arrependimento e purificação. O isolamento no deserto foi um tempo de profunda transformação espiritual e intelectual, onde ele aprimorou seu conhecimento das línguas originais da Bíblia.


4. -  O Maior Legado: A Tradução da Vulgata


Após cerca de cinco anos no deserto, Jerônimo retornou à vida comunitária e acabou em Roma, onde se tornou secretário do Papa Dâmaso I. Foi o Papa quem o encarregou da monumental tarefa de revisar e traduzir a Bíblia para o latim. As versões existentes na época eram fragmentadas e inconsistentes.


São Jerônimo em seu estúdio - Albrecht Durer, 1514,
gravura em cobre, Galeria Nacional de Arte, Washington d.c.

                           

Jerônimo aceitou o desafio e dedicou as últimas três décadas de sua vida a esta obra colossal em Belém, onde fundou monastérios. Trabalhando incansavelmente, consultando manuscritos hebraicos e gregos, ele produziu a "Vulgata" (que significa "versão comum"), a tradução da Bíblia que se tornaria o texto oficial da Igreja Católica por mais de mil anos. É por essa dedicação ao estudo e à palavra divina que vemos tantas representações de São Jerônimo escrevendo, imerso em seus livros e pergaminhos.

 

5. -  Por Que Tanta Devoção na Espanha e Pinturas de Penitência também na Itália?

A figura de São Jerônimo gozou de imensa popularidade, especialmente na Espanha e em diversos centros artísticos italianos, particularmente após o Concílio de Trento (1545-1563) e o advento da Contrarreforma.

A Devoção Espanhola: Na Espanha, a Igreja Católica buscava reafirmar seus valores e aprofundar a fé em resposta ao avanço do Protestantismo. São Jerônimo era um modelo perfeito. Sua vida de eremita e penitente ressoava com a ênfase na ascese, no sacrifício e na introspecção que caracterizava a espiritualidade espanhola da época. Além disso, seu monumental trabalho na tradução da Vulgata o tornava um defensor da ortodoxia católica, um erudito cuja dedicação à palavra de Deus era inquestionável. Ordens religiosas como os Jerônimos (Ordem de São Jerônimo) se espalharam pela Espanha, contribuindo para a devoção popular e a comissão de inúmeras obras de arte. 

O Apelo dos Pintores Italianos e Espanhóis: Para os artistas italianos e espanhóis do Renascimento e, especialmente, do Barroco, a figura de São Jerônimo Penitente oferecia um palco dramático. O Concílio de Trento incentivou a arte religiosa a ser clara, didática e emocionalmente envolvente, servindo como um meio para instruir e inspirar os fiéis. A representação de um santo em profundo sofrimento e penitência, com seu corpo emaciado, o crânio (memento mori) e o leão, era ideal para evocar devoção e reflexão sobre a mortalidade e a salvação. Pintores como Caravaggio, Ribera, Guercino e Guido Reni exploraram a crueza da humanidade de Jerônimo, sua dor e sua devoção extrema, traduzindo-as em imagens poderosas que tocavam o coração dos espectadores e serviam aos propósitos espirituais da época.

6. - Desvendando os Símbolos: O Crânio, o Leão e Mais

Agora que conhecemos um pouco de sua jornada e sua relevância cultural, os símbolos que o acompanham nas pinturas ganham ainda mais profundidade:

O Crânio: Presente em muitas de suas representações, o crânio é um poderoso "memento mori" – uma lembrança da inevitabilidade da morte e da finitude da vida terrena. Para Jerônimo, que buscou a penitência e a salvação, ele servia como um lembrete constante da transitoriedade do mundo e da importância de focar na eternidade.

O Leão: A lenda mais famosa associada a São Jerônimo narra que, enquanto estava em seu mosteiro, um leão ferido entrou mancando. Seus monges fugiram apavorados, mas Jerônimo, com compaixão, removeu um espinho da pata do animal. O leão, em gratidão, permaneceu com ele como um fiel companheiro. Na arte, o leão simboliza não apenas a amizade e a mansidão que pode dominar a ferocidade, mas também a capacidade de São Jerônimo de "domar" as próprias paixões e impulsos selvagens através da fé e da penitência. Além disso, pode representar a força da palavra divina que ele traduziu.

Os Livros e a Pena: Estes são, claro, alusões diretas à sua vida de estudioso e, principalmente, à sua gigantesca obra de tradução da Bíblia, a Vulgata, que o tornou um dos maiores intelectuais da Igreja. 

A Pedra: Em algumas obras, São Jerônimo é mostrado com uma pedra na mão, batendo em seu peito. Este é um símbolo da penitência e da autoflagelação, refletindo sua busca por purificação durante o período no deserto.

7. - Preparando o Olhar para as Obras-Primas


Armados com este conhecimento sobre a vida, os principais símbolos e a intensa devoção a São Jerônimo, estamos prontos para embarcar em nossa jornada visual! Desse ponto em diante, mostraremos como artistas como Caravaggio (com sua icônica obra na Galeria Borghese), Guido Reni (e seu São Jerônimo com a caveira), Juan Ribera (com a representação dramática do anjo do julgamento no Prado), Anton Van Dyck, Guercino e a pintura de Albrecht Dürer (que também tem uma versão em Portugal) interpretaram essas facetas do santo, oferecendo-nos diferentes perspectivas sobre sua fé, seu intelecto e sua humanidade.

7.1 - "São Jerônimo escrevendo" - Michelangelo Merisi da Caravaggio, 1605 a 1606, Galeria Borghese, Roma.

A pintura retrata a figura envelhecida de São Jerônimo, curvada sobre os textos sagrados, com a pena na mão. Há uma composição em duas grandes áreas de cor, que contrastam tons quentes (pele, manto roxo) com frios (caveira, tecido branco sobre o livro aberto), simbolizando uma dialética entre vida e morte.


"São Jerônimo escrevendo" - Michelangelo Merisi da Caravaggio, 1605 a 1606,
Galeria Borghese, Roma


O Santo: Jerônimo é mostrado concentrado, lendo um livro com um braço estendido, segurando uma pena para escrever. Acredita-se que ele esteja no ato de traduzir a Vulgata.

Simbolismo: O crânio ominoso na mesa, à esquerda, é um memento mori, um lembrete da mortalidade do santo.

Estilo: A obra é um exemplo do estilo de Caravaggio, utilizando o claro-escuro (tenebrismo) com fundos escuros e um uso dramático de luz e sombra, o que realça a figura do santo e a intensidade da cena. 


7.2 - "São Jerônimo em Oração" - José Ribera

A pintura é um exemplo do estilo tenebrista, caracterizado pelo uso dramático de luz e sombra, e do realismo de Ribera.


São Jerônimo em Oração, Ribera, 1644,
Museu do Prado, Madrid


São Jerônimo é retratado com uma pele envelhecida e enrugada, segurando uma pedra para bater no peito, um ato de penitência, e contemplando uma caveira, que simboliza a mortalidade humana.

A obra também inclui um livro e um pergaminho, referências à sua erudição e ao seu trabalho de tradução da Bíblia para o latim, conhecida como Vulgata

Existem várias versões desta pintura, que fazem parte de coleções de museus como o Museu do Prado, o Museu Nacional de Capodimonte e o Museu de Arte de Cleveland.


7.3 - San Jeronimo e a caveira - Guido Reni

  • São Jerônimo: O santo é retratado como um homem idoso, com uma longa barba branca e expressão contemplativa. Ele está nu da cintura para cima, coberto por um tecido vermelho vibrante. Seu rosto apresenta sinais de cansaço e idade, sugerindo uma vida de penitência e reflexão.

São Jerônimo, Guido Reni, 1648,
Museu Real de Turim, Galeria Sabauda

  • A caveira: O crânio que São Jerônimo segura é um símbolo de meditação sobre a mortalidade, um conceito chamado "memento mori". Na tradição cristã, especialmente na ordem franciscana, a caveira representa a passagem da vida terrena para a vida espiritual.
  • Estilo Barroco: A obra de Guido Reni é conhecida por sua elegância e espiritualidade, elementos que foram influentes no desenvolvimento do barroco. O estilo é caracterizado pelo uso de luz e sombra (claroscuro) para criar profundidade e drama, e pela predominância do emocional sobre o racional. 

7.4 -  São Jerônimo - Pereda e Salgado

A pintura retrata São Jerônimo, em um momento de penitência e reflexão, possivelmente no deserto, onde viveu como eremita. O santo é frequentemente representado como um homem idoso, magro e com barba, como pode ser visto na imagem. A obra, datada de 1643, está atualmente no Museu do Prado, em Madrid.

São Jerônimo - Pereda e Salgado, 1643,
Museu do Prado, Madrid

Características e simbolismo da pintura:
  • São Jerônimo: O santo está ajoelhado, com uma expressão de êxtase ou contemplação enquanto olha para o céu. Sua pose e a representação de sua magreza destacam sua vida de penitência e isolamento.
  • Elementos simbólicos: Vários objetos na cena têm significado sibólico:
    • A trombeta: Um objeto que parece ser uma trombeta, no canto superior esquerdo, pode se referir ao Juízo Final.
    • O crânio (caveira): Simboliza a meditação sobre a mortalidade, um tema comum na arte barroca conhecido como "memento mori".
    • O livro aberto: Representa a vasta erudição de São Jerônimo e seu trabalho mais notável, a tradução da Bíblia para o latim, conhecida como Vulgata. A estampa na página aberta é uma referência a uma xilogravura de Albrecht Dürer.
    • O crucifixo improvisado: Feito de galhos, representa a devoção do santo à crucificação de Cristo.
    • O tinteiro e a pena: Simbolizam sua dedicação à escrita e aos estudos. 
A obra de Pereda é um exemplo da Escola Madrilena do século XVII, caracterizada pelo uso de uma poderosa diagonal na composição e pelo tratamento da anatomia, que se assemelha ao de José de Ribera. 


7.5 - São Jerônimo penitente - Leonardo da Vinci, 1480 a 1490, Pinacoteca do Vaticano


A obra, datada de c. 1480-1490, é uma pintura inacabada, o que a torna um estudo fascinante do processo criativo do mestre. Atualmente, ela faz parte da coleção da Pinacoteca dos Museus do Vaticano, em Roma.

A pintura retrata São Jerônimo, um dos Doutores da Igreja, em penitência e meditação no deserto. Sua pose dramática, com o braço direito estendido segurando uma pedra, sugere o ato de se flagelar em penitência.


São Jerônimo Penitente, Leonardo da Vinci, 1480 a 1490, 
Pincaoteca do Vaticano


Características e simbolismo da pintura:

Composição: A figura angular de São Jerônimo contrasta com a forma sinuosa do leão, que se estende pela parte inferior da pintura, criando uma composição dinâmica.
  • O Leão: A lenda conta que o santo extraiu um espinho da pata de um leão, que se tornou seu companheiro leal. Na pintura, o leão é visto à direita, deitado aos pés de Jerônimo, e representa o companheiro fiel do santo.
  • O Plano de Fundo: A paisagem ao fundo ainda está em fase de esboço, com montanhas e formações rochosas. À direita, uma igreja sutilmente esboçada pode ser vista através das rochas, o que pode aludir ao papel de Jerônimo como Doutor da Igreja.
  • Estado Inacabado: Por ser uma obra inacabada, ela permite observar a técnica de Leonardo da Vinci, especialmente o rascunho em monocromático sobre o painel de madeira preparado. Estudos recentes, por exemplo, revelaram impressões digitais do artista, mostrando que ele usava as mãos para espalhar a tinta. 


7.6 - São Jerônimo - Albrecht Durer

A pintura na imagem é uma obra de 1521 do artista alemão Albrecht Dürer, um dos maiores nomes do Renascimento no norte da Europa. A pintura a óleo sobre madeira foi feita durante a viagem de Dürer aos Países Baixos e atualmente está no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, Portugal. 

São Jerônimo em seu estúdio - Albrecht Durer, 1521
óleo sobre painel de madeira, Museu de Arte antiga de Lisboa


Características e simbolismo da pintura:
  • O Santo: São Jerônimo, um dos Doutores da Igreja, é retratado como um velho sábio, com rugas detalhadas e uma barba branca. Acredita-se que o artista tenha usado como modelo um homem de 93 anos que ele conheceu em Antuérpia. Ele está em uma pose pensativa, com a mão direita apoiando a cabeça e a mão esquerda tocando uma caveira, simbolizando a meditação sobre a morte e a brevidade da vida (memento mori).
  • Elementos da cena: A pintura inclui um livro aberto sobre uma mesa, que representa o trabalho de Jerônimo na tradução da Bíblia para o latim (a Vulgata). Também é possível ver um crucifixo na parede, um tinteiro e uma pena.
  • Estilo: Dürer era um mestre na representação de detalhes, e a pintura demonstra sua habilidade em retratar a figura humana e os objetos com grande precisão. O estilo também tem influências da arte flamenga, especialmente no trabalho de Quentin Massys. 

8. - Referências 

Wikipedia - São Jerônimo no Prado / Vida de Sâo Jerônimo

Notas de Viagens

Google Gemini - São Jerônimo

Chat Gpt - Vida de São Jerònimo

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