domingo, 30 de novembro de 2025

O Duomo de Orvieto: A Catedral que Inspirou Michelangelo e Guarda um Milagre Eucarístico

I. Introdução 


Localizada no coração da Umbria, a Catedral de Orvieto (Duomo di Orvieto) representa muito mais que uma obra arquitetônica. É um testemunho vivo da interseção entre fé, arte e genialidade humana que caracterizou a Itália medieval e renascentista. Construída ao longo de três séculos (1290-1532), esta catedral foi erigida em honra a um evento extraordinário: o Milagre de Bolsena, ocorrido em 1263, que reafirmou a crença católica na transubstanciação.

Vista lateral da CAtedralde Orvieto, foto HistoriacomGosto


O que torna Orvieto verdadeiramente notável não é apenas sua arquitetura impressionante ou sua fachada de tirar o fôlego. É o fato de que seus frescos internos, particularmente o monumental Juízo Final de Luca Signorelli, exerceram uma influência profunda e documentada sobre Michelangelo Buonarroti

Há registros históricos de que Michelangelo passou três meses em Orvieto estudando as obras de Signorelli antes de conceber sua própria visão do Juízo Final na Capela Sistina.


II. - A Fachada — Quando a Pedra Canta


A fachada do Duomo de Orvieto é frequentemente descrita como uma sinfonia em mármore e ouro. Concebida originalmente por Arnolfo di Cambio (um dos maiores mestres da Idade Média Tardia) e posteriormente refinada pelo brilhante Lorenzo Maitani a partir de 1310, a fachada representa o apogeu da arquitetura gótica italiana.

Características Arquitetônicas Principais

Estilo Híbrido Gótico-Româniko: A fachada não segue o gótico francês puro, mas sim uma adaptação italiana que preserva elementos românicos. Isso cria uma harmonia visual única, onde a leveza gótica encontra a solidez românica.

Materiais Nobres: Construída em travertino (uma pedra calcária local de tom claro) intercalada com basalto escuro, criando um padrão de listras horizontais que prossegue pelo interior da catedral. Essa estratégia visual fortifica a continuidade arquitetônica entre exterior e interior.

Lateral Duomo Orvieto, foto HistoriacomGosto


Os Três Portais: A fachada apresenta três portais principais, alinhados com a estrutura tripartida do interior (nave principal + duas naves laterais). Cada portal é um estudo de iconografia bíblica, com relevos que narram histórias da Salvação.

Vista frontalda Catedral de Orvieto, foto HistoriacomGosto

A Rosácea Central: O grande rosácea central é adornado com vitrais coloridos que filtram a luz em padrões complexos. Este elemento não apenas serve função litúrgica (iluminar a nave), mas também simbólica: representava a conexão entre o divino (a luz) e o terreno (a catedral).

Ouro e Mosaicos: O que verdadeiramente distingue Orvieto de outras catedrais é o uso extensivo de mosaicos dourados na secção superior da fachada, especialmente após as reformas de 1581-1584, quando Cesare Nebbia redesenhou os mosaicos para representar cenas como o Batismo e a Ressurreição. Este ouro reflete a luz solar e cria um efeito de transcendência visual.




Dimensões e Escala

A fachada impressiona não apenas pela beleza, mas pela monumentalidade. Sua construção demorou mais de dois séculos para ser concluída (finalizando-se apenas no século XVI), um testemunho da complexidade do projeto e das mudanças estilísticas que Orvieto atravessou.

III. -  O Interior — A Nave Principal e seu Espaço Sagrado




Ao atravessar os portais da fachada, o visitante é recebido por um interior que parece suspender o tempo. A nave principal e suas duas naves laterais criam uma experiência espacial de grandiosidade contemplativa.

A catedral segue o plano tradicional de basílica cristã:

Três Naves: Colunas e pilares esbeltos dividem o espaço em três divisões verticais. A nave central é significativamente mais larga e elevada, criando uma hierarquia visual natural que guia os olhos do visitante em direção ao altar.

Interior da Basílica, Nave Central, Foto HistoriacomGosto


Alternância de Cores: Assim como na fachada, o interior mantém o padrão de travertino e basalto, listrado horizontalmente até aproximadamente 1,5 metros de altura. Esta continuidade cria uma coesão visual extraordinária entre exterior e interior.

Colunas Góticas Esguias: As colunas são delgadas, com capitéis ornamentados em estilo gótico. Diferentemente das colunas robustas do Renascimento, estas transmitem uma sensação de elevação espiritual.

Cobertura em Madeira: O teto original era uma estrutura de treliça em madeira, mantendo a leveza característica da arquitetura gótica. Este detalhe é menos óbvio que a pedra trabalhada, mas crucial para a acústica e para a sensação de espaço aberto.

Cobertura, foto HistoriacomGosto


As Pequenas Capelas Laterais

Ao longo das naves laterais, encontram-se dez pequenas capelas (cinco de cada lado). Originalmente, estas albergavam altares barrocos (adicionados no final do século XVI), que foram posteriormente destruídos durante reformas. Estas capelas serviam múltiplas funções: permitiam celebrações de missas simultâneas, ofereciam espaços para devoção privada e criavam uma série de "câmaras interiores" que fragmentavam o grande espaço em áreas mais íntimas.

A Experiência Sensorial

Dentro da nave principal, há uma qualidade quase hipnótica. A luz filtrada pelos vitrais cria um ambiente cromático dinâmico ao longo do dia. O eco dos passos sobre o piso de pedra, a escala monumental mas não opressiva, e a sensação de século após século de oração sedimentada nas pedras — tudo isso cria uma experiência que transcende a apreciação meramente estética.


IV.  A Capela San Briazio e o Juízo Final de  Luca Signorelli - A Inspiração de Michelangelo


A Capela San Brizio (também chamada de Capela da Maddalena ou Capela do Juízo Final) foi iniciada no final do século XIV como uma extensão da catedral. No entanto, permaneceu incompleta durante décadas. Em 1447, o Papa Nicolau V encomendou ao pintor Fra Angelico (um dos grandes mestres renascentistas) que iniciasse a decoração com frescos. Fra Angelico começou o projeto, mas o deixou inacabado ao se mudar para Roma.


Luca Signorelli: O Artista que Transformou a Capela


Foi Luca Signorelli (1441-1523), um mestre de Cortona, quem retomou e completou a obra entre 1499 e 1502. Signorelli era um virtuoso do desenho humano, especialmente de anatomia muscular em movimento — uma habilidade que o destacava entre seus contemporâneos.

Capela San Brizio, foto HistoriacomGosto


O Juízo Final de Signorelli: Uma Visão Apocalíptica

O Juízo Final de Signorelli é uma composição de vários andares visuais, que retrata o conceito medieval-renascentista do fim dos tempos:

Registro Superior: Cristo em Majestade, circundado pela Virgem Maria e santos. A representação é serena, mas dotada de autoridade divina incontestável.

Cristo, Luca Signorelli, foto HistoriacomGosto


 Teto Capela San Briazio, Luca Signorelli, foto HistoriacomGosto

Registro Médio: Anjos tocam trombetas que despertam os mortos. Os corpos emergem das sepulturas em estados variados: alguns recém-despertados, outros em transição entre morte e ressurreição. A anatomia é precisa, musculosa, quase escultural — como se Signorelli estivesse desafiando os próprios limites da pintura ao dar volume e tridimensionalidade aos corpos.

A Ressurreição da Carne, foto HistoriacomGosto
             

Registro InferiorO Inferno: Esta é a parte mais dramática. Demônios de aparência grotesca atormentam os pecadores em formas variadas. Há cenas de violência estilizada, de sofrimento moral representado através de contorções corporais. Crucialmente, aqui Signorelli não usa censura: corpos nus, expressões de agonia, deformidades — tudo feito com uma candidez artística que seria impensável um século depois.

Os Eleitos e os Condenados: À esquerda (tradicionalmente, o lado "bom"), os eleitos ascendem em paz. À direita, os condenados descem em caos. É uma narrativa visual clara, mas não simplista: há nuances, ambiguidades, personagens que parecem estar em limiar entre salvação e condenação.

Os eleitos no paraíso, Luca Signorelli,
foto Iorck Project, wikipedia

Descida dos condenados ao inferno, Luca Signoreli,
Catedral de Orveito, foto Yorck Project, wikipedia



A Influência em Michelangelo

Há documentação histórica indicando que Michelangelo passou três meses em Orvieto estudando os frescos de Signorelli, provavelmente entre 1497 e 1500, cerca de uma década antes de iniciar o Juízo Final na Capela Sistina (1536-1541). As principais novidades eram:

Dinâmica de Composição em Múltiplos Níveis: Ambos os artistas organizam a composição do Juízo Final em registros horizontais que contam a história simultaneamente.

Anatomia em Movimento: A maestria de Signorelli com corpos em ação — torcidos, voando, caindo — foi um laboratório vivo para Michelangelo. O trabalho com o nu masculino em situações de extrema emoção é evidente em ambas as obras.

Expressão Emocional Através da Forma Corporal: Ambos os artistas compreendem que a emoção pode ser transmitida não apenas através da fisionomia, mas através da postura, do gesto, da tensão muscular.

O Uso do Claroscuro Psicológico: Há uma diferença entre luz e escuridão nas obras de Signorelli que vai além do técnico; é moral e espiritual.

No entanto, Michelangelo também inovou. Seu Juízo Final é mais psichologicamente complexo, mais conflituoso. Enquanto Signorelli oferece uma narrativa relativamente clara (bem vs. mal), Michelangelo cria ambiguidade — figuras que poderiam ser anjos ou demônios, a salvação não parece certa, até para os eleitos.


V: O Altar Principal — O Coração Litúrgico


Situado no final da nave principal, o altar é o ponto focal visual mais importante. Em uma basilicamente tradicional, o altar simboliza o ponto onde o divino desce para o humano através da Eucaristia.

Altar Principal, foto HistoriacomGosto

Composição do Altar

O Retábulo (Retable): Embora os detalhes específicos variem de acordo com restauros sucessivos, o altar principal é adornado com um retábulo que historicamente incluía:Relevos em mármore representando santos e cenas religiosas

A Presbiteria Elevada: O altar é elevado sobre um degrau ou série de degraus, criando uma separação visual (mas não intransponível) entre o espaço dos fiéis e o espaço sagrado.

Decoração com Frescos: Atrás do altar, ocupa o ábside central, há uma série de frescos góticos danificados mas ainda visíveis dedicados à Vida da Virgem Maria. Estes frescos ocupam completamente as três paredes do ábside, criando um ambiente envolvente de narrativa bíblica. A Virgem Maria é retratada em momentos-chave de sua vida: a Anunciação, a Visitação, o Nascimento de Cristo, a Assunção.


VI: O Milagre de Bolsena — Quando a fé se tornou visível


A Narrativa do Milagre (1263)

No século XIII, a cristandade medieval estava dividida sobre uma questão teológica fundamental: a transubstanciação. Este dogma afirmava que durante a Eucaristia, o pão e o vinho se transformam literalmente no corpo e sangue de Cristo. Mas estava isso comprovado?

Um padre boêmio chamado Pietro da Praga viajava em peregrinação a Roma. Era um homem de fé, mas, como muitos intelectuais da época, alimentava dúvidas silenciosas sobre este mistério.

Em 1263, enquanto celebrava missa na pequena capela de Bolsena (uma vila próxima a Orvieto), algo extraordinário ocorreu. Ao elevar a hóstia consagrada sobre o cálice, sangue começou a escorrer do pão, manchando o corporal (o pano de linho usado para cobrir o cálice e receber eventuais partículas consagradas).

De acordo com os relatos, Pietro initially manteve compostura, completou a missa e informou imediatamente as autoridades eclesiásticas locais. O corporal manchado foi recuperado e enviado ao Papa Urbano IV, que estava residindo em Orvieto naquela época.

As Consequências Teológicas e Religiosas

O evento foi interpretado como uma confirmação divina da transubstanciação. O Papa Urbano IV não hesitou:

Instituiu a Festa de Corpus Christi (Corpo de Cristo), que ainda é celebrada anualmente pela Igreja Católica. Esta é uma das poucas ocasiões em que um evento específico e datado é comemorado universalmente.

Ordenou a Construção do Duomo de Orvieto especificamente para abrigar e honrar o corporal milagre. Em essência, Orvieto foi construída como um santuário para uma relíquia.

A Importância Histórica

Este evento é crucial para compreender a religiosidade medieval e renascentista:

Demonstra como a Igreja Católica usava eventos "miraculosos" para fortalecer a ortodoxia teológica durante períodos de questionamento.
Ilustra o poder da imageria visual na religião: uma mancha de sangue em linho se tornou o centro de uma catedral monumental e uma festa internacional.
Representa a intersecção entre fé pessoal (o padre em dúvida) e autoridade institucional (o Papa respondendo com decisão teológica).


VII: A CAPELA DO CORPORAL E SEU ALTAR — A RELÍQUIA SAGRADA


Se o Duomo foi construído para um propósito, a Capela do Corporal é o coração deste propósito.


Capela do Corporal, foto HistoriacomGosto

Construída em meados do século XIV (aproximadamente 1348), a Capela do Corporal está localizada no lado direito da nave principal. Sua localização estratégica permite que seja facilmente acessível aos peregrinos, mas mantém uma certa separação sagrada em relação ao espaço litúrgico geral.


Características Arquitetônicas

Estilo Gótico Refinado: A capela segue o estilo gótico que caracteriza o resto da catedral, com pilares delgados, arcos apontados e decoração esculpida.



Altar Suntuoso: O altar principal da capela é um exemplo de gótico tardio em todo seu esplendor. Originalmente, era adornado com: Esculturas em relevo, Motivos decorativos em ouro, Inscrições que narrativizam o Milagre de Bolsena

O Relicário do Corporal

O aspecto mais extraordinário é o relicário que abriga o corporal sangrento. Este relicário é uma obra-prima de ourivesaria e escultura:

Feito em Ouro, prata e pedras preciosas. O custo foi de aproximadamente 1.374 florins de ouro (uma soma astronômica para a época).

Geralmente em forma de torre ou estrutura arquitetônica em miniatura, refletindo o próprio Duomo. Esta é uma decisão simbólica intencional: o relicário em miniatura reflete a catedral maior, criando uma recursão visual.

O relicário é coberto com pequenas esculturas representando:Cenas do Milagre de Bolsena, Os Evangelistas, Santos e anjos, A Virgem Maria

O corporal em si é preservado dentro do relicário, protegido de danos ambientais, mas visível através de vidro ou abertura. Esta é uma solução engenhosa que equilibra preservação e devoção visual.




Historicamente, o corporal é removido e exibido em ocasiões especiais, notadamente: Festa de Corpus Chisti

A Capela é aberta para orações e Missas em horários ajustados com a diocese. É comum vermos grupos de peregrinos com padres em oração.

Esta prática mantém viva a devoção ao Milagre de Bolsena e conecta o passado medieval ao presente contemporâneo.

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

A Galeria Uffizi: O Coração e a Memória do Renascimento

I. Introdução


Para mergulhar na história, cultura, e esplendor histórico, da Itália, temos em Florença, o berço do Renascimento, um tesouro inestimável que transcende o tempo e a arte: a Galeria Uffizi. 

Galeria Uffizi, foto Arek N., Wikipedia, wikimedia commons


Esta galeria não é apenas um museu; é uma verdadeira guardiã da história e da arte do Renascimento. Localizada no berço deste movimento transformador, a Uffizi abriga a mais importante e deslumbrante coleção de obras-primas renascentistas do planeta.

A Uffizi não é apenas um dos museus mais antigos da Europa; ela é a própria transição do mundo medieval para a modernidade, um testemunho visual da revolução artística, filosófica e científica que floresceu na Itália. 


II.  História e Construção da Galeria Uffizi


A história da Galeria Uffizi é intrinsecamente ligada à ascensão e ao poder da família Medici, os grandes mecenas de Florença. No século XVI, Cosimo I de Medici, o primeiro Grão-Duque da Toscana, consolidou o domínio de sua família sobre a cidade e buscou centralizar o poder administrativo. Para isso, ele encomendou a construção de um grandioso edifício que abrigaria os escritórios (Uffizi, em italiano) dos magistrados florentinos. O projeto foi confiado ao renomado arquiteto Giorgio Vasari, que iniciou as obras em 1560.

Galeria Uffizi, foto Arek N., Wikipedia, wikimedia commons

  
Vasari concebeu uma estrutura monumental em forma de "U", com um longo corredor que conectava o Palazzo Vecchio (sede do governo) ao Palazzo Pitti (residência dos Medici) através do Corredor Vasari, uma passagem elevada e secreta. Embora o propósito original fosse administrativo, a paixão dos Medici pela arte logo transformou parte do complexo. Francesco I de Medici, filho de Cosimo, começou a utilizar o andar superior para exibir a vasta coleção de arte da família, que incluía pinturas, esculturas, joias e instrumentos científicos.

Ao longo das gerações, os Medici continuaram a expandir essa coleção, transformando os Uffizi em uma galeria privada de prestígio. Em 1765, Anna Maria Luisa de Medici, a última herdeira da linhagem principal, fez uma doação histórica à cidade de Florença, garantindo que as coleções Medici jamais seriam dispersas e estariam sempre disponíveis ao público. Assim, o que começou como escritórios administrativos tornou-se um dos primeiros museus públicos do mundo.


III. Importância Histórica para a Arte


A Galeria Uffizi é um pilar fundamental para qualquer compreensão do Renascimento italiano. Sua coleção não é apenas vasta, mas cronologicamente organizada, oferecendo uma documentação visual sem precedentes da evolução artística desde o século XIII até o século XVIII. Ao percorrer suas salas, o visitante testemunha a transição da arte medieval, com sua iconografia religiosa e bidimensionalidade, para a explosão de humanismo, perspectiva e realismo que definiu o Renascimento.

Ao caminhar por seus salões, você não está apenas vendo quadros e esculturas; você está testemunhando a essência de uma era em que a humanidade redescobriu seu potencial intelectual e criativo. É aqui que os legados de gênios como Leonardo da Vinci, Michelangelo, e Rafael são preservados, e onde a arte de Sandro Botticelli, com seus icônicos O Nascimento de Vênus e A Primavera, alcança seu apogeu. Não são apenas os quadros que estão ali. Eles foram pintados na região, por artistas que viviam ali ou no seu entorno.


IV. - Um resumo das principais salas e obras da Galeria Uffizi


A Galeria Uffizi é um labirinto de beleza, com salas dedicadas a períodos e artistas específicos, permitindo uma imersão profunda na história da arte.

Salas 2-6: Arte Medieval e Proto-Renascimento: Estas salas marcam o início da jornada, exibindo obras que precedem o Renascimento pleno. Aqui, encontramos a "Maestà" de Cimabue e a "Maestà de Ognissanti" de Giotto, que já demonstram uma ruptura com a rigidez bizantina, introduzindo volume e emoção nas figuras. A transição da arte gótica para as primeiras manifestações renascentistas é palpável.

Maestà de Ognissanti (ou Madonna Entronizada): uma famosa pintura em painel do artista italiano Giotto di Bondone, criada entre 1306 e 1310. A obra é um marco da transição da arte medieval para o Renascimento, exibindo um naturalismo e profundidade emocional inovadores para a época

Giotto rompeu com o estilo bizantino mais rígido, introduzindo figuras com volume, peso e expressões faciais mais naturalistas, criando uma ilusão de profundidade e um senso de espaço habitável no trono, algo inédito na época.

O fundo dourado luxuoso simboliza a luz divina e o reino celestial, enquanto as vestes de Maria (azul) e Jesus (vermelho) carregam simbolismos cristãos tradicionais.

Maestá de Ognissanti, Giotto, 1306-1310

Maestá de Santa Trinita (Madonna e o Menino entronizados), Cimabue, 1288-1292

A pintura, de proporções monumentais, segue o tema comum da Maestà (Majestade), que retrata a Virgem Maria entronizada com o Menino Jesus, cercada por anjos. Cimabue introduziu inovações notáveis para a época, afastando-se da rigidez do estilo bizantino tradicional.

O trono é apresentado de frente, com degraus curvos que criam uma ilusão de profundidade e um espaço arquitetônico que parece habitável. As figuras dos anjos e da Virgem Maria exibem expressões faciais mais suaves e individualizadas em comparação com os ícones bizantinos anteriores.


Maestá de Santa Trinita, Cimabue, 1288 a 1292


Salas 7-8: Botticelli: Sem dúvida, um dos pontos altos da visita. Estas salas são dedicadas a Sandro Botticelli, abrigando suas obras mais icônicas, como "A Primavera" e "O Nascimento de Vênus". A atmosfera é de pura poesia e mitologia, com a delicadeza e a graça que caracterizam o mestre florentino.

Alegoria da Primavera, Sandro Botticelli, 1482

A pintura é uma das obras mitológicas em grande escala mais famosas da arte ocidental e um ícone do Renascimento italiano. Ela é carregada de simbolismo e faz alusão à chegada da primavera e, provavelmente, ao amor conjugal e à fertilidade, tendo sido encomendada para o casamento de um membro da família Médici. 
A cena se desenrola em um laranjal e apresenta um grupo de nove figuras da mitologia clássica:
No lado direito: Zéfiro (o vento oeste, em tom azul-esverdeado) rapta a ninfa Clóris, que mais tarde se transforma em Flora, a deusa da primavera (em vestido florido) que espalha flores pelo jardim.

No centro: Vênus, a deusa do amor e da beleza, está sob um arco de arbustos, com Cupido pairando acima dela, mirando suas flechas nas Três Graças.

No lado esquerdo: As Três Graças dançam em um círculo (representando a Castidade, Beleza e Amor), e Mercúrio, com seu capacete e caduceu, afasta as nuvens para proteger o jardim.

Alegoria da Primavera, Botticelli, 1482, foto HistoriacomGosto

O Nascimento de Vênus, Botticelli, foto HistoriacomGosto


Magnificat, Botticelli, 1481

A pintura retrata a Virgem Maria em um trono, com o Menino Jesus em seu colo. Ela está escrevendo, com a ajuda de um anjo, as primeiras palavras do Cântico de Maria, também conhecido como Magnificat (do latim "Minha alma engrandece ao Senhor"), em um livro

Coroação: Dois anjos seguram uma coroa de estrelas sobre a cabeça de Maria, simbolizando-a como a Rainha do Céu.

A Virgem Maria amamenta o Menino Jesus, um tema central que destaca a beleza sagrada do amor materno. Jesus segura uma romã, que tem o duplo significado de pureza e ressurreição.

O formato circular (tondo) era popular para pinturas devocionais privadas na Florença do Renascimento. O estilo de Botticelli é caracterizado por figuras graciosas e um uso sutil de luz e sombra.

Magnificat, Botticcelli, 1481


Filipo Lippi - Madona com o Menino, 1465

A pintura é notável por sua abordagem humanista. Em vez de uma figura solene e distante, a Virgem Maria é retratada de forma realista e terna, com uma expressão melancólica, como se previsse o destino de seu filho.

A delicadeza da composição, o uso de véus transparentes e o penteado da Virgem serviram de modelo de elegância para pintores posteriores, incluindo Sandro Botticelli, que foi aluno de Lippi.

Madona com Menino, Filipo Lippi, 1465


Sala 9: Leonardo da Vinci: Uma sala essencial para entender o gênio multifacetado de Leonardo. Aqui estão expostas obras de sua juventude, como a "Anunciação" e "O Batismo de Cristo" (em colaboração com Verrocchio), revelando seu domínio precoce da luz, sombra e emoção.

Anunciação - Leonardo da Vinci, 1472 a 1476


A pintura retrata o momento bíblico em que o Arcanjo Gabriel anuncia à Virgem Maria que ela conceberá o Filho de Deus. A obra é notável por várias inovações de Leonardo:

Cenário Naturalista: Diferente das representações tradicionais que se passavam em interiores, Leonardo situou a cena em um jardim fechado (hortus conclusus), que simboliza a pureza de Maria, com uma paisagem toscana ao fundo.

As asas do anjo Gabriel não são as tradicionais asas de pavão, mas sim inspiradas nas de uma ave de rapina, demonstrando o interesse científico de Leonardo pela natureza.

A arquitetura e a paisagem de fundo são desenhadas de acordo com as regras da perspectiva, com um ponto de fuga central, criando uma sensação de espaço realista.

A mesa de mármore em frente à Virgem Maria, onde repousa um livro, imita a tumba de Piero e Giovanni de' Medici na Basílica de San Lorenzo, esculpida por Verrocchio na mesma época.


Anunciação, Leonardo da Vinci, 1472 a 1476


O Batismo de Cristo - Verrochio e Leonardo

A obra de arte na imagem é O Batismo de Cristo, uma famosa pintura renascentista. Acredita-se que a maior parte da obra tenha sido pintada por Andrea del Verrocchio por volta de 1472, com contribuições significativas de seu aprendiz na época, Leonardo da Vinci.

Verrocchio foi responsável pela maior parte da composição e das figuras principais (Cristo e João Batista). Seu estilo é caracterizado por um desenho mais rígido e linear, típico da arte florentina da época.


Leonardo da Vinci, como aprendiz, pintou pelo menos o anjo da esquerda e a paisagem do fundo. O anjo de Leonardo demonstra um talento excepcional, com o uso inovador do sfumato (transições suaves de luz e sombra), que se destacou do estilo do mestre. Acredita-se que a superioridade da execução do anjo de Leonardo teria levado Verrocchio a nunca mais pintar, dedicando-se apenas à escultura.

O Batismo de Cristo, Verrochio + Leonardo, 1472


Salas 10-14: Alto Renascimento (Rafael, Michelangelo): Estas salas celebram o auge do Renascimento. Encontramos obras de Rafael, como o "Retrato do Papa Leão X com os Cardeais Giulio de' Medici e Luigi de' Rossi", e a única pintura a óleo de Michelangelo, o "Tondo Doni" (A Sagrada Família), que exibe sua monumentalidade escultural na pintura.

A Virgem do Pintassilgo (Madonna del Cardellino em italiano)Rafael Sanzio, 1505 a 1506.

A pintura exibe a Virgem Maria sentada em uma paisagem, observando o Menino Jesus e o jovem São João Batista interagindo. A composição é notável por sua estrutura piramidal, inspirada em Leonardo da Vinci, que confere equilíbrio e harmonia à cena.

O ponto focal da interação é um pintassilgo (cardellino), que São João Batista, trajando peles, entrega a Jesus. O pintassilgo é um símbolo tradicional da Paixão de Cristo na arte renascentista, pois a lenda diz que ele se alimenta de espinhos, associando-o à coroa de espinhos de Jesus na crucificação.

O fundo apresenta uma paisagem detalhada, com elementos arquitetônicos que refletem a influência da arte flamenga, incomuns em paisagens mediterrâneas da época.

Maria segura um livro, que a conecta à cena da Anunciação e simboliza as escrituras que preveem o destino de Cristo.

Virgem com o pintassilgo, Rafael, 1505 a 1506
foto HistoriacomGosto

Tondo Doni (A Sagrada famíla com São João Batista), 1506 a 1508

A pintura foi uma encomenda de Agnolo Doni, um rico banqueiro florentino, para celebrar seu casamento com Maddalena Strozzi. O formato circular (tondo) era popular na época para pinturas devocionais privadas em residências. É a única pintura em painel existente e autenticada de Michelangelo Buonarroti. Foi criada por volta de 1506-1508.

A obra reflete a formação de Michelangelo como escultor, com figuras musculosas e em poses complexas (contrapposto), que parecem quase esculpidas em mármore.

A Sagrada Família (Maria, José e o Menino Jesus) está em primeiro plano, com um jovem São João Batista no meio-termo. Ao fundo, um grupo de figuras nuas (possivelmente representando a humanidade pagã ou a era pré-cristã) está separado da cena principal por um parapeito.

Michelangelo utilizou cores ricas e iridescentes, algo que lançou as bases para o estilo artístico posterior conhecido como Maneirismo
 
Tondo Doni (Sagrada família),
Michelangelo, 1506 a 1508



Salas 15-16: Maneirismo: Após a perfeição do Alto Renascimento, o Maneirismo surge com suas formas alongadas, cores vibrantes e composições complexas. Artistas como Pontormo e Rosso Fiorentino são destacados, mostrando uma arte mais sofisticada e, por vezes, artificial, que se afasta da harmonia clássica.


Outras salas: 

Renascença Nórdica (sala 45):"Adão e Eva", de Lucas Cranach, o Velho

A pintura a óleo, concluída em 1528, A obra retrata o momento do Pecado Original no Jardim do Éden, um tema que Cranach e sua oficina pintaram em mais de 50 versões.

Adão e Eva, Lucas Cranach, 1528


Pintura Flamenca e Alemã (sala 28): "Virgem Dolorosa", Hans Memling, 1480

A obra retrata a Virgem Maria em oração, com uma expressão de sofrimento e lágrimas, no estilo do Renascimento do Norte. Acredita-se que originalmente a pintura fazia parte de um díptico, com o outro painel representando Cristo coroado de espinhos.


Virgem Dolorosa, Hans Memling, 1480


Sala Caravaggio: "O Sacrificio de Isaac", Caravaggio, 

A obra retrata o momento bíblico do Antigo Testamento em que Deus ordena a Abraão que sacrifique seu filho Isaque no Monte Moriá. No último instante, um anjo intervém para impedir o sacrifício, e um cordeiro (ou carneiro) é oferecido em seu lugar.

A pintura é um exemplo clássico do estilo de Caravaggio, caracterizado pelo tenebrismo (uso dramático de fortes contrastes de luz e sombra) e um realismo cru e inovador para a época.


O Sacrificio de Isaac, Caravaggio, 1603


Sala 90 (junto com obras de Caravaggio) - "Judith degolando Holefernes", Artemisia Gentileschi entre 1614 e 1620.

A cena é extraída do Livro de Judite, do Antigo Testamento, e mostra a heroína israelita Judite e sua serva Abra decapitando o general assírio Holofernes, após ele ter adormecido embriagado em sua tenda.

A obra é um exemplo do tenebrismo e do realismo crus, influenciados por Caravaggio. O uso dramático de luz e sombra (chiaroscuro) intensifica a violência e a emoção do momento.

Judith degolando Holfernes, Artemisia, 1620 a 1621



V. - Referências


Uffizi - Wikipedia

Uffizi - Notas e fotografias de Viagem, HistoriacomGosto

Gemini e Chat Gpt - Textos bases descritivos

sábado, 15 de novembro de 2025

A fascinante história de Málaga através dos tempos!

 I. Introdução

Málaga é uma vibrante cidade no sul da Espanha, dona de um imenso tesouro de história e cultura, com raízes que se aprofundam por milênios. Sua localização estratégica no Mediterrâneo a tornou um caldeirão de civilizações, cada uma deixando sua marca indelével.

Nessa postagem queremos fazer uma pequena descrição da história de Málaga, despertando os interesses de cada um em seus variados aspectos. 


Visão geral de Málaga, foto de  @Jorisv em dreamstime.com


II. Das Origens Fenícias à Chegada dos Mouros (c. 1000 a.C. - 711 d.C.)


Os fenícios, no século I a.C., foram os primeiros a estabelecerem um porto comercial chamado "Malaka" (que significa "fábrica" ou "sal") devido às suas indústrias de sal e salazón de peixe.

Localização de Málaga, fonte: Google Maps


Posteriormente, a partir do século VI a.C., tivemos a troca para o controle cartaginês após o declínio fenício. Os cartagineses eram originários do norte da África e os fenícios da área do Levante, Ásia Ocidental. 

Guerreiro Cartagines, fonte wikipedia


Com a vitória romana nas Guerras Púnicas, a partir do século III a.C., Malaka se torna parte da província romana da Bética, prosperando como um centro comercial e cultural. Recebeu o status de municipium federatum. Isso durou até o século V d.C. quando houve a queda do imperio romano.

Entre o século  V d.C. e o século VIII d.C., após a queda do Império Romano, a cidade passa para o domínio dos visigodos, marcando um período de relativa decadência e cristianização. 


Coroa do rei visigodo Rescevinto, foto wikipedia


Personagens Mais Importantes: 

Nesse período o destaque vai para os Navegadores Fenícios que foram os  Fundadores e impulsionadores do comércio inicial e os imperadores romanos que garantiram a paz e a prosperidade da Malaca Romana. 

Construções Realizadas:

Vestígios Fenícios: Poucos visíveis, mas a estrutura urbana inicial se baseou em seu assentamento.

Teatro Romano: Construído no século I d.C. e redescoberto em 1951, é um testemunho impressionante da presença romana.

Teatro romano, vizinho ao Alcazar, Málaga, foto HistoriacomGosto


Vilas Romanas e Termas: Vários vestígios arqueológicos indicam a vida romana na região.

III. O Esplendor de Málaga sob o Domínio Mouro (711 d.C. - 1487 d.C.)

A chegada dos muçulmanos transformou Málaga em uma das cidades mais prósperas de Al-Andalus.

Málaga foi tomada pelas tropas muçulmanas, tornando-se parte de Al-Andalus  em 711 d.C

Entre os séculos X-XI, Málaga passou a fazer parte do Califado de Córdoba desfrutando de uma grande prosperidade e se tornando um importante centro comercial e portuário. 

No século XI com a fragmentação do Califado, Málaga se tornou um reino taifa independente. 

Nos seculos XIII a XV, com o domínio Nazarí, Málaga se integrou ao reino de Granada, destacando-se pela produção de seda, cerâmica e vinhos, além de continuar sendo um porto estratégico.  

Personagens Mais Importantes: 

Abderramão III: Califa de Córdoba, sob cujo governo Málaga floresceu. 

Ibn Gabirol (Avicebron): Filósofo e poeta judeu nascido em Málaga no século XI, figura proeminente da cultura andalusina. 

Salomão Ibn Gabirol, quadro no Museu Sefardita de Toled


Sultões Nazarís: Que governaram Málaga nos seus últimos séculos islâmicos. 

Construções Realizadas: 

Alcazaba: Uma impressionante fortaleza palaciana muçulmana, construída principalmente nos séculos XI-XI, sobre ruínas romanas.

Alcazar de Málaga, foto de © Gillesr7 em dreamstime.com 


Castelo de Gibralfaro: Fortificado e ampliado pelos Nazarís no século XIV para proteger a Alcazaba e o porto. 

Muralhas da Cidade: Extensas fortificações que cercavam a cidade. 

Mesquitas e Banhos Árabes: Embora a maioria não exista mais, eram parte integrante da vida urbana.

O período teve a duração de 776 anos, iniciando em 711 d.C. e terminando em 1487 d.C. com a Reconquista Cristã.

IV. A Reconquista Cristã e Suas Consequências (1487 d.C.)


A tomada de Málaga pelos Reis Católicos foi um evento brutal e crucial na história da cidade.

Eventos Mais Importantes:

O Cerco de Málaga (1487) foi um dos mais longos e sangrentos da Reconquista, durando vários meses. A cidade, bem fortificada, resistiu ferozmente. 

Com a queda da cidade após a rendição, os Reis Católicos impuseram duras condições: 

a) Repovoamento: A população muçulmana foi escravizada ou expulsa, e a cidade foi repovoada por cristãos de outras partes da Península Ibérica. 

b) Transformação Religiosa: Mesquitas foram convertidas em igrejas. 

Liberação dos Cativos Cristãos, Jose Moreno Carbonero, Museu de Málaga,
 Wikipedia Espanhola

Personagens Mais Importantes: 

Reis Católicos (Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela): Lideraram o cerco e a reconquista de Málaga. 


Reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela, fonte Wikipedia

El Zegrí: Líder mouro que defendeu Málaga com bravura. 


Construções Realizadas: 

Início da Catedral: A Grande Mesquita foi consagrada como igreja, dando início ao processo que levaria à construção da atual Catedral. 

Reurbanização: Início de um novo traçado urbano e construção de edifícios religiosos cristãos.


V. De Málaga Cristã ao Século XX (1487 d.C. - c. 2000)

Após a Reconquista, Málaga passou por períodos de crescimento, declínio e modernização. 

Eventos Mais Importantes: 

Época Moderna (séculos XVI-XVIII),  Málaga torna-se um importante porto comercial para o Novo Mundo. A cidade sofre com epidemias, inundações e crises econômicas, mas também vê um florescimento artístico e arquitetônico. 

Século XVIII Malaga teve Impulso ao desenvolvimento econômico e infraestrutural. 

Século XIX (Industrialização e Liberalismo): Málaga se destaca como um dos primeiros polos industriais da Espanha (têxtil, siderurgia) e experimenta um crescimento significativo, mas também conflitos sociais. 

Com a Guerra Civil Espanhola (1936-1939)  A cidade sofreu severamente com a guerra e a posterior ditadura. 

A partir da década de 1960, Málaga e a Costa do Sol se transformam em um dos destinos turísticos mais populares da Europa. 

Personagens Mais Importantes: 

Pablo Picasso (1881-1973): Um dos maiores artistas do século XX, nascido em Málaga. Sua obra marcou profundamente a arte moderna. 

Pablo Picasso,  foto da revista Vea y Lea

Famílias Burguesas: Como os Larios, que impulsionaram a industrialização e o urbanismo da cidade. 

Construções Realizadas: 

Catedral da Encarnação de Málaga ("La Manquita"): Iniciada no século XVI e construída ao longo de vários séculos, é um magnífico exemplo da arquitetura renascentista e barroca. Seu nome vem do fato de ter apenas uma torre completa. 

Palácio da Aduana: Edifício neoclássico do século XVIII, hoje sede do Museu de Málaga. 

Palácio da Aduana, foto wikipedia


Rua Larios: Principal artéria comercial, construída no século XIX. 

Rua de Larios, Málaga, foto de @Adrianna Calvo, wikipedia, creative commons,
dedicação ao domínio público

Mercado de Atarazanas: Antigo estaleiro naval árabe transformado em mercado no século XIX.

Mercado de Atarazanas, foto wikipedia,


VI. Málaga na Atualidade: Cultura, Sol e Mar 

Hoje, Málaga é uma metrópole moderna e dinâmica, que soube preservar sua história enquanto se projeta para o futuro como um centro de cultura e turismo.

.Abriu diversos museus de renome internacional, revitalizando o centro histórico.  
.Promoveu a Revitalização do porto (Muelle Uno), criação de novos espaços públicos e melhoria das infraestruturas. 

.Teve uma grande ascensão da cena gastronômica, com chefs inovadores e a valorização dos produtos locais. 

Construções Realizadas: 

As principais construções recentes foram: 

Muelle Uno: Área de lazer e compras no porto, com restaurantes e lojas. 

Centro Pompidou Málaga: Um cubo colorido que abriga uma coleção de arte moderna e contemporânea.


VII. - Os Pontos Imperdíveis para Visitar em Málaga: 


VII.1 -  Alcazaba de Málaga: 

A Alcazaba de Málaga é uma fortaleza-palácio mourisca, construída sobre uma colina que domina a cidade e o porto. É considerada uma das alcazabas árabes mais bem preservadas da Espanha e um exemplo magnífico da arquitetura militar e residencial do período taifa.

Embora existam vestígios de uma fortificação anterior, a Alcazaba como a conhecemos começou a ser construída no século VIII pelos muçulmanos após a conquista da Península Ibérica.

Alcazar de Málaga, foto em dreamstime.com

A maior parte da estrutura atual da Alcazaba foi erguida durante o século XI, sob o domínio do Reino Taifa de Málaga. Particularmente, o rei zirida Badis ben Habus é creditado com grande parte da sua construção e fortificação, transformando-a em uma impressionante residência real e baluarte defensivo.

Uma das características mais notáveis é seu engenhoso sistema defensivo, com duas cinturas de muralhas concêntricas e inúmeras torres. O acesso era feito através de uma série de portas em zigue-zague, projetadas para retardar e desorientar qualquer invasor.

Existem cerca de cem torres dentro da Alcazaba, cada uma com sua função defensiva e algumas abrigando câmaras ou passagens secretas.

Salão da Alcazaba, foto HistoriacomGosto


A Alcazaba não era apenas uma fortaleza, mas também um palácio, e isso é evidente nos seus encantadores pátios internos, repletos de vegetação exuberante, fontes e canais de água, evocando a arquitetura andaluza de Granada.


VII.2 - Castelo de Gibralfaro: Conectado à Alcazaba, este castelo oferece as melhores vistas da cidade, do porto e da costa. 

O nome "Gibralfaro" deriva da palavra árabe "Jabal-Faruh" (ou "Jabal-Faro"), que significa "rocha do farol". Acredita-se que, na Antiguidade, os fenícios (ou até mesmo os romanos) construíram um farol no topo deste monte para guiar seus navios até o porto de Malaka.

Os muçulmanos construíram uma fortaleza primitiva no local após a conquista da Península Ibérica no século VIII.

A maior parte da estrutura do castelo que vemos hoje foi construída no século XIV pelo sultão nazarí Yusuf I de Granada. Ele transformou a antiga fortaleza numa poderosa cidadela para proteger a Alcazaba e o porto, servindo também como residência para as tropas e como ponto de vigilância..

Castelo de Gibralfarom foto de 

O castelo desempenhou um papel crucial durante o Cerco de Málaga pelos Reis Católicos em 1487. A população muçulmana e a guarnição resistiram bravamente dentro de suas muralhas por três meses após a queda da cidade, até se renderem por fome. 

Após a conquista, os Reis Católicos hastearam a bandeira cristã nas torres do castelo. Fernando II de Aragão, impressionado com sua robustez, chegou a usá-lo como sua residência temporária.



VII.3 - Catedral de Málaga: 

Conhecida como "La Manquita", esta majestosa catedral renascentista e barroca é um ícone da cidade. Ela é  oficialmente conhecida como Catedral Basílica de Nossa Senhora da Encarnação.

Após a tomada de Málaga pelos Reis Católicos em 1487, a Grande Mesquita Aljama da cidade foi imediatamente consagrada como igreja cristã. Em 1528, a decisão de construir uma nova catedral no local da antiga mesquita foi formalizada, e a demolição da mesquita para dar lugar ao novo templo começou. O projeto inicial era ambicioso, buscando um estilo gótico tardio, mas rapidamente evoluiu para as formas renascentistas que marcariam a maior parte de sua construção.

A construção da Catedral de Málaga durou mais de 250 anos, começando em 1528 e estendendo-se até 1782.

La Manquita: A catedral permanece inacabada até hoje. A torre sul, originalmente planejada para ser gêmea da torre norte, nunca foi concluída devido à falta de fundos, que foram desviados para financiar as guerras coloniais na América e obras públicas na cidade. Essa particularidade lhe rendeu o carinhoso apelido de "La Manquita" (A Aleijadinha).

Fachada 

A fachada é composta por três corpos verticais, correspondendo às três naves internas da catedral. Ela é flanqueada por duas torres, das quais apenas a do lado norte (à direita de quem olha para a fachada) foi concluída. A ausência da torre sul é a razão do apelido "La Manquita".



Lateral


Entrada lateral, foto HistoriacomGosto


Nave principal

Com um estilo predominantemente renascentista, tem um ar de grandiosidade clássica. A sua estrutura é composta por três naves de igual altura, um tipo arquitetônico conhecido como hallenkirche (igreja-salão), com a nave central mais larga que as laterais. Essa característica confere uma sensação de unidade espacial e amplitude.

Nave principal catedral Málaga, foto diocese de Málaga

As Imponentes colunas coríntias sustentam as abóbadas, elevando-se majestosamente e criando uma atmosfera de solenidade e verticalidade.
As abóbadas são de cruzeiro com nervuras, mas com uma complexidade ornamental que transcende o gótico, integrando elementos renascentistas. A luz natural que entra pelas janelas superiores realça a altura e a decoração.


Nave principal, foto HistoriacomGosto


Coro 

Composto por 42 cadeiras de nogueira ricamente esculpidas, o cadeiral é uma obra-prima do entalhador Pedro de Mena. Ele trabalhou nele entre 1658 e 1662, esculpindo com incrível detalhe as figuras de santos e alegorias, expressando emoção e movimento característicos do barroco. As figuras parecem emergir da madeira, com uma riqueza de gestos e expressões.

Dois grandes órgãos barrocos flanqueiam o coro, com caixas de madeira ricamente decoradas, adicionando à imponência sonora e visual do espaço.

Coro, foto HistoriacomGosto


Capela Maior / Altar Principal

O retábulo-mor é uma imponente estrutura que abriga a imagem da Virgem da Encarnação, padroeira da catedral. É de estilo neoclássico, encomendado no final do século XVIII a Juan de Villanueva, embora tenha sido executado por outros artistas. Ele se destaca pela sua grandiosidade e pela simplicidade elegante de suas linhas, contrastando com o barroco exuberante de outras partes da catedral.

Capela Maior / Altar Principal, foto Diocese de Málaga


Deambulatório:

A passagem por trás do coro, ou girola, permite o acesso a várias capelas e proporciona uma perspectiva diferente do altar-mor. É uma continuação das naves laterais que circunda o presbitério, permitindo o fluxo de fiéis sem interromper as cerimônias no altar principal.


Deambulatório, foto HistoriacomGosto

Pintura célebre na Catedral - Virgem do Rosário por Alonso Cano


A parte inferior é dominada por São Domingos , vestido com o hábito de sua ordem, barbudo e tonsurado. Seu braço esquerdo repousa sobre São Francisco , um dos pilares da Igreja Católica , vestido com um hábito cinza com um cordão na cintura, que por sua vez repousa o braço sobre o ombro de São Domingos. A cena é completada pelas representações de Santo Ildefonso e Santa Teresa à direita, e São Tomás de Aquino e Santa Catarina de Siena à esquerda. Todos contemplam maravilhados a visão celestial da Virgem Maria com o Menino.


Virgem do Rosário, Alonso Cano, 1665 a 1666


A seção superior, portanto, é presidida pela Virgem Maria com o Menino, em um trono de nuvens apoiado em duas colunas caneladas, e rodeada por cinco querubins ostentando os atributos dos quatro santos que compõem a cena terrena. Os anjos no centro apresentam o Rosário e a Cruz a São Domingos e São Francisco. Santo Ildefonso e Santa Teresa recebem o báculo e a pena, e São Tomás e Santa Catarina, a pena e a coroa.


VII.4 - Teatro Romano: 

Ao lado da Alcazaba, este antigo teatro oferece uma janela para a Málaga romana. 

O Teatro Romano de Málaga foi construído no século I a.C., durante o reinado do Imperador Augusto, tornando-o um dos primeiros teatros romanos a serem edificados na Península Ibérica.

Málaga, conhecida então como Malaca, fazia parte da província romana da Bética, uma região próspera e romanizada. O teatro era um símbolo do poder e da cultura romana, e sua construção demonstra a importância e o desenvolvimento da cidade naquela época.

Teatro romano, foto dreamstime.com


Era o centro da vida social e cultural da cidade, palco para representações teatrais, comédias, tragédias e, ocasionalmente, assembleias e eventos cívicos. Tinha uma capacidade estimada para duas mil pessoas. 

No século VI d.C., os visigodos transformaram o teatro em um cemitério. Mais tarde, com a chegada dos muçulmanos, o teatro foi completamente abandonado e seus materiais (pedras, colunas, capitéis) foram reutilizados na construção da vizinha Alcazaba, que começou a ser erguida a partir do século VIII.

VII.5 Museu Picasso Málaga: 

Localizado no Palácio de Buenavista, abriga uma extensa coleção de obras do filho mais famoso de Málaga. 

O Museu Picasso Málaga (MPM) é um dos museus mais importantes da Andaluzia e da Espanha, dedicado à vida e obra de Pablo Picasso, um dos artistas mais influentes do século XX, que nasceu em Málaga em 1881.

Museu Picasso (área interna), foto Museu Picasso


A ideia de criar um museu Picasso em Málaga não é nova. Já em 1953, o próprio Pablo Picasso, por intermédio de seu amigo e advogado Paul Cabañas, expressou o desejo de que parte de sua obra estivesse presente em sua cidade natal. No entanto, devido à situação política da Espanha sob a ditadura de Franco, o projeto não pôde ser concretizado na época.

O projeto ganhou força novamente nas últimas décadas do século XX, graças ao impulso e à dedicação de Christine Ruiz-Picasso, nora do artista, e seu filho Bernard Ruiz-Picasso. Eles foram os principais doadores das obras que compõem a coleção permanente do museu.

O Museu Picasso Málaga foi oficialmente inaugurado em 27 de outubro de 2003, um marco significativo para a cidade e para o mundo da arte. O projeto foi promovido pelo Governo da Andaluzia em colaboração com a Família Picasso.

Local da Instalação

As obras do Museu Picasso estão expostas no majestoso Palácio de Buenavista, um edifício do século XVI que é um dos exemplos mais destacados da arquitetura renascentista de Málaga. A escolha do local não foi aleatória; o palácio está situado no coração do centro histórico da cidade, a poucos metros da Plaza de la Merced, onde Picasso nasceu.

Tipo e Estilo das Obras exibidas

A coleção do Museu Picasso Málaga, composta por mais de 200 obras (entre pinturas, esculturas, desenhos, cerâmicas e gravuras), é particularmente interessante porque oferece um percurso pela totalidade da carreira artística de Picasso, abrangendo suas diversas fases e estilos. Não se foca apenas em um período específico (como o cubismo, por exemplo), mas busca mostrar a evolução do artista.

Sala de Exposição Museu Picasso, Málaga,
foto https://www.museopicassomalaga.org/en/



VII.6 Muelle Uno e Farol: 

Uma área moderna e vibrante à beira-mar, perfeita para passear, fazer compras e desfrutar de restaurantes, com o Farol como um marco. 

Localizado no Porto de Málaga, o Muelle Uno é um calçadão comercial e de lazer ao ar livre que oferece vistas espetaculares da cidade, da Alcazaba e do Castelo de Gibralfaro. É um espaço moderno e dinâmico que conecta o centro histórico de Málaga com o mar, proporcionando uma experiência única para moradores e turistas.


Porto remodelado, foto   em dreamstime.com

A oferta gastronômica no Muelle Uno é vasta e diversificada, atendendo a todos os gostos e orçamentos. Você encontrará desde restaurantes com estrelas Michelin até opções mais informais e aconchegantes. A maioria dos estabelecimentos oferece mesas ao ar livre com vistas deslumbrantes para o porto e o mar.

Porto remodelado, área de lojas, restaurantes e grandes iates, foto HisoriacomGosto

O Porto de Málaga, e especificamente algumas das suas áreas, é um ponto de atracação para iates de luxo e embarcações de grande porte. O Muelle Uno, por ser uma área de destaque e com fácil acesso, complementa essa infraestrutura.

A marina anexa, chamada Marina Real Uno, oferece ancoradouros para embarcações de diversos tamanhos, incluindo iates significativos. Não é incomum ver iates impressionantes atracados por lá, especialmente durante os meses de verão ou quando há eventos especiais na cidade.



VII.7 Malagueta Beach

A Malagueta é uma praia bastante extensa, com cerca de 1.200 metros de comprimento e uma largura média de 45 metros. O que a torna tão característica é a sua areia escura e grossa, típica das praias da Costa del Sol. É uma praia urbana, o que significa que está localizada bem perto do centro da cidade, tornando-a extremamente acessível.

Sua beleza reside na combinação da paisagem costeira com a infraestrutura da cidade. A praia é ladeada por um calçadão vibrante (o Paseo Marítimo Ciudad de Melilla), repleto de palmeiras, esplanadas e chiringuitos (restaurantes de praia) que oferecem peixe fresco e frutos do mar. A vista para o porto de Málaga e para o horizonte, com os barcos e navios, também contribui para o seu charme. É um local perfeito para passeios ao entardecer, com o sol se pondo sobre a cidade.


Praia de Malagueta Beach, foto em dreasmtime.com


Por ser uma praia urbana e de fácil acesso, a Malagueta é extremamente frequentada. Durante o verão, especialmente nos meses de julho e agosto, ela se torna o epicentro da vida costeira de Málaga. Moradores e turistas lotam a areia, buscando o sol e o mar.


VII.8 Museu Carmen Thyssen Málaga: 

Uma excelente coleção de arte espanhola do século XIX, com foco na pintura andaluza. 

Inaugurado em 2011, o museu abriga a coleção particular da Baronesa Carmen Thyssen-Bornemisza, focada especificamente na pintura espanhola e, mais precisamente, andaluza do século XIX. Enquanto o Museu Thyssen-Bornemisza em Madrid oferece uma visão mais abrangente da história da arte ocidental, a coleção de Málaga é um mergulho profundo e especializado em um período e uma região específicos.

Ladies in the Garden by Cecilio Plá y Gallardo, c. 1910


O objetivo principal do museu é preencher uma lacuna no cenário artístico espanhol, apresentando obras que refletem a riqueza e a diversidade da pintura do século XIX, um período muitas vezes ofuscado por movimentos posteriores, mas de grande importância para a formação da identidade artística espanhola.


VII.9 Rua Larios: 

A principal rua comercial de Málaga, famosa por sua arquitetura elegante e atmosfera animada. 

VII.10 Mercado de Atarazanas: 

Um mercado vibrante onde você pode experimentar a gastronomia local, com produtos frescos e bares de tapas. 

Mercado de Atarazanas, foto wikipedia


VII.11 Centro Pompidou Málaga: 

A primeira filial do famoso centro de arte parisiense fora da França, exibindo uma coleção de arte moderna e contemporânea.

Inaugurado em 2015, o Centro Pompidou Málaga é um museu de arte moderna e contemporânea que exibe obras da vasta e rica coleção do Centre Pompidou de Paris. Ele oferece uma seleção rotativa de obras-chave que abrangem os séculos XX e XXI, apresentando nomes influentes da arte moderna. A mostra permanente é frequentemente renovada para que os visitantes possam apreciar diferentes facetas da coleção principal. Além disso, o museu também organiza exposições temporárias, workshops e atividades educativas.


Centro Pompidou, Málaga, foto HistoriacomGosto

Por que Málaga ?

A cidade tem feito um grande investimento na cultura e nas artes nas últimas décadas, transformando-se em um importante polo museístico no sul da Europa. A abertura do Museu Picasso (2003) foi um divisor de águas, e o Pompidou se encaixou perfeitamente nesse plano de revitalização.

O Cubo Colorido: El Cubo

O que mais chama a atenção e se tornou o ícone do Centro Pompidou Málaga é o famoso "El Cubo" (O Cubo). Essa estrutura envidraçada e multicolorida não é apenas a entrada do museu, mas uma obra de arte arquitetônica por si só, projetada pelos arquitetos franceses Daniel Buren e Patrick Bouchain.

Cubo colorido, foto HistoriacomGosto

Significado: O Cubo representa a modernidade, a inovação e a luz. Seus painéis de vidro translúcidos e coloridos (vermelho, azul, amarelo e verde) permitem que a luz natural penetre no espaço de exposição subterrâneo, enquanto criam um jogo de cores e reflexos que mudam ao longo do dia, refletindo o céu e a paisagem ao redor. É uma estrutura que celebra a arte contemporânea, a criatividade e a vitalidade cultural.

Mostra semi-permanente- Kandinski

A coleção de arte moderna e contemporânea do Centre Pompidou em Málaga é organizada por temas e inclui obras fundamentais de artistas do século XX. O trabalho de Kandinsky faz parte da coleção semipermanente do museu, que é renovada periodicamente, mas sempre mantendo obras chave do modernismo, como as dele.

Wassily Kandinsky foi um pintor russo e teórico da arte, amplamente reconhecido como o pioneiro da arte abstrata pura. Sua contribuição mudou radicalmente o curso da arte moderna.

"Cidade Velha", Kandinsky, 1902,


Kandinsky -  O Caminho para a Abstração

Kandinsky começou sua carreira como professor de direito e economia, mas abandonou o mundo acadêmico aos 30 anos para se dedicar à pintura. Ele teve três fases principais em sua jornada artística:
  1. Fase Figurativa e Folclórica (Munique, Início de 1900): Seus primeiros trabalhos eram paisagens e cenas com cores fortes, influenciadas pelo Fauvismo e pelo folclore russo, mas ainda reconhecíveis.

  2. Fase Expressionista (1908–1914): Fundou o grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul) em Munique, junto com Franz Marc. Nesse período, ele começou a usar cores para expressar emoções, e a forma começou a se dissolver. 
"Paisagem Marinha", Kandinsky, 1905 a 1907,

3. Fase Abstrata Pura (A Partir de 1910): Atingiu a abstração total, onde linhas, formas e cores existem por si mesmas, sem referência direta ao mundo objetivo. Ele defendia a ideia de que a arte deveria ser como a música—capaz de evocar emoções puras.

Impressão V, Kandinsky, 1911

4. Estilo Maduro - Acordo Recíproco

A obra reflete o estilo maduro de Kandinsky, caracterizado por formas e linhas precisas, e um equilíbrio harmonioso entre cores e formas. 

"Acordo Recíproco", Kandinsky, 1942, 


O Centre Pompidou Málaga exibe obras do artista que ilustram a transição para a abstração e seu interesse pela cor. As peças lá presentes fazem parte da vasta coleção do Centre Pompidou de Paris e são essenciais para entender a virada modernista que ocorreu no início do século XX, especialmente a crença de que a arte poderia ser uma forma de linguagem espiritual e universal.

VII.12 - Cena Gastronômica - Restaurante El Pimpi


Málaga, que antes era conhecida principalmente pela sua "pescaíto frito" e espetos de sardinha, evoluiu para uma cidade com uma oferta culinária incrivelmente rica e diversificada, que equilibra com maestria a tradição e a inovação.

Tradição Viva: A base da culinária malaguenha continua forte. Pratos como o ajoblanco (sopa fria de alho e amêndoas), a porra antequerana (uma versão mais espessa do salmorejo), os espetos de sardinha (sardinhas espetadas e grelhadas na brasa na praia) e, claro, uma infinidade de peixes e frutos do mar frescos são pilares inabaláveis. Os chiringuitos (restaurantes de praia) ao longo da costa são essenciais para experimentar essa culinária autêntica.

Ascensão da Alta Cozinha: A cidade agora ostenta diversos restaurantes com estrelas Michelin e outros reconhecimentos em guias gastronômicos, como o Skina e o José Carlos García. Esses estabelecimentos elevam os ingredientes locais a um patamar de alta gastronomia, com técnicas inovadoras e apresentações artísticas.

Cultura de Tapas Evoluída: As tapas continuam a ser um pilar social e gastronômico. De bares tradicionais que servem clássicos a locais modernos que oferecem tapas gourmet e criativas, há opções para todos os gostos e bolsos. É uma ótima maneira de provar diversos sabores em uma única refeição.

Mercados Gastronômicos: Mercados tradicionais, como o Mercado de Atarazanas, tornaram-se também centros gastronômicos, onde se pode comprar produtos frescos e consumi-los na hora em pequenas bancas e bares, um verdadeiro festival de sabores e cores.

Vinhos de Málaga: A região de Málaga também tem uma crescente reputação pelos seus vinhos, especialmente os doces (Moscatel, Pedro Ximénez), mas também por vinhos tintos e brancos secos que acompanham perfeitamente a culinária local.

El Pimpi: O Coração Gastronômico e Cultural de Málaga

No meio dessa cena efervescente, El Pimpi se destaca como uma instituição, um ícone de Málaga que transcende a ideia de um simples restaurante. Não é apenas um lugar para comer, é uma viagem no tempo e um mergulho na cultura andaluza.

Fachada do El Pimpi, foto HistoriacomGosto

História e a Conexão com o Toureiro

Fundado em 1971 e localizado em um casarão do século XVIII próximo ao Teatro Romano e à Alcazaba, El Pimpi é uma bodega-restaurante com uma atmosfera única. O nome "El Pimpi" se refere a um personagem popular de Málaga que, no passado, ajudava os marinheiros e passageiros que chegavam ao porto, oferecendo-lhes orientações e entretenimento.

Pátio do El Pimpi, foto HistoriacomGosto

A história e o charme de El Pimpi são contados nas suas paredes, que são verdadeiras galerias. Barris de vinho, cartazes de touradas, fotos autografadas e dedicatórias de inúmeras celebridades adornam o ambiente. Entre essas celebridades, a conexão com o mundo do toureiro é inegável e muito forte. 

Parte interna do El Pimpi, foto HistoriacomGosto

Muitos toureiros famosos, tanto locais quanto nacionais, passaram por ali, deixaram suas assinaturas nos barris e fizeram de El Pimpi um ponto de encontro e celebração. Essa tradição, junto com a presença de artistas flamencos, atores de cinema e figuras da política e da cultura, solidificou El Pimpi como um santuário da herança andaluza e malaguenha. É um lugar onde a história cultural da cidade respira em cada canto.

Variedade Atual de Tapas

Apesar de sua antiguidade, El Pimpi não vive apenas de história; sua oferta gastronômica é continuamente apreciada:

Tapas Tradicionais Andaluza: O foco principal são as tapas e pratos que representam a essência da culinária de Málaga e da Andaluzia. Você encontrará clássicos como:

Croquetas: De presunto, queijo, ou bacalhau, feitas de forma artesanal.

Gambas al Pil-Pil: Camarões salteados em azeite de oliva, alho e pimenta, servidos fervendo. Muito bom!

Berenjenas con Miel de Caña: Berinjela frita com mel de cana, uma combinação agridoce deliciosa.

Jamón Ibérico e Queso Manchego: Tábuas de presunto curado e queijos locais.

Pratos para Compartilhar (Raciones): Além das tapas, o menu também oferece "raciones" (porções maiores) e alguns pratos principais, perfeitos para compartilhar.

Alta Frequência

El Pimpi é um dos locais mais visitados e fotografados de Málaga, e sua frequência é altíssima em praticamente qualquer hora do dia, especialmente durante o almoço e o jantar, e nos finais de semana ou temporada turística. 

Ambiente Único: A combinação de sua rica história, a decoração autêntica, as múltiplas salas (algumas mais rústicas, outras com pátios internos e terraços com vistas privilegiadas da Alcazaba e do Teatro Romano), e a música flamenca (ocasionalmente ao vivo) cria uma atmosfera irresistível. 

Popularidade Entre Locais e Turistas: É um ponto de encontro tanto para os malaguenhos, que valorizam sua tradição e qualidade, quanto para os turistas, que buscam uma experiência autêntica e inesquecível. 

Dica: Devido à sua popularidade, é comum encontrar filas, especialmente nos horários de pico. Vale a pena a espera ou, se possível, tentar ir em horários um pouco menos concorridos.

Visitar El Pimpi é mais do que uma refeição; é uma imersão na alma de Málaga, uma experiência cultural que agrada ao paladar e aos olhos.


VIII - Referências

Málaga - Costa del Sol - Edições Otermin
- Málaga Cathedral - Edições Otermin
- Málaga - Wikipedia
- Pesquisa Gemini e Chat Gpt
- Notas de Viagem
- Fotos HistoriacomGosto e Dreamstime.com

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