1.0 - Introdução: A Essência de Assis e o Chamado à Santidade
Nesta introdução quero descrever para e com vocês Assis, não como um mero local de visita, mas como um epicentro de profunda espiritualidade e uma paz que transcende o tempo. Um lugar onde a fé católica se renovou e se manifesta ainda em cada esquina, seguindo as pegadas de São Francisco e Santa Clara, que nos ensinam sobre simplicidade, amor ao próximo e amor à natureza, estabelecendo uma conexão com o divino.
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Visão geral das colinas de Assis com suas construções, foto© E55evu em dreamstime.com |
Passamos pela brisa suave do Monte Subasio, pela serenidade do Eremi degli Carcere, pela magia da Porcícuncula, pela grandeza artística da Basilica de São Francisco, e por tudo que carrega as orações de séculos, caminhando pelas mesmas trilhas que inspiraram santos, artistas e milhões de peregrinos. Assis não é apenas um lugar para se ver, mas para se sentir, para se viver e para se transformar.
O ideal é que se dedique de 2 a 3 dias pelo menos para apreciarmos cada canto e cada lugar com a calma necessária.
2. O "Jovem Rico" e a Assis Medieval (O "Antes" da Conversão)
2.0 Assis antes de São Francisco: A região de Assis foi inicialmente povoada pelos Úmbrios, um povo itálico que se estabeleceu na área por volta do século IX a.C. Eles eram conhecidos por seus assentamentos fortificados nas colinas.
No século VI a.C., os Etruscos exerceram grande influência sobre a Úmbria, embora Assis não tenha sido um de seus principais centros.
Por volta do século III a.C., Assis caiu sob o controle de Roma. A cidade se tornou um importante municipium romano e foi conhecida como Asisium. Os romanos construíram uma cidade próspera, com uma estrutura urbana típica.
Restos do Foro Romano e Igreja Santa Maria Sopra Minerva
A atual Piazza del Comune está construída sobre o antigo Fórum Romano da cidade de Asisium.
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Museu com restos do Foro Romano, praça principal Assis, foto HistoriacomGosto |
A imagem mostra a Igreja de Santa Maria Sopra Minerva (antigo templo de Minerva) e a Torre del Popolo em Assis, Itália. Ambos os edifícios estão localizados na Piazza del Comune, a principal praça medieval da cidade. O templo de Minerva, com colunas romanas, é do seculo I a.C. e foi convertido em Igreja no século XVI.
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Antigo templo romano convertido em Igreja e Torre do povo, foto HistoriacomGosto |
O cristianismo chegou cedo a Assis. O papel de São Rufino (San Rufino) nesse processo é central. Ele é considerado o primeiro bispo de Assis e mártir, evangelizando a região no final do século III d.C. Sua tumba e a subsequente catedral a ele dedicada são marcos da fé cristã na cidade.
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| São Rufino, wikipedia |
Depois das invasões bárbaras, no século VI, a região foi conquistada pelos Lombardos, que a incorporaram ao Ducado de Spoleto. Mais tarde, no século VIII, os Francos de Carlos Magno a anexaram ao seu império, transformando-a em um condado e consolidando seu pertencimento ao Sacro Império Romano-Germânico.
A partir do século IX, Assis começou a se recuperar, com uma reorganização social e econômica que levou ao surgimento de uma sociedade feudal. Entre os séculos XI e XII, Assis tinha ganho o status de Comuna Livre.
2.1. A Assis do Século XII: Assis, aninhada nas encostas do Monte Subasio, era uma cidade em plena ascensão. Estrategicamente localizada na Úmbria, beneficiava-se do comércio crescente e da vitalidade econômica da época.
A cidade estava se expandindo, com novas construções e uma população que crescia. O comércio de lã, seda e outros bens florescia, impulsionando a riqueza local. Mercadores e artesãos prosperavam, contribuindo para uma economia vibrante.
Como muitas cidades italianas da época, Assis buscava afirmar sua autonomia em relação ao poder imperial e papal, estabelecendo-se como uma comuna livre. Isso significava que os cidadãos tinham maior participação na administração local, embora ainda houvesse forte influência da nobreza.
Tensões Sociais: Nobreza vs. Burguesia Ascendente
A nobreza era representada pelas antigas famílias senhoriais, proprietárias de terras e castelos, que detinham o poder político e militar tradicional. Eram os "maiores" (em latim, maiores), orgulhosos de sua linhagem e privilégios. Eles viviam em palácios fortificados e controlavam os recursos.
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| Fortaleza de Rocca Maggiore, foto de Hagai Agmon-Snir em wikipedia |
Por outro lado, surgia uma classe de comerciantes, banqueiros e artesãos ricos – os "minori" ou o povo gordo (populus grassus). Eles eram a força motriz da economia em expansão e, com sua crescente riqueza, ansiavam por maior poder político e reconhecimento social, desafiando a hegemonia da nobreza. Pietro di Bernardone, pai de Francisco, era um proeminente membro dessa burguesia ascendente, um rico comerciante de tecidos.
2.2. Giovanni di Pietro di Bernardone:
Francisco nasceu Giovanni, filho de Pietro di Bernardone, um rico comerciante de tecidos, e de Pica Bourlemont, uma mulher de origem francesa. Apesar do nome dado pela mãe, seu pai, que estava em viagem de negócios na França quando ele nasceu, passou a chamá-lo de "Francesco" (o "pequeno francês") ao retornar, um apelido que pegou e se tornou seu nome.
A infância e juventude de Francisco foram marcadas pelo conforto e privilégios da rica burguesia ascendente de Assis. Seu lar, que se acredita ter sido na Piazzetta di S. Francesco Piccolino, onde hoje há uma pequena capela, ficava provavelmente acima ou ao lado da movimentada loja de tecidos de seu pai. Cresceu rodeado de sedas finas, brocados e o burburinho do comércio, aprendendo desde cedo a apreciar a vida boa. Gostava muito de festas e sonhava em ser cavaleiro e receber muitas glórias.
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| Casa onde nasceu São Francisco de Assis |
2.3. Conflitos Militares: Assis vs. Perugia
Além das lutas internas, Assis estava frequentemente envolvida em guerras externas, sendo Perugia a sua maior rival e inimiga.
Rivalidade Regional: Perugia era uma cidade vizinha maior e mais poderosa, e as duas comunas disputavam o controle de territórios, rotas comerciais e influência na região da Úmbria.
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| Antigo Mapa de Assis, |
A Batalha de Collestrada (1202): O conflito mais emblemático dessa rivalidade foi a Batalha de Collestrada. O motivo principal dessa guerra, e de tantas outras entre cidades vizinhas na Itália medieval, era a disputa por hegemonia regional, controle territorial e influência política e econômica.
Francisco, jovem e ávido por glória, participou dessa batalha do lado de Assis. A derrota foi esmagadora para Assis, e Francisco, assim como muitos outros assisienses, foi feito prisioneiro em Perugia por cerca de um ano.
A Prisão em Perugia (1202-1203): Como mencionamos, sua participação na guerra contra a rival Perugia foi um ponto de virada. A esperada glória militar transformou-se em derrota e cativeiro. Capturado e mantido preso nas masmorras de Perugia por quase um ano, Francisco testemunhou de perto a brutalidade da guerra e a fragilidade da vida. Essa experiência o abalou profundamente, não apenas fisicamente, mas também em seus sonhos de heroísmo.
Doença e Convalescença: Após ser libertado (provavelmente por resgate de seu pai), Francisco retornou a Assis, mas sua saúde estava debilitada. Sofreu de uma doença grave que o deixou acamado por um longo período. Durante essa convalescença, ele teve muito tempo para refletir sobre a futilidade de suas ambições passadas. As visões de cavalaria e glória começaram a perder o brilho diante da realidade da dor e da efemeridade da vida.
O "Primeiro Chamado" em Spoleto (1205): Já recuperado, mas ainda buscando um propósito, Francisco decidiu tentar novamente a vida militar, alistando-se para uma campanha na Apúlia. A caminho, em Spoleto, teve uma experiência mística decisiva. Enquanto dormia ou sonhava, ouviu uma voz que lhe perguntava: "Quem pode ser mais útil a ti: o servo ou o Senhor?". Quando Francisco respondeu: "O Senhor", a voz continuou: "Então por que deixas o Senhor para ir atrás do servo e do homem?". Essa mensagem clara o fez retornar a Assis, abandonando de vez a carreira militar e marcando o início de uma profunda transformação.
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| São Francisco a cavalo, foto de © Rcursano em dreamstime.com |
A partir desse momento em Spoleto, embora ainda não fosse sua conversão plena, Francisco começou a ver o mundo com outros olhos. As festas perderam o encanto, as riquezas pareciam vazias e a busca por glória humana deu lugar a uma inquietação espiritual que o levaria a uma jornada de despojamento e fé.
Capítulo 3: O Drama da Conversão e o Nascimento do "Poverello"
3.1. O Encontro com o Leproso (O Início da Virada): Um dia, enquanto cavalgava pelos campos próximos a Assis, Francisco avistou um leproso que se aproximava pela estrada. Sua primeira e instintiva reação foi a de sempre: recuar, desviar o caminho e se afastar o mais rápido possível para evitar qualquer contato.
No entanto, algo diferente aconteceu naquele momento. Uma graça interior o impulsionou a fazer o contrário de sua inclinação natural. Sentindo-se guiado por uma força maior, Francisco desmontou do seu cavalo.
Dominando seu profundo medo e aversão, ele se aproximou do homem. Não se limitou a dar-lhe uma esmola, um gesto já raro para a época. Em um ato de suprema humildade e amor, Francisco beijou a mão do leproso.
O Desaparecimento e a Revelação
Após esse ato radical de caridade, Francisco olhou para trás, mas o leproso havia desaparecido misteriosamente. Não havia ninguém na estrada. Este evento, para Francisco, não foi uma mera coincidência. Ele interpretou o desaparecimento como um sinal divino, uma espécie de teste ou epifania, onde a figura do leproso talvez fosse uma manifestação do próprio Cristo ou de um anjo.
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| Francisco e o Leproso, fonte Irmãs franciscanas de Alcantara |
3.2. "Francisco, Vai e Restaura Minha Casa":
Em meio a essa busca e serviço aos mais marginalizados, Francisco frequentemente se retirava para orar em capelas e igrejas abandonadas nos arredores de Assis. Em uma dessas ocasiões, ele entrou na pequena e semi-arruinada igreja de São Damião, fora dos muros da cidade.
Enquanto orava diante do antigo crucifixo bizantino que ali estava, Francisco ouviu uma voz clara vindo da imagem: "Francisco, vai e restaura minha casa, que, como vês, está em ruínas". Inicialmente, Francisco interpretou as palavras literalmente. Ele pensou que Deus queria que ele reconstruísse fisicamente aquela capela e outras igrejas em ruínas. Com entusiasmo e movido por esse "chamado", vendeu alguns tecidos do pai (sem permissão) e até seu cavalo para conseguir fundos para a reconstrução.
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| Interior da Igreja de São Francisco com réplica do crucifixo |
Seu pai, Pietro di Bernardone, enfurecido e envergonhado pelas atitudes "loucas" do filho, pela dilapidação de seu patrimônio e pelo abandono das expectativas de uma vida respeitável, decidiu intervir.
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| Crucifixo original de São Damíano, foto HistoriacomGosto |
3.3. O Despojamento na Praça do Bispo: O Ato Radical de Renúncia
O clímax desse drama pessoal e público ocorreu na Piazza della Cattedrale di San Rufino, a praça principal de Assis, em frente ao Palácio Episcopal e à Catedral de São Rufino. Pietro di Bernardone convocou o filho perante o Bispo Guido de Assis, exigindo que Francisco renunciasse a todo o seu patrimônio e devolvesse o dinheiro que havia gastado.
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| Praça da Catedral de São Rufino, foto HistoriacomGosto |
Diante de uma multidão curiosa e de seu pai furioso, Francisco fez mais do que apenas devolver o dinheiro. Em um ato de despojamento radical e profundo simbolismo, ele tirou todas as suas vestes finas, entregando-as a seu pai, e proclamou: "Até agora chamei Pietro di Bernardone de pai; de agora em diante poderei dizer 'Pai Nosso que estais nos céus'."
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Despojamento São Francisco, Giotto, 122x, Basilica de São Francisco de Assis |
Ao ficar nu, simbolicamente ele se despojava de todas as amarras e expectativas do mundo material, de sua identidade social e de sua herança. O Bispo Guido, chocado, mas compreendendo a profundidade do gesto, cobriu-o com seu próprio manto. Naquele momento, Giovanni di Pietro di Bernardone morria para o mundo, e nascia o "Poverello" de Assis, Francisco, o servo de Deus, que abraçava a pobreza, a vida evangélica e o serviço aos mais necessitados como seu único propósito.
Capítulo 4: Os Locais de Oração e a Fundação Franciscana
4.1. A Porciúncula (O Coração da Ordem):
Na época de São Francisco, no início do século XIII, a Porciúncula era uma capela em ruínas, abandonada e negligenciada, cercada por um pequeno bosque. Francisco a encontrou neste estado de degradação.
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| Porcíuncula protegida pela Basílica, foto HistoriacomGosto |
O Chamado Divino: Foi enquanto Francisco orava diante do crucifixo em San Damiano que ele ouviu a voz de Cristo dizendo: "Francisco, vai e restaura minha casa, que, como vês, está em ruínas." Inicialmente, ele interpretou isso literalmente e começou a restaurar fisicamente capelas caídas, incluindo a Porciúncula.
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| Porciúncula, foto |
Local da Fundação: A Porciúncula se tornou o lugar mais querido e sagrado para Francisco. Ele a restaurou com suas próprias mãos e a tornou o centro de sua vida e do movimento que viria a fundar. Foi lá que ele compreendeu mais profundamente sua vocação de viver o Evangelho de Cristo de forma radical, na pobreza e na simplicidade.
Local do Início da Ordem: Foi na Porciúncula que Francisco ouviu o Evangelho de Mateus sobre o envio dos discípulos (Mateus 10:7-10), que o inspirou a pregar sem bens, dinheiro, cajado ou sandálias. Este sermão marcou o início de sua pregação e a atração dos primeiros irmãos. |
| Interior da Porciúncula |
Origem das Clarissas: Santa Clara consagrou-se ali, dando início à Ordem das Clarissas.Santa Clara (nascida Chiara Offreduccio) fugiu de casa na noite de 18 para 19 de março de 1212, quando tinha 18 anos. Ela era uma jovem nobre de Assis, de uma família rica e influente, e sua família tinha planos para um casamento arranjado, como era comum na época. No entanto, Clara foi profundamente tocada pela pregação de São Francisco de Assis e pela sua forma radical de viver o Evangelho. Ela desejava dedicar sua vida a Deus na pobreza, seguindo o exemplo de Francisco.
O Perdão de Assis é uma indulgência plenária especial concedida pela Igreja Católica, que pode ser obtida por fiéis em certas condições, especialmente na Porciúncula.
A Visão de São Francisco: Em 1216, São Francisco estava em profunda oração na pequena capela da Porciúncula (Santa Maria dos Anjos). Ele teve uma visão na qual Jesus Cristo e a Virgem Maria, rodeados de anjos, apareceram para ele. Jesus perguntou a Francisco o que ele desejava para o bem das almas.
O Pedido de Francisco: Cheio de amor pelos pecadores, Francisco ousou pedir a Jesus uma graça extraordinária: que todos aqueles que, arrependidos e confessados, entrassem na capela da Porciúncula recebessem o perdão total de seus pecados, uma indulgência plenária, sem a necessidade de pagar nada por isso.
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| Perdão de Assis, fonte Vatican News |
A Resposta de Jesus e o Mandato ao Papa: Jesus aprovou o pedido de Francisco, mas o instruiu a ir ao Papa Honório III para obter a confirmação oficial. "Vá ao meu Vigário na Terra", disse Jesus, "e em Meu nome peça esta indulgência."
A Concessão Inicial do Papa: Francisco obedeceu imediatamente. Ele viajou até o Papa Honório III que estava em Perugia e apresentou o pedido. O Papa, inicialmente hesitante pela amplitude do pedido, que era incomum para a época, acabou concedendo a indulgência, mas de forma limitada: inicialmente, ela seria válida apenas para o dia 2 de agosto de cada ano, somente para quem visitasse a Porciúncula. É por isso que o dia 2 de agosto é a Festa do Perdão de Assis.
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| São Francisco anuncia o perdão de Assis |
A Ampliação da Indulgência: Com o tempo, a Igreja compreendeu a profundidade e a misericórdia deste dom espiritual. A indulgência do Perdão de Assis foi ampliada para que, além da Porciúncula, possa ser obtida em qualquer igreja franciscana do mundo (e, para os fiéis em geral, em qualquer igreja paroquial, uma vez por ano, também no dia 2 de agosto ou no dia seguinte, mediante as condições habituais).
Para quem visita a Porciúncula: A Porciúncula é o coração do Perdão de Assis. Ao entrar nesta pequena e sagrada capela dentro da Basílica de Santa Maria dos Anjos, você está no local exato onde São Francisco pediu essa graça e onde a indulgência foi concebida. É um convite à conversão, ao arrependimento e à experiência da infinita misericórdia de Deus.
A Morte de Francisco: Francisco pediu para ser levado de volta à Porciúncula em seus últimos dias e lá morreu em 3 de outubro de 1226. O local exato de sua morte está conservado com o nome de "Capela do Trânsito" e é um dos locais sagrados na basílica.  |
Capela do Trânsito, Basilica Santa Maria degli Angeli, Assis, foto Wolfgang Sauber, wikipedia |
A Basílica de Santa Maria dos Anjos:
Hoje, a pequena capela da Porciúncula está encapsulada e protegida dentro da vasta Basílica Papal de Santa Maria dos Anjos (Basilica di Santa Maria degli Angeli), construída em torno dela para preservar o local santo e acomodar os peregrinos. É um testemunho notável de como algo tão pequeno e humilde pode ser o berço de um movimento tão grandioso.
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| Fachada Basilica Santa Maria degli Angeli, fonte holyart.pt |
Jardim das rosas e Capela das rosas
Uma passagem pela sacristia dá acesso ao Jardim das Rosas, tudo o que restou da antiga floresta na qual São Francisco e seus irmãos viviam. Aqui ele conversava com as pombas, convidando-as a louvar a Deus. E pombas fazem ninhos nas mãos da estátua de São Francisco há muitos séculos.
De acordo com a tradição, atestada já no final do século XIII, São Francisco, numa noite na qual sentiu a tentação de abandonar seu modo de vida, rolou nu sobre espinheiros numa tentativa de se livrar das dúvidas. Em contato com seu corpo, os espinheiros se transformaram em rosas-caninas, que desde então crescem no jardim. O chamado "Milagre das Rosas" deu origem ao nome do jardim.
O local conta também com uma loja de fragancias, artigos religiosos, museu e do lado de fora com uma excelente livraria.
4.2. O Eremitério das Celas / Prisões (Eremo delle Carceri):
O Eremo delle Carceri (Eremitério das Celas) é um local de profunda espiritualidade franciscana, aninhado nas encostas do Monte Subasio, acima de Assis. É um dos locais mais tocantes e representativos da vida de São Francisco e da essência da sua Ordem.
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| Eremo degli Carceri, foto HistoriacomGosto |
Ele se refere a um eremitério, um local de retiro e meditação. É um complexo de cavernas naturais e pequenas celas construídas nas fendas rochosas da montanha, a cerca de 4 km de Assis. O local era conhecido desde os tempos antigos e já era usado por eremitas para a oração e o recolhimento antes da chegada de São Francisco.
Início com São Francisco (c. 1205-1226): Após sua conversão e com o crescimento de sua fraternidade, São Francisco e seus primeiros companheiros começaram a procurar lugares de solidão para se dedicar à oração contemplativa. O Eremo delle Carceri, com suas grutas naturais e seu isolamento na floresta, era o lugar perfeito para isso..jpeg) |
| Eremo degli Carceri, foto HistoriacomGosto |
Retiro e Contemplação: Francisco e seus irmãos usavam o eremitério para períodos de retiro, oração, jejum e meditação profunda. Era um refúgio do mundo, onde podiam se conectar diretamente com Deus através da natureza e do silêncio. Eles passavam tempo em oração solitária nas pequenas grutas, ou se reuniam para orar juntos e discutir a Palavra de Deus.
Conexão com a Natureza: Francisco tinha uma profunda reverência pela natureza como manifestação da criação divina. O Eremo, cercado por uma floresta exuberante de carvalhos e oliveiras, permitia-lhe viver em total harmonia com os animais e as plantas, reforçando sua espiritualidade ecológica.
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| Eremo degli Carceri, foto HistoriacomGosto |
Contraste com a Porciúncula: Enquanto a Porciúncula era o "quartel-general" e o centro da vida comunitária e da pregação, o Carceri era o local de introspecção e recarga espiritual. Francisco entendia a necessidade de equilibrar a vida ativa de pregação com a vida contemplativa de oração.
Atualmente um Mosteiro: A estrutura original de grutas foi ampliada ao longo dos séculos com a construção de um pequeno convento e uma igreja, mas a simplicidade e a atmosfera de recolhimento foram preservadas. Os locais preservados incluem:
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| Eremo degli Carceri, foto HistoriacomGosto |
Capela de Santa Maria delle Carceri: É a igreja principal do complexo, construída sobre uma das grutas originais.
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| Eremo degli Carceri, foto HistoriacomGosto |
Grutas de Francisco e Companheiros: As pequenas grutas e celas onde Francisco e os primeiros irmãos rezavam e dormiam podem ser visitadas. Há uma "cama" de pedra para Francisco e um buraco conhecido como "Buraco do Diabo", onde, segundo a lenda, Francisco teria expulsado um demônio.
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Cela de São Francisco, Eremo degli Carceri, foto HistoriacomGosto |
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| Capela de São Francisco, foto HistoriacomGosto |
Topo do Monte Subasio
O cume do Monte Subasio é um planalto extenso, menos rochoso e mais arredondado do que as áreas mais íngremes de suas encostas. É caracterizado por prados abertos, frequentemente pastagens para ovelhas e cavalos selvagens, com vistas panorâmicas espetaculares da planície da Úmbria, das cidades vizinhas (como Perugia, Spello, Foligno) e dos Apeninos ao longe. É parte do Parque Regional do Monte Subasio, uma área protegida. O ambiente é frequentemente ventoso, silencioso e oferece uma sensação de vastidão e isolamento.
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| Topo do Monte Subásio, foto HistoriacomGosto |
O ponto mais alto do Monte Subasio, conhecido como "Cima del Monte Subasio", está a aproximadamente 1.290 metros acima do nível do mar. O Eremo delle Carceri, localizado nas encostas do Monte Subasio, está a uma altitude de aproximadamente 791 metros acima do nível do mar.
Apesar da diferença de 500 metros, é possível que São Francisco também visitasse o topo desse monte procurando lugares ainda mais afastados.
4.3. Santa Clara e a Ordem das Damianitas (Clarissas):
Clara Offreduccio nasceu em Assis em 1193, em uma família nobre. Desde cedo, sentiu um chamado à vida religiosa, mas foi profundamente inspirada pela pregação e pelo exemplo radical de pobreza e devoção de São Francisco. Ela via nele a encarnação viva do ideal evangélico que buscava.
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Santa Clara de Assis, Simone Martini (1312–1320), localizada na Basílica de São Francisco, Assis |
O Mentor Espiritual: Após ouvir Francisco pregar na igreja de São Jorge, Clara decidiu que queria seguir o mesmo caminho de radical pobreza. Ela buscou a orientação de Francisco, que se tornou seu mentor espiritual.
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Entrada da Casa de Santa Clara, praça Catedral, foto HistoriacomGosto
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A Noite Decisiva (Domingo de Ramos de 1212): Na noite do Domingo de Ramos de 1212, Clara, com cerca de 18 anos, fugiu de sua casa para encontrar-se com Francisco e seus primeiros irmãos na Porciúncula. Lá, ela renunciou ao mundo: Francisco cortou seus longos cabelos, e ela trocou suas ricas vestes por um hábito simples, tornando-se a primeira mulher a seguir a forma de vida franciscana. Este ato marcou sua "união" espiritual e o início de sua vida consagrada.
Investidura de Santa Clara
Naquela noite memorável, Clara deixou sua casa secretamente, acompanhada por sua tia e uma amiga, e dirigiu-se à pequena capela de Santa Maria dos Anjos (a Porciúncula), que era o berço da fraternidade franciscana. Lá, ela foi recebida por São Francisco e seus primeiros irmãos.
A cerimônia de investidura foi simples, mas profundamente simbólica:
- Corte do Cabelo: Francisco, ou um dos frades sob sua instrução, cortou o longo cabelo louro de Clara, que era um símbolo de sua beleza, status social e laços com o mundo. O corte de cabelo (tonsura) era um rito tradicional de renúncia ao mundo e dedicação a Deus.
- Entrega do Hábito: Clara trocou suas vestes luxuosas por um rústico hábito de saco (uma túnica simples de tecido grosseiro) e recebeu um véu, símbolos de sua nova vida de pobreza, penitência e consagração a Cristo.
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Investidura de Santa Clara, afresco de Baldassarre Croce, Basilica de Santa Clara, Assis, fonte La Porziuncula
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Este ato marcou sua renúncia definitiva à vida secular e sua entrada na vida religiosa, selando seu compromisso com os ideais franciscanos de pobreza evangélica e seguimento de Cristo.
Após a cerimônia na Porciúncula, São Francisco sabia que Clara não poderia permanecer ali com os frades, nem poderia voltar para casa, onde sua família certamente tentaria fazê-la desistir. Por isso, ele a levou provisoriamente para dois mosteiros beneditinos próximos: Inicialmente para o Mosteiro das Beneditinas de São Paulo das Abadessas e depois para o Mosteiro de Santo Ângelo de Panzo.
A Fundação da Ordem das Damianitas (Pobres Damas de San Damiano)
Pouco tempo depois, Francisco a instalou na pequena igreja de São Damião, que ele mesmo havia restaurado e onde Clara já tinha um forte laço espiritual, pois era ali que Francisco havia recebido o crucifixo que lhe pediu para "reconstruir sua Igreja".
Ali, ela foi acompanhada por sua irmã, Inês, e outras mulheres que também desejavam viver em pobreza e oração. Este foi o embrião da Ordem.
São Damião tornou-se o berço e a casa da nova ordem feminina que Clara fundou, as "Pobres Damas de São Damião", mais tarde conhecidas como Clarissas. Lá, ela viveu o resto de sua vida (mais de 40 anos).
As "Damianitas": Originalmente conhecidas como as "Pobres Damas" ou "Damas de San Damiano". Elas viviam em estrita clausura, dedicadas à oração contemplativa, ao trabalho manual e, acima de tudo, à pobreza radical.
O Privilegium Paupertatis: A grande batalha de Clara foi a defesa do "Privilégio da Pobreza" (Privilegium Paupertatis), que significava que o mosteiro não podia possuir bens nem rendimentos, dependendo totalmente da providência divina e das esmolas.
Mesmo com pressões da Igreja para que aceitasse posses comunitárias para a segurança do mosteiro, Clara perseverou e obteve a aprovação final de sua Regra pelo Papa Inocêncio IV em 1253, pouco antes de sua morte.
Expansão: A Ordem, mais tarde conhecida como Ordem de Santa Clara ou Clarissas, expandiu-se rapidamente, e muitos mosteiros foram fundados em toda a Europa, seguindo o exemplo de Assis.
A União de Clara com Francisco (Espiritual e de Propósito)
A "união" de Santa Clara e São Francisco não foi romântica, mas sim uma profunda união espiritual e de propósito. Eles compartilhavam:
Uma Mesma Visão: Ambos buscavam viver o Evangelho de Jesus Cristo de forma literal e radical, abraçando a pobreza, a humildade e o serviço.
Mútua Inspiração: Francisco inspirou Clara a deixar o mundo, e Clara, por sua vez, foi um apoio constante para Francisco, encorajando-o em seus momentos de dúvida e dor. Sua fidelidade à "Senhora Pobreza" foi um farol para o próprio Francisco.
Respeito e Companheirismo: Mantiveram uma amizade e um respeito mútuos até o fim de suas vidas, baseados na fé e no amor a Deus. Francisco visitava o mosteiro de Clara em San Damiano para conselhos e orações.
Capítulo 5: O Legado e a Glória (A Assis do "Depois" e de Agora)
5.1 - A Catedral de San Rufino
A Catedral de San Rufino foi construída sobre as ruínas de uma antiga basílica romana e um templo pagão. Sua história remonta ao século V, quando um templo dedicado à Bona Mater foi adaptado para se tornar a primeira catedral cristã de Assis. Ela é dedicada a São Rufino de Assis, o primeiro bispo e mártir da cidade, cujos restos mortais foram trasladados para este local no século XI.
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| Catedral de San Rufino, foto |
Nave e Altar central
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| Catedral de san Rufino, foto HistoriacomGosto |
Capela do Santíssimo
A capela mostrada na imagem é uma das capelas auxiliares e é notável por sua decoração em estilo barroco e afrescos com temática da Eucaristia, pintados por Giacomo Giorgetti em 1663.
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| Catedral de san Rufino, foto HistoriacomGosto |
Teto da Catedral
A imagem mostra a abóbada da Capela do Santíssimo Sacramento, que fica na Catedral de San Rufino, em Assis, Itália. A capela é conhecida pela sua decoração em estilo barroco e afrescos de Giacomo Giorgetti, que datam de 1663. O afresco central, que domina o teto, representa a Eucaristia.
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Catedral de San Rufino, foto HistoriacomGosto
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Estátua de Santa Clara
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| Estátua de Santa Clara, foto HistóriacomGosto |
A imagem mostra a estátua de Santa Clara de Assis, esculpida por Amalia Dupré, que se encontra no interior da Catedral de San Rufino, na cidade de Assis, Itália.
A estátua representa a santa, que foi cofundadora da Ordem das Clarissas e seguidora de São Francisco de Assis, segurando um ostensório. Esta representação é simbólica de um evento em que Santa Clara, ao segurar o ostensório com a hóstia consagrada, conseguiu afastar um exército de sarracenos que invadia o Convento de San Damiano, salvando tanto o convento quanto a cidade de Assis
5.2. A Basílica Patriarcal de São Francisco:
A Basílica Papal de São Francisco de Assis é um dos locais mais importantes do cristianismo e uma obra-prima da arte medieval, Patrimônio Mundial da UNESCO. Ela não é apenas um lugar de oração, mas um livro aberto sobre a história da arte italiana e da vida franciscana.
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| Basilica de São Francisco de Assis, foto HistoriacomGosto |
A construção da Basílica começou logo após a canonização de São Francisco pelo Papa Gregório IX, em 16 de julho de 1228. O terreno foi doado por Simone di Pucciarello e era conhecido como "Colina do Inferno" (Colle dell'Inferno) por ser o local onde os criminosos eram executados. Foi rebatizado como "Colina do Paraíso" (Colle del Paradiso) após o início da construção.
O arquiteto é tradicionalmente atribuído a Frei Elias de Cortona, um dos primeiros companheiros de São Francisco, embora a execução tenha envolvido muitos mestres-construtores ao longo das décadas. A obra foi notavelmente rápida para a época, dada a sua grandiosidade.
A Transferência do Corpo de São Francisco
A transferência do corpo de São Francisco para a recém-construída Basílica ocorreu em 25 de maio de 1230. Essa foi uma procissão solene, mas também secreta e tensa. Devido ao temor de que o corpo do santo pudesse ser roubado por cidades vizinhas (um costume da época para adquirir relíquias preciosas e prestígio), Frei Elias organizou a transferência de forma oculta. O corpo foi sepultado em um local secreto nas profundezas da igreja, onde permaneceu desconhecido por séculos, até ser redescoberto em 1818.
Arte na Basílica
A Basílica de Assis é uma enciclopédia da pintura italiana dos séculos XIII e XIV, reunindo obras dos maiores mestres da época.
Por Que Duas Basílicas: Inferior e Superior
A Basílica é, na verdade, um complexo de duas igrejas sobrepostas, além de uma cripta. Essa estrutura é única e possui razões arquitetônicas, litúrgicas e simbólicas:
5.2.1 - Basílica Inferior:
Função: Servir como o local de sepultamento de São Francisco e, inicialmente, para orações mais íntimas e peregrinações à tumba do santo.
Ambiente: É mais escura, mais baixa e com uma atmosfera mais contemplativa e mística, remetendo à humildade e à penitência de Francisco.
Arquitetura: Sua estrutura robusta e com pouca luz natural ajuda a criar um ambiente de recolhimento.
Arte na Basílica Inferior:
A Basílica Inferior é um labirinto de capelas ricamente decoradas, com uma atmosfera mais sombria e introspectiva.
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| Visão geral do transepto norte |
Cimabue: É possível encontrar obras de Cimabue na Basílica Inferior, especialmente no transepto e nas paredes do altar-mor. Seus afrescos aqui, como a "Maestà com São Francisco e Anjos", mostram sua transição do estilo bizantino, com figuras mais humanas, mas ainda com uma certa formalidade. A influência da sua arte é notável na dramaticidade e na monumentalidade.
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| Cimabue, Maestá com São Francisco e Anjos |
Giotto: Embora mais conhecido pelos afrescos na Basílica Superior, Giotto também contribuiu significativamente para a Basílica Inferior, especialmente com as "Cenas da Vida de São Francisco" (embora a autoria em algumas partes seja debatida entre ele e seu círculo) e alegorias nas velas do teto sobre o altar-mor, como a "Alegoria da Pobreza", "Obediência" e "Castidade". Cenas também na Capela de Maria Madalena. Sua pintura aqui já demonstra a inovação na representação de emoções e volumetria.
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| Giotto, "Não me retenhas", livro Giotto, I Grandi Maestri |
Simone Martini: Um dos grandes mestres do estilo gótico sienense. Suas obras na Basílica Inferior são de particular destaque, especialmente na Capela de São Martinho de Tours, onde ele pintou um ciclo de afrescos sobre a vida do santo. A elegância, o colorido vibrante e a expressividade gótica de Simone Martini são evidentes.
Pietro Lorenzetti: Outro mestre sienense, responsável por um ciclo impressionante na Capela de São João Batista e de Maria Madalena (Capela de São Nicolau), incluindo cenas da Paixão de Cristo, com um realismo e intensidade emocional que prenunciam o Renascimento.
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| Crucificação, Pietro Lorenzetti, meisterdruck |
Outros Artistas: Artistas romanos e de outras escolas também contribuíram, tornando a Basílica Inferior um testemunho da diversidade e riqueza da pintura italiana da época.
5.2.2 - Cripta
Localizada sob o altar-mor da Basílica Inferior, a cripta é o coração espiritual do complexo.
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Cripta com o túmulo de São Francisco, basilica de São Francisco, Assis, foto Canção Nova |
Túmulo de São Francisco: Contém o sarcófago de pedra onde repousam os restos mortais de São Francisco, descoberto em 1818. A simplicidade do local, com sua pedra bruta e ausência de ornamentos exagerados, reflete o espírito de pobreza do santo.
Túmulos dos Primeiros Companheiros: Ao redor do túmulo de Francisco, estão as sepulturas de quatro de seus mais fiéis e primeiros companheiros: Frei Leão, Frei Rufino, Frei Ângelo e Frei Masseo.
Ambiente: É um local de profundo silêncio e oração, onde peregrinos de todo o mundo vêm venerar o fundador da Ordem Franciscana.
5.2.3 - Basílica Superior:
Função: Destinada a grandes celebrações litúrgicas, sermões e como um "livro de imagens" para os fiéis, contando as histórias bíblicas e a vida de São Francisco através de seus afrescos.
Ambiente: É mais alta, mais espaçosa e banhada em luz natural, simbolizando a glória celestial e a exaltação da mensagem franciscana.
Arquitetura: Com suas amplas janelas e paredes altas, foi idealizada para exibir grandes ciclos de afrescos.
A combinação das duas permitiu criar um santuário completo: um local de veneração ao santo (inferior) e um espaço para a proclamação da Palavra e a celebração da fé (superior).
Arte na Basilica Superior :
A Basílica Superior é um espaço luminoso e grandioso, concebido para contar histórias através de imagens, quase como uma "Bíblia dos Pobres".
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| Basilica Superior, foto em wikipedia |
Cimabue: Foi um dos primeiros a trabalhar na Basílica Superior, e seus afrescos no transepto e na abside são monumentais. As "Cenas do Apocalipse" e da "Vida da Virgem" e de "São Pedro" são exemplos. Infelizmente, muitos de seus afrescos aqui estão em um estado precário devido à oxidação do branco de chumbo, que os tornou escuros, quase em "negativo", dificultando a percepção original das cores, incluindo o azul. No entanto, ainda revelam a dramaticidade e a expressividade do mestre.
Giotto (e o Ciclo Franciscano): O grande destaque da Basílica Superior é o famoso ciclo de 28 afrescos que retratam a "Vida de São Francisco" na nave. Embora a atribuição total a Giotto seja debatida (alguns estudiosos sugerem a participação de seu ateliê e de outros mestres romanos), a série é considerada um marco na história da arte ocidental. Giotto revolucionou a pintura ao introduzir um realismo sem precedentes.
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| São Francisco prega para os pássaros, Giotto |
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| O extase de São Francisco, Giotto |
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| São Francisco desafia o Sultão, Giotto |
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| São Francisco recebe os estigmas, Giotto |
5.3 - Basilica de Santa Clara
A construção da Basílica de Santa Clara começou em 1257, apenas quatro anos após a morte de Santa Clara (em 1253) e dois anos após sua canonização (em 1255) pelo Papa Alexandre IV. O projeto foi dirigido pelo arquiteto Filippo da Campello.
Arquitetura: A basílica é um belo exemplo do gótico italiano, com uma característica fachada em faixas de pedra rosa e branca do Monte Subasio, e um impressionante rosetão. O campanário quadrado é robusto e elegante. O interior é espaçoso e luminoso, com um transepto elevado e uma nave única.
Localização: A basílica foi erguida sobre os alicerces da antiga Igreja de San Giorgio (São Jorge), um local de grande importância para São Francisco também, pois foi ali que ele aprendeu a ler e a escrever, e onde seu corpo foi temporariamente sepultado antes de ser transferido para a Basílica de São Francisco.
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| Basilica de Santa Clara, foto HistoriacomGosto |
Nomeação: Passou a ser chamada oficialmente de Basílica de Santa Clara após sua construção e dedicação à santa, consolidando seu papel como santuário para a memória e os restos mortais de Clara.
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Altar principal, Basilica de Santa Clara, foto HistoriacomGosto |
O crucifixo original que, segundo a tradição, falou a São Francisco na capela de San Damiano, pedindo-lhe para "reconstruir a sua Igreja", está guardado e exposto na Capela do Crucifixo, dentro da Basílica de Santa Clara. .jpeg) |
| Crucifixo de São Damiano, foto HistoriacomGosto |
Após a morte de Santa Clara, as Clarissas (Pobres Damas) mudaram-se da pequena capela de San Damiano para o novo e mais seguro complexo da Basílica de Santa Clara, que foi construído para abrigá-las e para honrar sua fundadora. Ao se mudarem, elas trouxeram consigo o crucifixo que era tão sagrado para sua Ordem e para a história de seu pai espiritual, São Francisco.
Cripta
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Entrada da Cripta de Santa Clara, foto HistoriacomGosto |
5.4 - Igreja do Despojamento: O Testemunho de Carlo Acutis:
Esta é a antiga catedral da Diocese da Úmbria. Ela data dos séculos XI e XII , mas foi construída sobre um edifício mais antigo da era cristã primitiva, que por sua vez foi erguido sobre uma domus romana .
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| Igreja do despojamento, foto Wikipedia |
Com um decreto datado de 25 de dezembro de 2016, o bispo Domenico Sorrentino o erigiu como um Santuário do Despojamento, recordando o famoso e marcante gesto de São Francisco , que ocorreu mesmo perto do local de culto.
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| Nave principal, foto HistoriacomGosto |
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| Capela do Santíssimo, foto HistoriacomGosto |
A intenção era revalorizar o significado espiritual do "despojamento" na vida cristã – não apenas o despojamento material, mas também o despojamento do ego, da arrogância, do preconceito, para abraçar Cristo e o Evangelho de forma plena.
Carlos Acutis
Carlo tinha uma profunda devoção a São Francisco e a Assis. Ele visitava a cidade frequentemente e expressava o desejo de ser enterrado lá, o que aconteceu. O Santuário do Despojamento, com sua nova missão, tornou-se o local ideal para abrigar seus restos mortais e perpetuar sua mensagem.
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| Corpo do Santo Carlos Acutis, foto HistoriacomGosto |
A escolha deste local para o corpo de Carlo Acutis não é aleatória. O bispo de Assis e as autoridades da Igreja viram em Carlo Acutis um exemplo contemporâneo de "despojamento". Embora não tenha se despojado fisicamente de suas roupas como São Francisco, Carlo se "despojou" das coisas mundanas e efêmeras em uma era digital, para se dedicar integralmente a Deus, à Eucaristia e à evangelização através da internet.
5.5 - A comuna de Assis atualmente
Assis hoje é uma cidade que harmoniosamente entrelaça sua rica história milenar com uma beleza natural deslumbrante. O coração da cidade é o seu centro histórico, um labirinto encantador de ruas estreitas, que sobem e descem, revelando a cada curva igrejas medievais, praças pitorescas e antigas casas de pedra. É aqui que se sente a atmosfera autêntica da Assis de São Francisco e Santa Clara, com seus edifícios históricos e a imponente Basílica de São Francisco.
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| Assis, foto HistoriacomGosto |
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| Assis, foto HistoriacomGosto |
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| Assis, foto HistoriacomGosto |
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| Assis, foto HistoriacomGosto |
Fora das muralhas medievais, e se estendendo pela planície, encontra-se uma área mais moderna e plana, dominada pela magnífica Basílica de Santa Maria degli Angeli. Esta área serve como um ponto de acesso mais contemporâneo para a cidade e abriga a Porciúncula, o berço da Ordem Franciscana, dentro da própria basílica.
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| Vista da parte plana a partir da subida ao Eremi degli Carcere, foto HistoriacomGosto |
Circundando e abraçando a cidade, permanecem extensas áreas de natureza preservada, onde a serenidade e a paisagem intocada são protagonistas. O Monte Subasio, em particular, eleva-se majestoso, oferecendo não apenas um pano de fundo espetacular, mas também um refúgio de paz com seus bosques densos, prados abertos e trilhas que convidam à contemplação e ao contato com a criação, exatamente como São Francisco fazia séculos atrás. Assis, assim, continua a ser um lugar onde a espiritualidade, a arte e a natureza coexistem em perfeita sintonia.Capítulo 6: O recebimento dos Estigmas no Monte Alverne (Toscana)
Em setembro de 1224, dois anos antes de sua morte, São Francisco retirou-se para um período de quaresma em honra a São Miguel Arcanjo no Monte Alverne (La Verna), uma montanha solitária e rochosa na Toscana, que lhe havia sido doada pelo Conde Orlando de Chiusi. Ele estava acompanhado por alguns poucos companheiros, buscando um lugar de solidão e profunda oração.
Francisco dedicava-se intensamente à oração e ao jejum, meditando profundamente na Paixão de Cristo. Na manhã do dia 14 de setembro, festa da Exaltação da Santa Cruz, enquanto Francisco orava fervorosamente e contemplava o amor de Cristo que se entregou por nós, ele teve uma visão extraordinária.
Apareceu-lhe um serafim alado com seis asas, que descia do céu. Esse serafim não era um anjo comum, mas sim a figura de Cristo crucificado. A imagem do crucifixo estava impressa entre as asas do serafim, que voava em sua direção.
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São Francisco recebendo os estigmas, 1295 a 1300, Giotto Di Bondone, Museu do Louvre |
Ao término da visão, Francisco sentiu uma dor aguda e, ao olhar para suas mãos e pés, viu que neles haviam aparecido as marcas dos pregos, como as de Cristo na cruz. Em seu lado direito, havia uma ferida que parecia ter sido feita por uma lança. Essas eram as chagas de Cristo, os estigmas.
As marcas eram visíveis: as mãos e os pés tinham protuberâncias que imitavam as cabeças dos pregos, e as pontas dobravam-se para o outro lado, como se as tivesse atravessado. A ferida no lado sangrava ocasionalmente e lhe causava grande dor.
Francisco, profundamente comovido e com dor física, carregou esses estigmas com grande humildade, tentando escondê-los do mundo, mas muitos de seus companheiros e o Papa Gregório IX puderam testemunhá-los.
Este evento é o ápice da santidade de Francisco e a prova mais concreta de sua total conformidade com Cristo (imitatio Christi). Os estigmas fizeram dele o primeiro santo na história cristã conhecido por ter recebido publicamente as chagas da Paixão de Cristo, consolidando seu legado como o alter Christus (outro Cristo) e aprofundando o caráter místico e sacrificial de sua espiritualidade. O Monte Alverne tornou-se, assim, um dos santuários franciscanos mais sagrados e um local de intensa peregrinação.
Capítulo 7: O Apelo de São Francisco para o Leitor de Hoje
7.1. A Mensagem de Assis:
A visita em Assis é um convite à reflexão sobre a renúncia, a simplicidade e a fraternidade. A mensagem de São Francisco é baseada em amor ao próximo, amor a natureza e à toda criação de Deus, com um completo desapego às coisas materiais. O seu poema "Cântico das Criaturas" que colocamos aqui abaixo descreve bem o seu pensamento.
Cântico das Criaturas
1 Altíssimo, omnipotente, bom Senhor, a ti o louvor, a glória, a honra e toda a bênção.
2 A ti só, Altíssimo, se hão-de prestar e nenhum homem é digno de te nomear.
3 Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o meu senhor irmão Sol, o qual faz o dia e por ele nos alumia.
4 E ele é belo e radiante, com grande esplendor: de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem.
5 Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e as estrelas: no céu as acendeste, claras, e preciosas, e belas.
6 Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento e pelo ar, e nuvens, e sereno, e todo o tempo, por quem dás às tuas criaturas o sustento.
7 Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é tão útil, e humilde, e preciosa e casta.
8 Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo, pelo qual alumias a noite, e ele é belo e jucundo e robusto e forte.
9 Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa, e produz variados frutos, com flores coloridas, e verduras.
10 Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor e suportam enfermidades e tribulações.
11 Bem-aventurados aqueles que as suportam em paz, pois por ti, Altíssimo, serão coroados.
12 Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal, à qual nenhum homem vivente pode escapar.
13 Ai daqueles que morrem em pecado mortal! Bem-aventurados aqueles que cumpriram tua santíssima vontade, porque a segunda morte não lhes fará mal.
14 Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças e servi-o com grande humildade.
Observação - Franciscanos.org.br
Quase moribundo, compôs São Francisco o Cântico das criaturas. Até ao fim da vida queria ver o mundo inteiro num estado de exaltação e louvor a Deus. No outono de 1225, enfraquecido pelos estigmas e enfermidades, ele se retirou para São Damião. Quase cego, sozinho numa cabana de palha, em estado febril e atormentado pelos ratos, deixou para a humanidade este canto de amor ao Pai de toda a criação.
A penúltima estrofe, que exalta o perdão e a paz, foi composta em julho de 1226, no palácio episcopal de Assis, para pôr fim a uma desavença entre o bispo e o prefeito da cidade. Estes poucos versos bastaram para impedir a guerra civil. A última estrofe, que acolhe a morte, foi composta no começo de outubro de 1226.
A oração do santo diante do crucifixo de São Damião e o Cântico do Sol são as únicas obras de São Francisco escritas em italiano antigo e, por isso, são dos mais importantes documentos literários da linguagem popular. Foi nesta língua que ele certamente ditou a maioria de seus escritos, antes que os irmãos versados em letras os traduzissem para a língua comum da época, o latim.
7.2. O Convite à Ação:
O nosso blog é um blog de história sobre os locais que visitamos. Esse ano acompanhando o ano do Jubileu realizamos uma peregrinação aos locais santos da Itália. Neles refletimos a vida dos santos e as palavras dos Papas mais recentes - Papa Francisco com as encíclicas Dilexi nos (Ele nos amou) e Papa Leão XIV (Eu te amei), onde ambos nos convidam a resgatar a simplicidade e as atos de Jesus em seu amor ao próximo. Fé, Esperança e Caridade, sempre!
Capítulo 8 - Referências
Giotto - I grandi Maestri dei arti - SCALA
Guida storico-artistica Assisi - Itinerario Francescano
Eremo delle carceri - Assisi (P aola Mercurelli)
La Porziuncola (Il luogo piu amato da san Francesco) - Stefano Orsi
La bsilica di San Francesco di Assisi - SCALA
Wikipedia - Assis, São Francisco de Assis
ChatGpt - Assis, São Francisco de Assis
HistoriacomGosto - Notas e fotos de viagem
Le stimmate di San Francesco e la rinascita dell'uomo - Zdzislaw Josef
San Francesco - Preghiere