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quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Fez, a capital imperial do Marrocos

 1. - Introdução - A Fundação de Fez e Seus Primeiros Habitantes


Antes mesmo da chegada do Islã, a região onde Fez floresceria já era habitada por diversas tribos berberes, como os Sanhaja, Zenata e Masmouda. Essas comunidades viviam em assentamentos dispersos, aproveitando as terras férteis do vale do rio Fez. Não havia, contudo, uma cidade unificada ou um grande centro urbano como o que viria a ser construído.

 Visão geral de Fez, foto de em dreamstore.com

A história de Fez como a conhecemos começa com a chegada da Dinastia Idrisid.


2. - Resumo Histórico


2.1 - Dinastia Idrisid (789 - 974 d.C.): O Nascimento da Capital Espiritual

Após a Revolução Abássida (750 d.C.), que derrubou os Omíadas e estabeleceu o Califado Abássida em Bagdá, os descendentes de Ali ibn Abi Talib (genro e primo do Profeta Maomé, e quarto califa do Islão), conhecidos como Alids, foram vistos como uma ameaça ao novo poder. Os Abássidas temiam que os Alids, por sua linhagem sagrada, pudessem reunir apoio e contestar sua legitimidade.

Um evento crucial foi a revolta Alid em Meca, que resultou na brutal Batalha de Fakhkh. Muitos Alids foram massacrados, e os que sobreviveram tiveram que fugir para escapar à perseguição.

Entre os poucos sobreviventes estava Idris ibn Abd Allah al-Kamil, um descendente direto de Hasan, neto do Profeta Maomé. Para salvar sua vida e a linhagem de sua família, Idris I fugiu do Oriente Médio, atravessando o Egito e o Magrebe (norte da África).

A Escolha do Marrocos e a Ascensão de Idris I

Idris I encontrou refúgio na região do Magrebe, que na época era um mosaico de tribos berberes diversas e independentes, muitas das quais haviam abraçado o Islam, mas mantinham uma forte autonomia local. O poder abássida no Magrebe era fraco e descontínuo, e havia diversas rebeliões e movimentos sectários.

Abertura Política: Essa fragmentação e a distância de Bagdá tornavam o Magrebe um local ideal para Idris I estabelecer um novo centro de poder independente.

Apoio Berber: Ele foi acolhido pela poderosa tribo berbere Awraba, que residia perto da antiga cidade romana de Volubilis (Walili, em árabe). Reconhecendo sua linhagem sagrada e seu carisma, os Awraba, liderados por Abu al-Hassan Musa ibn Abi al-Afia, o proclamaram Imã em 789 d.C.

Berber no deserto, foto HistoriacomGosto


Legitimidade Religiosa: A descendência de Idris I do Profeta Maomé conferia-lhe uma imensa autoridade religiosa (baraka), o que foi fundamental para sua aceitação e para a unificação das tribos berberes sob sua liderança. Ele se apresentou como um líder justo e piedoso, capaz de trazer ordem e uma forma "pura" do Islão.

A Razão Principal para a Escolha do Local de Fez (e o papel de Idris II)

Idris I iniciou a construção de um assentamento na margem direita do rio Fez, conhecido como Madinat Fas (Cidade de Fez). No entanto, o verdadeiro arquiteto da cidade como uma grande capital foi seu filho e sucessor, Idris II.

Idris I foi assassinado em 791 d.C., supostamente por envenenamento a mando do califa abássida Harun al-Rashid. Seu filho, Idris II, nasceu pouco depois e assumiu o trono ainda criança. Ao atingir a maioridade, Idris II, com sua visão e energia, percebeu que precisava de uma capital que refletisse a ambição de sua nova dinastia e servisse como um centro estratégico e econômico.

A escolha do local para Fez, mais especificamente, foi motivada por várias razões cruciais:

Abundância de Água: O Oued Fez (Rio Fez), com seus afluentes e fontes, garantia um suprimento constante e abundante de água potável para a população e para a irrigação das terras agrícolas circundantes. A água era vital para o crescimento de uma grande cidade, especialmente em uma região semiárida.

Oued Fez (Rio Fez), foto https://ouedaggai.com/


Solo Fértil: O vale do rio Fez possuía terras férteis, ideais para a agricultura, o que garantiria o sustento da população e o desenvolvimento econômico baseado na produção de alimentos. 

Posição Estratégica e Defensável: O local oferecia uma posição naturalmente defensável, rodeada por colinas. Essa topografia facilitava a construção de muralhas e a proteção contra ataques. 

Muralhas em Fez, foto em dreamstime.com


Além disso, Fez estava localizada em um ponto de intersecção de rotas comerciais importantes:

Recursos Naturais para Construção: A região oferecia argila, madeira e pedras, materiais essenciais para a construção das habitações, mesquitas, mercados e infraestruturas necessárias para uma cidade em crescimento.

Visão de Idris II: Idris II não se contentou com um simples assentamento. Ele tinha a visão de construir uma verdadeira metrópole, um centro político, econômico, religioso e cultural que rivalizasse com as grandes cidades do Oriente. Em 808 d.C., ele fundou uma segunda cidade na margem esquerda do rio, Al-Aliya, incentivando ativamente a migração de artesãos, comerciantes, estudiosos e famílias muçulmanas de Kairouan (atual Tunísia) e, crucialmente, de Al-Andalus (Península Ibérica).

- Os imigrantes de Al-Andalus se estabeleceram predominantemente na margem esquerda (Al-Aliya), que ficou conhecida como "Adwat al-Andalus" (bairro dos Andaluzes).

- Os imigrantes de Kairouan e outras partes do Magrebe se estabeleceram na margem direita (Madinat Fas), conhecida como "Adwat al-Qarawiyyin" (bairro dos Kairuaneses).

- Essa imigração trouxe consigo um vasto conhecimento em arquitetura, urbanismo, artesanato, teologia e comércio, impulsionando o desenvolvimento e a sofisticação da cidade.
 
  • Desenvolvimentos Significantes:

- A criação de Fez marcou o nascimento da primeira capital islâmica do Marrocos, um centro de poder e fé.

- Em 859 d.C., duas irmãs, Fatima al-Fihri e Mariam al-Fihri, filhas de um rico comerciante tunisiano, fundaram instituições que mudariam Fez: Fatima fundou a Universidade de Al-Qarawiyyin (inicialmente uma mesquita e centro de ensino) e Mariam a Mesquita de Al-Andalus.

Al-Qarawiyyin é reconhecida hoje como a universidade mais antiga do mundo ainda em funcionamento, solidificando a importância de Fez como um farol do saber islâmico.

Universidade de Al-Qarawiyyin, foto de   em dreamstime.com


A fundação dos Idrisid representou uma secessão do poder abássida, estabelecendo um califado independente no oeste islâmico.

2.2 - O Período Zenata (Séculos X e XI): Fragmentação e Disputa


Após a queda dos Idrisid, Fez entrou em um período de instabilidade. A cidade tornou-se um ponto de disputa entre as grandes potências regionais da época: o Califado Fatímida (do Egito) e o Califado Omíada de Córdoba (na Península Ibérica).

Fez trocou de mãos várias vezes, e o poder foi frequentemente exercido por chefes tribais locais  Zenata, resultando em um período de relativa estagnação em termos de grandes construções, com foco maior em fortificações.

2.3 Dinastia Almorávida (1061 - 1146 d.C.): Unificação e Expansão


Os Almorávidas unificaram as duas partes de Fez (Fas al-Bali e Al-Aliya), derrubando as muralhas internas que as dividiam. 

Eles fortaleceram as muralhas externas da cidade, construíram novas pontes e renovaram a infraestrutura urbana, preparando Fez para se tornar uma metrópole de um vasto império. 

A cidade prosperou como um centro comercial e intelectual dentro do império Almorávida, que se estendia desde o Senegal até a Península Ibérica.

A conquista de Fez pelos Almorávidas foi parte de um movimento maior de unificação e expansão do seu império.                  

Lanceiro Almoravida, 
gravura de ru.pinterest.com

2.4 - Dinastia Almóada (1146 - 1248 d.C.): 


Os Almóadas, com sua doutrina religiosa mais rigorosa, destruíram muitas das construções almorávidas que consideravam contrárias aos seus princípios. 

Eles reconstruíram e reforçaram significativamente as muralhas de Fez, dando-lhes a monumentalidade que ainda é visível hoje. 

Embora a capital do império Almóada tenha sido transferida para Marrakech, Fez manteve sua importância como um centro religioso e intelectual, um bastião da ortodoxia e do saber.

Califa Almoada, autor não identificado

 
A conquista Almóada de Fez foi marcada por um cerco violento, que resultou em grande destruição antes da sua subjugação.

2.5 - Dinastia Merínida (1248 - 1465 d.C.): A Idade de Ouro Imperial de Fez


Os Merínidas fizeram de Fez a sua capital imperial, inaugurando o que muitos consideram a "Idade de Ouro" da cidade.

Em 1276, Abu Yusuf Yaqub fundou Fes el-Jdid (Nova Fez), adjacente à antiga medina (Fez al-Bali). Esta nova cidade incluía o majestoso Palácio Real, o Mellah (bairro judeu, inicialmente estabelecido pelos Almóadas, mas expandido pelos Merínidas) e uma grande mesquita, tudo protegido por novas muralhas.

Os Merínidas foram grandes patronos da educação e da arquitetura, construindo inúmeras e belíssimas madrassas (escolas corânicas) que ainda hoje são maravilhas arquitetónicas de Fez: Madrassa Bou Inania, Madrassa Attarine, Medersa Sahrij e Madrassa Saffarine, entre outras. Fez tornou-se o epicentro do saber islâmico no Magrebe.

Houve um grande desenvolvimento urbano, comercial e cultural, com a cidade atraindo estudiosos, comerciantes e artesãos de todo o mundo islâmico. 

A ascensão dos Merínidas consolidou seu poder sobre o Marrocos e Fez, mas também foi marcada por confrontos com os reinos cristãos na Península Ibérica, que contribuíram para o aumento da população de judeus e muçulmanos andaluzes em Fez.


2.6 - Dinastia Wattásida (1465 - 1549 d.C.): Declínio e a Presença Portuguesa


Houve um enfraquecimento do poder central e disputas internas. 

O tempo com os Portugueses: Embora Fez não tenha sido conquistada ou ocupada diretamente pelos portugueses, este período foi marcado pela intensa expansão portuguesa no litoral marroquino. Cidades costeiras como Ceuta, Tânger, Arzila, Safim, Azemmour e Mazagão foram ocupadas ou fortificadas por Portugal. Essa presença gerou grande pressão econômica e militar sobre o reino de Fez. Os Wattásidas tentaram, com pouco sucesso, resistir a esse avanço, o que enfraqueceu ainda mais sua autoridade e abriu caminho para uma nova dinastia.


2.7 - Dinastia Saadiana (1549 - 1659 d.C.): Renascimento e Vitórias Decisivas


Os Saaditas unificaram o Marrocos, expulsando os Wattásidas. Embora Fez tenha perdido seu status de capital principal para Marrakech durante parte do seu reinado, a cidade continuou a ser um importante centro cultural e religioso.

Eles investiram na construção de fortificações para proteger o reino, inclusive Fez, contra a crescente ameaça otomana e cristã.

O comércio transaariano, especialmente de ouro, prosperou sob os Saaditas.

A Batalha de Alcácer-Quibir (ou Batalha dos Três Reis) em 1578 foi um evento definidor. Nela, as forças Saadianas, com algum apoio otomano, derrotaram decisivamente o exército português e seu rei D. Sebastião, que morreu em combate. Esta vitória não apenas cimentou a independência marroquina, mas também encerrou as ambições portuguesas de dominar o Marrocos e marcou um período de grande prestígio para a dinastia Saadiana.

2.8 - Dinastia Alaouite (1666 d.C. - Presente): A Dinastia Reinante

Após um período de anarquia que se seguiu à queda dos Saaditas, os Alaouites emergiram para restaurar a unidade do Marrocos. Fez alternou como capital com Meknès e, mais tarde, Rabat. 

A dinastia Alaouite tem sido a guardiã do patrimônio religioso e cultural de Fez, mantendo e renovando suas mesquitas e medersas. 

A cidade continuou a ser um polo de educação islâmica e de artesanato tradicional. 

A ascensão dos Alaouites marcou o fim da anarquia e o início de uma nova era de estabilidade relativa. A dinastia resistiu a várias tentativas de invasão europeia ao longo dos séculos.

2.9 - Protetorado Francês e Independência (1912 - 1956): Modernização e Luta Nacionalista


Em 1912, o Tratado de Fez foi assinado na cidade, estabelecendo oficialmente o Protetorado Francês sobre o Marrocos, o que trouxe profundas mudanças políticas e sociais.  

O tratado deu à França o direito de ocupar certas partes do país com o pretexto de proteger o sultão da oposição interna e de manter as rédeas reais do poder, preservando a máscara de governo indireto composta pelo sultão e pelo governo xarifiano. Segundo os termos, o Residente-Geral francês detinha poderes absolutos em assuntos externos e internos e era o único capaz de representar Marrocos em países estrangeiros. O sultão, no entanto, manteve o direito de assinar os decretos (dahirs), que foram submetidos pelos Residentes-Gerais.

Foi durante este período que se construiu a "Ville Nouvelle" (Cidade Nova) fora das muralhas da medina, com infraestruturas modernas, estradas e edifícios de estilo europeu, separada da antiga Fez (Fes al-Bali), que foi preservada como um monumento histórico.  

Houve muitas reações em Fez e ela perdeu seu status de capital política para Rabat, que se tornou a sede administrativa do protetorado.  




A ocupação colonial impulsionou o crescimento do movimento nacionalista marroquino, que culminou na independência do país em 1956.

2.10 - Marrocos Independente (1956 - Presente): Preservação e Continuidade


Após a independência, Fez manteve sua importância como um centro cultural, religioso e espiritual.

Em 1981, a medina de Fes al-Bali foi classificada como Patrimônio Mundial da UNESCO, reconhecendo seu valor histórico e arquitetônico inestimável. Desde então, tem havido um esforço contínuo para a preservação e restauração de seus monumentos.

A cidade continua a ser um centro vibrante de artesanato, educação e turismo, atraindo visitantes de todo o mundo que buscam mergulhar em sua história milenar.

O atual rei do Marrocos, Mohamed VI, é da dinastia Alauita


3. - A Fez de Hoje, o que ver e visitar

3.1. Universidade e Mesquita de Al-Qarawiyyin

Construção: Fundada em 859 d.C. por Fatima al-Fihri, inicialmente como uma mesquita. Evoluiu ao longo dos séculos para se tornar uma universidade.

Governantes na Época: Dinastia Idrisid.

Mesquita e Universidade de Al-Qarawiyyin, foto @Saiko3p em Dreamstime.com


Importância: É considerada a universidade mais antiga do mundo ainda em operação, segundo a UNESCO e o Guinness World Records. Foi um dos maiores centros intelectuais e religiosos do mundo islâmico, atraindo estudantes e estudiosos de todas as partes. Sua biblioteca abrigava manuscritos preciosos. É o coração espiritual e educacional de Fez.

Estado Atual: A mesquita continua ativa e é um local de oração importante. A universidade moderna, embora separada, mantém a tradição de ensino islâmico. Não muçulmanos não podem entrar na sala de orações principal da mesquita, mas podem admirar o pátio e o exterior através das portas abertas.

3.2. Madrassa Bou Inania


Construção: Construída entre 1350 e 1357 d.C.

Governantes na Época: Sultão Abu Inan Faris, da Dinastia Merínida.

Importância: É uma das madrassas (escolas corânicas) mais magníficas de Fez, e a única com um minarete. Sua arquitetura é um ápice da arte merínida, com trabalhos em estuque esculpido, madeira de cedro entalhada, azulejos zellige intrincados e caligrafia árabe. Serviu tanto como escola quanto como mesquita.

Madrassa Bou Inania, foto   em dreamstime.com


Estado Atual: Foi restaurada e está muito bem preservada. É aberta a visitantes (não muçulmanos podem entrar), que podem admirar os detalhes impressionantes e a tranquilidade de seu pátio.

3.3 Madrassa Al-Attarine

Construção: Construída entre 1323 e 1325 d.C.

Governantes na Época: Sultão Abu Said Uthman II, da Dinastia Merínida.

Importância: Nomeada em homenagem aos vendedores de especiarias (attarine) na souk adjacente, esta madrasa é um exemplo sublime da arquitetura merínida. Menor que a Bou Inania, é igualmente impressionante por seus detalhes minuciosos em mármore, cedro e azulejos. Reflete a riqueza cultural e o apreço pela educação dos Merínidas.

Madrassa Al-Atarine, foto  em dreamstime


Estado Atual: Restaurada e aberta ao público. É uma das madrassas mais visitadas e admiradas por sua beleza e atmosfera íntima.

Madrassa Al-Atarine, foto HistoriacomGosto

Madrassa Al-Atarine, foto  HistoriacomGosto

3.4. Curtumes Chouara


Construção: Datam do século XI (período Almorávida), mas com técnicas e estruturas que foram desenvolvidas ao longo dos séculos.

Curtumes_Fez, foto HistoriacomGosto


Governantes na Época: Continuamente em uso através das diversas dinastias, representando uma tradição ancestral.

ImportânciaSão os maiores e mais antigos curtumes do mundo, onde o couro é processado da forma mais tradicional, usando corantes  naturais e métodos seculares. É uma experiência sensorial única (e olfativa!) que demonstra a resiliência das tradições artesanais de Fez.

Estado Atual: Operacional diariamente, com os trabalhadores processando o couro da mesma maneira há séculos. Os visitantes podem observar o processo dos terraços das lojas de couro circundantes.

3.5. Bab Bou Jeloud (A Porta Azul)


Construção: A porta atual foi construída em 1913, mas substitui uma porta mais antiga que já existia no mesmo local desde o período Merínida.

Governantes na Época: Período do Protetorado Francês, mas em um local de importância histórica para as dinastias anteriores.

Importância: É o principal portão de entrada para a Medina de Fez al-Bali. Sua fachada azul (voltada para o exterior) e verde (voltada para o interior) é icônica e representa a transição do mundo moderno para o labirinto histórico da medina. É um ponto de encontro e um marco visual da cidade.



Estado Atual: Em excelente estado, funciona como o principal acesso à medina e é um dos locais mais fotografados de Fez.

3.6 Museu Nejjarine de Artes e Ofícios em Madeira (Fondouk Nejjarine)


Construção: O fondouk (estalagem para comerciantes e seus animais) original data do século XVIII.

Governantes na Época: Dinastia Alaouite.

Importância: Este edifício é um magnífico exemplo da arquitetura tradicional marroquina, com um pátio central e galerias de madeira intrincadamente esculpida. Antigamente, servia de pousada para comerciantes e artesãos. Hoje, abriga um museu dedicado à arte da madeira, desde ferramentas antigas a instrumentos musicais e objetos domésticos.

Fondouk/Caravançarai, foto de Josep Renalias,
licenciado por Wikipedia, Creative commons


Estado Atual: Foi cuidadosamente restaurado e transformado em um museu. Está muito bem conservado e é um dos museus mais bonitos de Fez, com um café no terraço que oferece vistas da medina.

3.7. Zaouia de Moulay Idriss II


Construção: O santuário foi construído no século IX, mas a estrutura atual do mausoléu e mesquita data de várias reformas, sendo a principal no século XVIII.

Governantes na Época: Diversas dinastias, com renovações significativas sob os Alaouites.

Importância: Abriga o túmulo de Moulay Idriss II, o filho de Idris I e o verdadeiro fundador da cidade de Fez. É um dos locais mais sagrados do Marrocos, um ponto de peregrinação para muçulmanos que buscam bênçãos.

      Zaouia de Moulay Idriss II, foto de https://www.fez-guide.com/


Estado Atual: É uma mesquita e santuário ativo, um local de grande devoção. Não muçulmanos não podem entrar no santuário principal, mas podem observar o movimento e a fachada elaborada.

3.8. Fábrica de cerâmicas e vasos


Importância: A cerâmica de Fez é uma das mais antigas e renomadas tradições artesanais do Marrocos, com raízes que remontam a séculos. Ela se destaca pela sua beleza, complexidade de design e a distintiva coloração azul cobalto, conhecida como "Azul de Fez", embora outras cores vibrantes também sejam utilizadas. A importância dessa arte reside não apenas na sua função utilitária e decorativa, mas também no seu papel como guardiã de técnicas ancestrais passadas de geração em geração. É um pilar da identidade cultural de Fez e do Marrocos.

Fábrica de Mosaicos e Vasos, Foto HistoriacomGosto


Fabricação e TécnicasO processo de fabricação da cerâmica de Fez é intensamente manual e exige grande perícia.
  • Matéria-prima: A argila de Fez é extraída de depósitos locais e é conhecida por sua qualidade. Ela é amassada, filtrada e preparada para garantir a maleabilidade e ausência de impurezas.
  • Modelagem: Os artesãos modelam os vasos, pratos, tigelas e outros objetos em rodas de oleiro tradicionais. A forma e simetria perfeitas são alcançadas através de anos de prática.
Inserção de pedras coloridas, foto HistoriacomGosto
  • Secagem e Queima: As peças são secas naturalmente ao sol e depois queimadas em fornos tradicionais a lenha, que podem atingir altas temperaturas e dar à cerâmica sua durabilidade.
  • Decoração: Esta é talvez a fase mais característica. Após a primeira queima (bisque), as peças são pintadas à mão com intrincados padrões geométricos, arabescos e motivos florais. O "Azul de Fez" é obtido a partir de óxidos de cobalto.
Pintura de prato, foto HistoriacomGosto
  • Vidrado e Segunda Queima: Uma camada de esmalte transparente é aplicada e as peças são queimadas novamente em temperaturas mais baixas, o que confere o brilho característico e fixa as cores.
Produtos finais

Mesa / Parede, foto HistoriacomGosto


pratos e vasos, foto HistoriacomGosto


paredes, foto HistoriacomGosto

 
Governantes da Época:  Durante os períodos dos Idríssidas, Almorávidas, Almóadas e Merínidas, a cidade de Fez se estabeleceu como um centro de aprendizado e arte. Os governantes desses impérios frequentemente apoiavam e patrocinavam os artesãos, reconhecendo o valor cultural e econômico de suas obras.

Estado Atual:  Atualmente, a indústria da cerâmica em Fez continua a ser um setor vital para a economia local e para a preservação cultural. Ainda existem inúmeras oficinas e fábricas, muitas delas localizadas nos arredores da medina de Fez, onde visitantes podem observar todo o processo de perto.

3.9. Borj Nord (Fortaleza do Norte)


Construção: Construída em 1582 d.C.

Governantes na Época: Dinastia Saadiana.

Importância: Esta fortaleza imponente foi construída para proteger a cidade e para controlar a população após a conquista Saadiana.

Atualmente, abriga um museu de armas, com uma vasta coleção de armamentos que ilustram a história militar do Marrocos. A vista de suas muralhas é excelente.

Fortaleza do Norte, foto de © Bendem em dreamstime.com


Estado Atual: Bem preservada e transformada em museu, acessível ao público.

3.10. Mellah (Bairro Judeu)

  • Construção: Estabelecido no século XIV, mas a maior parte das construções atuais data do século XVII em diante.
  • Governantes na Época: Dinastia Merínida (estabelecimento), e posterior desenvolvimento sob os Alaouites.
  • Importância: Fez abrigava uma das maiores e mais antigas comunidades judaicas do Marrocos. O Mellah é um testemunho da coexistência religiosa e da vibrante cultura judaica que floresceu na cidade por séculos. A arquitetura é distinta, com casas de varandas e janelas viradas para a rua, diferentemente das casas dentro da medina.
Mellah (bairro judeu) de Fez, foto de © Leonid Andronov em dreamstime.com

  • Estado Atual: A maioria dos judeus deixou Fez, mas o bairro ainda existe, com sua arquitetura peculiar e algumas sinagogas e o cemitério judeu que podem ser visitados.

3.11. Sinagoga Aben Danan

  • Construção: Datada do século XVII.
  • Governantes na Época: Dinastia Alaouite.
  • Importância: É a sinagoga mais proeminente e bem preservada do Mellah de Fez. Serve como um importante lembrete da rica herança judaica da cidade e da diversidade religiosa que caracterizou Fez por muitos séculos.
Sinagoga Aben Danan, foto R Prazeres, wikimedia commons


  • Estado Atual: Restaurada e aberta para visitas, muitas vezes com um guardião que pode contar a história do local.

3.12. Place Seffarine (Praça dos Caldeireiros/Cobreiros)

  • Construção: As oficinas e a praça existem há séculos, com a atividade se concentrando ali desde o período Merínida.
  • Governantes na Época: Atividade contínua através das dinastias.
  • Importância: É um dos poucos locais na medina onde se pode ver artesãos trabalhando o metal ao ar livre, criando peças de cobre e latão marteladas. O som dos martelos batendo no metal é característico. É um centro de artesanato vivo e autêntico.
Praça Seffarine, foto de Om.rehlat.com

  • Estado Atual: Totalmente funcional, com oficinas ativas e lojas vendendo os produtos acabados. É um local vibrante e barulhento, cheio de energia.

3.13. Dar Batha Museum

  • Construção: Final do século XIX.
  • Governantes na Época: Dinastia Alaouite, sob o reinado do Sultão Moulay Hassan I.
  • Importância: Originalmente um palácio, foi convertido em museu em 1915 durante o Protetorado Francês. Abriga uma excelente coleção de artefatos marroquinos tradicionais, incluindo cerâmica de Fez (especialmente a cerâmica azul), madeira entalhada, tapetes antigos e instrumentos musicais. O jardim andaluz do palácio é um oásis de tranquilidade.
Dar Batha Museum, foto R Prazeres em dreamstime.com

  • Estado Atual: Muito bem preservado e aberto ao público como museu.

3.14. Mesquita Al-Andalus

  • Construção: Fundada em 859 d.C. por Mariam al-Fihri, irmã de Fatima al-Fihri (fundadora de Al-Qarawiyyin).
  • Governantes na Época: Dinastia Idrisid.
  • Importância: Uma das duas mesquitas originais fundadas no século IX em Fez, servindo o bairro dos imigrantes de Al-Andalus (Península Ibérica). Embora muitas vezes ofuscada pela Al-Qarawiyyin, é historicamente significativa como parte do projeto de Idris II de criar uma cidade próspera e diversificada.
Mesquita dos Andalusinos, foto de Mx. Granger,
em wikipedia commons

  • Estado Atual: É uma mesquita ativa. Não muçulmanos não podem entrar na sala de orações principal, mas podem ver o exterior.


3.15. Palácio Real de Fez (Dar al-Makhzen)


Palacio Real de Fez, foto  em dreamstime.com

Construção: A construção original data do século XIII (período Merínida), mas o complexo foi extensivamente ampliado e embelezado ao longo dos séculos pelas dinastias seguintes, especialmente pelos Alaouites.

Governantes na Época: Dinastia Merínida (original), Dinastia Alaouite (expansões e atual).


Portas douradas no Palácio Real de Fez, foto  em dreamstime.com


Importância: É uma das residências oficiais do Rei de Marrocos em Fez. Embora não esteja aberto ao público, suas sete portas monumentais, ricamente ornamentadas com bronze, zellige e madeira de cedro, são um espetáculo à parte e refletem a grandeza da monarquia marroquina.

Estado Atual: O interior é restrito ao público, mas os visitantes podem admirar os magníficos portões do lado de fora. É um marco impressionante da arquitetura real marroquina.


4. - Considerações adicionais





5. Referência






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